O Jornal de Angola é o decano dos órgãos de informação de Angola. Em 8 de Outubro de 1914 nasceu em Luanda um semanário intitulado A Província dirigido por Francisco Pereira Batalha, um jornalista tomado de empréstimo aos Correios e que foi correspondente do então prestigiadíssimo jornal português O Século.
Mas já em 1893 havia surgido em Luanda um semanário com o mesmo nome. Em 16 de Agosto de 1923 nasceu o semanário A Província de Angola, periódico que congregou largos recursos financeiros entre entidades bancárias, empresas agrícolas e abastados comerciantes de Luanda e que foi fundado por Adolfo Pina, o seu primeiro director.
Começou por ser impresso na velha Tipografia Mondego, por trás da Se de Luanda e paredes-meias com o histórico Teatro Providência. A tipografia ainda trabalhava em pleno nos anos 70 do século XX.
No ano seguinte, a 5 de Junho de 1924, o jornal A Província de Angola começou a ser impresso em oficinas próprias com casa de obras e onde ainda hoje funciona. Foi a primeira oficina gráfica criada propositadamente para servir o jornal, que já nesta altura era o que tinha maiores tiragens e o de maior circulação e expansão. Nesta altura o jornal passou a bi-semanário (Agosto de 1924). Menos de um ano depois da sua fundação, o jornal passou a ser o símbolo do jornalismo industrial e o seu quadro redactorial já era profissional.
O jornal A Província de Angola foi subindo passo a passo os degraus do sucesso. A partir de 4 de Outubro de 1926, o periódico deu um dos mais importantes passos no seu percurso, passou a diário da tarde, formato tablóide. Mas a 15 de Agosto de 1933, voltou ao formato clássico e passou a ser um diário da manhã. Nessa altura morreu Adolfo Pina, fundador e director do jornal.
O dia 15 de Agosto era na época o Dia da Cidade de Luanda e, por isso, alguns dos momentos mais marcantes da vida do jornal ocorreram no mês de Agosto, altura em que aconteciam as festas da capital.
A empresa proprietária do jornal foi fundada em 10 de Julho de 1923 com a designação de Empresa Gráfica de Angola, uma sociedade por quotas. Um ano depois, a empresa foi transformada em sociedade anónima e as acções foram subscritas por Adolfo Pina, Banco Nacional Ultramarino (ainda não existia o Banco de Angola), Companhia do Amboim, Companhia Agrícola do Cazengo e os comerciantes Agostinho Borges da Cunha, José Antunes Farinha Leitão e Manuel do Nascimento Pires. Farinha Leitão foi um homem dos negócios mas também de cultura e a ele se deve o monumental edifício da Associação Comercial de Luanda, hoje sede do Ministério das Relações Exteriores. É o mais imponente palácio privado de Angola e mostra o grande poder dos comerciantes de Luanda.
Adolfo Pina nasceu no Porto e embarcou para Angola em 1910, fixando-se em Benguela onde fundou um jornal - O Distrito de Benguela -
e desenvolveu grande actividade jornalística. Casou com uma senhora negra e dela teve uma filha. Já muito doente partiu para Lisboa à procura de remédio para a sua doença. As suas últimas palavras foram: “não deixem morrer o jornal”.
Suplemento cultural
Após a sua morte, o jornal A Província de Angola passou a ser dirigido e administrado pela dupla António Correia de Freitas/Ervedosa e conquistou um lugar ímpar no panorama da imprensa angolana e portuguesa.
O filho de um dos proprietários e administradores, Carlos Ervedosa, nacionalista angolano e que se destacou na edição dos famosos cadernos culturais da Casa dos Estudantes do Império, a partir do início dos anos 60 coordenou e dirigiu um suplemento literário que revelou e divulgou alguns dos mais importantes escritores angolanos.
O grande poeta Jofre Rocha ou o dramaturgo Domingos Van-Dunem são escritores revelados nas páginas do suplemento literário do jornal A Província de Angola. No final dos anos 60, Carlos Ervedosa teve a colaboração directa e permanente do poeta João Abel, recentemente falecido.
