Fiz, recentemente, uma longa viagem de carro que tornou-se ainda mais desconfortável porque testemunhei, por mais de uma vez, a venalidade de franja considerável da juventude angolana. Infelizmente, em Angola há, sobretudo na parte feminina, uma juventude completamente perdida. Nesta longa viagem dei boleia a uma menina de 16 anos, recentemente vinda de Angola. Como de hábito, gosto de escutar o noticiário na rádio. Há mesmo vezes que escuto CD's de programas de rádio que vou gravando. A minha companheira circunstancial trazia, também para a viagem, uma caixa de CD’s. Sem me perguntar se eu me importaria com o tipo de música da sua preferência, ela colocou de imediato um disco com música «Kuduru».
Quando os americanos procuravam o antigo ditador do Panamá, Manuel Noriega, que se refugiara na mata, o que eles faziam para forçá-lo a sair dos esconderijos era tocar música Rock muito alta. Isso aborrecia-o profundamente.
O «Kuduru» da menina a quem dei boleia provocou-me os mesmos efeitos. No dia em que os americanos descobrirem o «Kuduru», não tenho dúvida nenhuma que o adoptarão também como instrumento de tortura psicológica. Para mim, o «Kuduru» é simultaneamente monótono e mau.
Depois de alguma hesitação, manifestei à jovem o desconforto que a música dela me provocava. A situação piorou. A alternativa que ela colocou no aparelho quase me enlouqueceu completamente. Era um outro «Kuduru» de uma tal «Gata Agressiva», que dizia, entre outras asneiras, coisas como «Savimbi feio já lhe mataram» ou ainda a «Gata Agressiva vai na roda e faz broche». Só Deus sabe como não enlouqueci ali mesmo, naquele momento!
E, como se não bastasse, a minha companheira, de 16 anos, nascida, por amor de Deus, em 1988, virou-se para mim, que farei, dentro de um mês, 39 anos, e disse: «o tio Jamba sabe o que é fazer broche?». Esta menina poderia, muito bem, ser minha filha!
«Não sei do que é que se trata aqui», respondi, irritadíssimo. E acrescentei: «Olha, conversas deste tipo não devem ser travadas entre gente da minha idade e crianças como tu». O que não fui dizer...
A menina, de 16 anos, exaltou-se e disparou: «o tio é mesmo atrasado. É por isso que a Unita perdeu em 1992 e vai perder mais uma vez. Todos esses anos na Europa e ainda continuas a pensar como se nunca tivesses saído das matas...».
Nesse momento, tive, como se diz, que bater na mesa e dizer à jovem que eu é que estava a fazer o favor de lhe dar boleia e que daí para diante ela que se calasse e se limitasse a ouvir os meus programas, se quisesse continuar a viagem. A outra opção era ficar pelo caminho. No resto do percurso, a pobre menina teve que ouvir (e não deve ter compreendido nada) análises sobre a disputa eleitoral na Ucrânia, o relato da Zoe Esenstein (uma jornalista britânica que trabalha em Angola como correspondente) sobre o combate ao Sida no nosso país, uma análise sobre a possível venda da Ibm a uma empresa chinesa, um debate sobre a identidade africana na África Ocidental, etc. No restante pedaço da viagem, não se ouviu mais nada sobre «Gatas Agressivas» ou «Médicas Malucas» ou ainda de bocas que eram esquadras.
Tenho observado, há já algum tempo, que muitas jovens angolanas não se respeitam. Atentemos só, por exemplo, no fenómeno da «tarrachinha». Em Londres, as discotecas de angolanos sempre acabavam por fechar porque não havia nenhuma sessão de dança de angolanos que não acabasse em pugilato aberto ou – se houvesse cabo-verdianos – na troca de facadas. E qual era a razão que está(va) por detrás de tudo isso? A «tarrachinha». Notei, em várias ocasiões, que quem instiga mais para se dançar a «tarrachinha» é, usualmente, a menininha que vai remexendo de forma tão provocadora e obscena que forçam qualquer pessoa com o mínimo grau de amor-próprio a olhar para um outro lado.
Já estive numa festa – com africanos oriundos de várias partes do continente – onde um casal de angolanos estava a «tarrachar-se» tão obscenamente que alguém se viu na necessidade de oferecer-lhes um alguidar cheio de preservativos. A menina angolana, completamente estúpida e sem capacidade de entender que estavam a ser insultados, abriu um preservativo e soprou-o, como se fosse um balão. Não surpreende que, em muitas festas angolanas na diáspora, haja mesmo avisos para não se trazer crianças para preservar a sua inocência.
Até recentemente, mantive um quarto num apartamento em Barking, uma área a leste de Londres que tem muitos angolanos. Não gosto de ir a festas de angolanos – por causa da desordem de sempre – mas tinha um amigo, amante da poesia de TS Eliot, que fazia anos e a quem eu respeitava bastante. Na festa havia moças jovens do Uganda, Nigéria, Ghana, Quénia etc. Lembro-me que elas passaram a noite a discutir o mérito de várias universidades inglesas.
As angolanas, porém, só passavam a ser o centre of atraction (centro das atenções) quando estavam a praticar o que melhor sabem – a tarrachinha. Com os seus umbigos de fora, biquinis a mostra, com as suas calças justíssimas e a darem «tampas» aos palermas que iam pedir para dançar com elas, essas menininhas, em cujas cabecinhas nada ressoava senão o prazer perverso de causarem erecções a tudo que ainda copula, pensavam que não existia, no mundo, coisa melhor do que elas.
Quem é o responsável por toda esta miséria? Os pais angolanos, sem dúvida! As angolanas perdidas são uma manifestação de lares sem figuras masculinas. As nossas filhas não devem só ser educadas pelas suas mães. Nós, os pais, temos mesmo que participar activamente no crescimento psíquico delas. Toda esta precocidade sexual que vemos nas meninas angolanas decorre do facto de que os mais velhos, os homens, criaram um clima em que elas, as nossas filhas, só podem ser valorizadas em termos sexuais. Não é invulgar, em círculos angolanos, ver um mais velho de sessenta anos, com os olhos fechados e língua de fora, a «tarrachar» uma menininha de treze anos num cantinho de uma farra às três horas da madrugada. Isto não é viver; isto é perversidade. As meninas, por seu turno, estão a clamar ,permanentemente, por uma certa ordem e estrutura. Chegou a altura do pai angolano mostrar o que é, verdadeiramente, ser homem, através do carinho, conselhos e ensinamentos que poderemos dar às nossas filhas. Se não fizermos isto, a «Gata Agressiva» não vai perder tempo em substituir-nos!
Artigo de Opinião, assinado por Sousa Jamba (Publicado no Semanário Angolense)