O LEGADO CULTURAL. Cada geração tem o direito de construir a própria cidade, as próprias expressões culturais, os próprios sonhos e ambições, mas respeitando os antecedentes. O respeito inter-geracional é condicionado pelo legado cultural dos adultos. Legado Cultural aqui entendido como o conjunto de práticas e costumes que os mais velhos deixam para os mais novos.
No âmbito político, como avaliar o legado cultural dos mais velhos aos mais jovens? Quê valores, quê paixão política, quê sonhos de transformação para Angola? Cada um de nós é capaz de resposta. Segundo o meu modesto parecer, Angola dos nossos dias está vivendo uma certa apatia política. Se regista um triste desinteresse pelas formas de acção política tradicionalmente conhecidas, que se consubstanciam na filiação partidária consciente, mobilização crítica, busca de melhores soluções para os vários problemas sociais, de modo participativo. Mas os partidos estão perdendo o valor que tinham? Por que razões muitos jovens já não aderem aos partidos políticos? São questões que requerem reflexão conjunta, requerem aprofundamentos contextualizados. De qualquer maneira, cada um nós é capaz de elaborar uma própria idéia. E é o objectivo desta reflexão. Já agora, o que seria de Angola sem os actuais partidos políticos?
SOBRE A POLÍTICA. E’ concepção partilhada, a nível da politologia que, a política é a arte do possível. Nada é impossível para um grupos de homens e mulheres politicamente motivados: isto se chama, “vontade política”. No que tange aos jovens, por muito tempo se afirmava que estes são o futuro de uma nação. Hoje sabemos que a realidade é diametralmente oposta: os jovens são o presente de uma nação. Unindo as duas “variáveis” deste parágrafo, os jovens e a política; quê tipo de política os jovens angolanos conhecem e se empenham a realizar? Em que modo estamos incentivando os jovens a fazerem políticas verdadeiras? Quais são os sonhos que estamos partilhando? Em que direcções estamos endereçando os mais jovens? Com quê meios? Quais são as verdadeiras aspectativas com relação a juventude actual?
Como se diz, os exemplos arrastam, e sinceramente são poucos os exemplos positivos que os "kotas" estão deixando aos demais. Sobre Angola que nós queremos, muito se pode escrever, terabytes de palavras podem ser armazenados, mas o que conta mesmo são os exemplos que hoje damos aos demais. A desilusão é crescente, o mesmo se diga sobre a esperança. Os mais rápidos, mais abençoados pela fortuna, estão conseguindo colher os melhores resultados do actual momento econômico angolano. E os outros?
Estou assustado com um certo amigo que, de Angola, muito mal falava enquanto se encontrava fora a estudar. Hoje voltou para a banda, está podendo, e para a minha maior desilusão: já tem uma casa de primeiro andar, dois carros na garagem, mas pouco ou nada faz pela cidade que o empregou. O que dizer?
SAUDADES DO FUTURO. Tenho uma certa saudade dos tempos de grande paixão política e cultural. Tenho saudade de certos tempos nos quais o ritual das trocas de informações eram preponderantes nas relações humanas; tenho saudades dos confrontos de ideias em modo desinteressado e objectivo, tudo para o bem de Angola. Nos dias que estamos vivendo, é cada vez mais difícil encontrar "amigos" para conversar sobre as várias estradas necessárias para melhorar Angola, sem que se discuta amargamente sobre resultados das acções do Governo. Todos têm a verdade no bolso, mas destas, poucas soluções aplicáveis. Angola real requer maior imaginação, maior ponderação, maiores sonhos, maiores reflexões e não só o sobejo de velhas propagandas anticomunistas.
Neste diapasão político e cultural, declaro aberta a revolução permanente do cidadão. Tudo começa com a mudança de pensamento, de comportamento do cidadão. Tudo começa com a consciencialização do cidadão. O cidadão em particular. Se a força da matilha é o lobo, a força de uma sociedade de direito é o cidadão. Um cidadão informado e formado sobre a sua condição de vida real.
O bem estar de Angola e dos angolanos de hoje e de amanhã, depende indiscutivelmente das pequenas decisões quotidianas. Por exemplo: tu, o que fazes pela Angola dos teus sonhos? O que gostarias de fazer? O que te impede de fazê-lo? Com quem falastes? À qual instituição te dirigistes? As respostas que obtivestes são suficientemente justas? Te convenceram? Angola muda com a mudança de comportamento dos cidadãos. Cada um no seu cantinho, mas o conjunto destes cantinhos constituem uma sociedade, uma cidade, uma província, Angola. Nisto, os partidos políticos em justa interação com a sociedade civil têm muito por fazer. Declaro aberta a revolução permanente do cidadão.
Kambas, "Mbora" a fazer política. Aquela política aplicada à realidade angolana.
Se lestes até aqui, partilha o texto.
Via | FPB aka #Angola2017
Ph. Credito: "Victor Sousa"
SOBRE O AUTOR
Francisco Pacavira Bernardo (FPB) é angolano, jornalista freelancer, especializado em questões de Cooperação internacional e políticas energéticas. De igual modo se destacam as suas intervenções no campo do Strategic marketing management.