Moody`s diz que Portugal deve falhar metas do défice e da dívida
A agência de notação financeira Moody's mostra-se pessimista quanto à evolução do défice orçamental de Portugal. Num relatório hoje divulgado, a Moody's considera que, tanto em 2010 como em 2011, a redução do défice ficará aquém dos objectivos definidos pelo Governo português. Já no que respeita à economia as noticias são mistas. A agência prevê para este ano um crescimento inferior em dois décimos ao projectado pelo executivo, mas a previsão para o próximo ano supera em 4 décimos os cálculos do Governo.
No "European Sovereign Outlook", hoje divulgado, a agência de notação financeira prevê, para este ano, um défice superior em 0,2 por cento às previsões do Executivo português e para o próximo ano uma discrepância ainda maior de 2,2 por cento.
Segundo a Moody's o défice português em 2010 deverá ser de 7,5 por cento, (o Governo aponta para 7,3) e para 2011 o défice do nosso país deverá atingir os 6,8 por cento (as previsões do Executivo apontam para 4,6 por cento).
Também a projecção para o peso da dívida pública em percentagem do Produto Interno Bruto se mostra desfavorável para o Governo, com a Moody's a indicar que esta deve atingir os 84,8 por cento em 2010 (a estimativa governamental é de 83,4 por cento) e 89,2 por cento em 2011, (o Governo estima que no ano que vem o peso da dívida pública em percentagem do PIB atinja os 85,9 por cento e se mantenha em 2012).
Crescimento da economia maior em 2011
No que respeita ao comportamento da economia em 2010, a agência de notação financeira aponta para um crescimento económico inferior ao projectado pelo Governo, de 0,5 por cento contra 0,7 do Executivo.
Pelo contrário e para o próximo ano, a estimativa é mais optimista que a do Governo, com a agência de "rating" a apontar para um crescimento de 0,7 por cento, quando o Executivo, na sua mais recente estimativa, prevê apenas um crescimento de 0,3 por cento.
O relatório lembra que a razão principal para o corte em dois níveis do "rating" de Portugal, anunciado pela Moody's a 13 de Julho, foi o enfraquecimento no médio prazo da capacidade financeira do Estado e a crença de que o crescimento económico será relativamente fraco no médio prazo, a menos que as recentes reformas estruturais dêem frutos no médio prazo.
A Moody's perspectiva ainda que estes dois factores juntos deverão levar a uma subida do nível de dívida pública nos próximos anos, e que estes deverão aproximar-se dos 90 por cento (em percentagem do PIB) e dos 210 por cento (em comparação com o nível de receitas).
Moody's explica ajustes nos "ratings"
No seu "European Sovereign Outlook'", a Moody's alerta que a dimensão da correcção nas contas públicas dos vários países europeus deverá ter um efeito negativo no crescimento económico, o que por sua vez deverá ter um efeito negativo nos "ratings" destes países
"Dada a magnitude do desafio orçamental e a necessidade de manter uma rígida politica orçamental durante vários anos, nós concluímos que os riscos para o crescimento económico estão claramente do lado negativo", afirma a agência de notação financeira.
O relatório bi-anual, em que a empresa explica as decisões tomadas nos últimos seis meses ao nível dos "ratings" , sublinha ainda que os ajustamentos económicos e orçamentais serão "difíceis e dolorosos" e menciona Portugal como um dos países que devem sofrer no "rating" a duração do processo de desalavancagem.
"É provável que o processo de desalavancagem tenha apenas começado (...). Estes países (Letónia, Lituânia, Hungria, Grécia, Portugal e Espanha) que estão a sofrer uma desalavancagem persistentemente forte, podem sofrer uma renovada pressão negativa nos seus "ratings" no futuro, dependendo de quanto tempo o processo demorar", diz a agência.
"Um crescimento económico mais reduzido na União Europeia pode ter implicações negativas nos "ratings" de algumas destas economias", acrescenta a Moody's.
A agência aponta que "nos próximos seis a nove meses, pelo menos, o impacto no crescimento será provavelmente negativo (...) A menos que o sector privado consiga recuperar mais rapidamente que o previsto, o endurecimento das políticas orçamentais levará a um menor crescimento económico do que aquele que foi assumido até agora. Dadas as estreitas ligações entre os países da zona euro em particular, a adopção simultânea de tais políticas pode ter um impacto significativo no crescimento".
Relatório elege cortes na despesa como a via a seguirNo entanto, e apesar de considerar que a incerteza na recuperação desta crise económica e financeira é maior que nas anteriores, a Moody's considera "encorajadoras" as recentes medidas tomadas por vários governos da zona euro:
"Reflectem uma atenção especial sobre os cortes na despesa, comparando com as medidas incluídas nos orçamentos de 2010 que foram mais centradas no 'fruto pendurado mais abaixo' dos aumentos de impostos e dos cortes no investimento público", considera.
A este respeito a Moody's considera que "cortes na despesa têm mais probabilidades de gerar uma melhoria duradoura nas contas públicas e uma melhor performance económica do que uma consolidação maioritariamente focada nos aumentos de impostos".