No início do ano de 1975, Ruy Correia de Freitas, director do jornal, com a família Ervedosa ausente em Portugal, vendeu o jornal à FNLA, na altura, um dos movimento de libertação signatários do Acordo de Alvor. No dia 30 de Junho de 1975, o Ministério da Informação autorizou a mudança de título e passou a chamar-se Jornal de Angola. O primeiro director da nova série foi Fernando Costa Andrade Ndunduma. Só posteriormente a empresa proprietária foi constituída com a designação social de Edições Novembro EP. O actual presidente do conselho de administração e director é o jornalista José Ribeiro. Com o “Província de Angola” nasceu a imprensa industrial, com oficinas gráficas próprias e um corpo redactorial profissional, constituído por jornalistas angolanos e portugueses. Carlos Ervedosa e o Chefe de Redacção, Jaime de Figueiredo, eram angolanos e oriundos de famílias tradicionais africanas. Nos seus melhores anos, o jornal atingiu tiragens na ordem dos 30.000 exemplares. Hoje o Jornal de Angola tira uma média de 40.000 exemplares e a tendência é de subida.
Ambiente da Imprensa
Nos anos 30, nasceu o vespertino “Diário de Luanda”, com capitais da União Nacional, o partido único do regime colonial-fascista português. Na década seguinte, surgiu nas bancas o jornal “O Comércio”, ligado ao industrial e banqueiro português António Champallimaud. Na mesma altura nasceu o “Jornal de Angola”, um órgão de Informação nacionalista e cujo corpo redactorial era exclusivamente composto por angolanos.
Neste jornal, de grande importância no movimento intelectual “Vamos Descobrir Angola”, revelaram-se nomes como o repórter e cronista Ernesto Lara Filho, os poetas Viriato da Cruz e Mário António ou o ensaísta Mário Pinto de Andrade.
O jornal foi fechado nos finais dos anos 50 às ordens da PIDE, a polícia política do regime.
Os anos 50 testemunharam o nascimento de mais um jornal da tarde, o “ABC” de tendência claramente oposicionista ao regime fascista e colonialista de Salazar. Era defensor do nacionalismo angolano.
O fundador foi Machado Saldanha e pela sua Redacção passaram figuras do jornalismo angolano como Ernesto Lara Filho, Acácio Barradas, Bobela Mota.
No final dos anos 50 surgiu nas bancas a revista “Notícia”, dirigida por um jornalista angolano, João Charula de Azevedo. Em breve se tornou um dos mais importantes órgãos da Imprensa Angolana.No Lobito, ainda no final dos anos 50, nasceu o primeiro jornal diário fora de Luanda, o “Diário O Lobito”, dirigido por Mimoso Moreira.
Estes são os principais títulos da Imprensa, até ao ano de 1975, ano da Independência Nacional, a 11 de Novembro. As tiragens eram diminutas.
O jornal “A Província de Angola” nunca passou os 30. 000 exemplares diários. E a revista “Notícia” nunca chegou sequer aos 30 000 exemplares semanais.
O diário da tarde de maior tiragem, “Diário de Luanda”, tirava entre os 18 000 e os 20 000 exemplares, salvo no ano de 1975 que atingiu tiragens na ordem dos 40 000 exemplares. Lugar de liderança O Jornal de Angola é hoje o único jornal diário generalista e a “jóia” da Empresa Edições Novembro, que também edita o diário desportivo “Jornal dos Desportos” e o semanário “Jornal de Economia & Finanças”.
A empresa está em grande expansão técnica e editorial. Tem dois centros de produção em Luanda, Cuca e Viana, e pretende criar centros gráficos provinciais que vão permitir lançar edições locais e servir de mola impulsionadora à imprensa regional.
A política editorial do jornal aposta na informação regional. Essa estratégia, iniciada há cerca de quatro anos tem dado resultados muito positivos. Até ao início da direcção de José Ribeiro, o material informativo das províncias era diminuto. Hoje representa 5.000 notícias e reportagens por ano.Neste período, jornalistas ao serviço da empresa conquistaram prémios nacionais e provinciais de jornalismo.
A empresa fez uma aposta forte na qualificação dos seus jornalistas, criando um Gabinete de Formação Permanente que garante ciclos formativos nas províncias.
Via | JA 26 de Junho, 2011