sábado, junho 16, 2012

Polícia Nacional Angola (PIR): A prontidão de uma unidade constituída por voluntários

Luanda | JA - Dentro de uma casa, quatro terroristas mantêm refém um cidadão, a quem ameaçam matar, apesar da tentativa de negociação por parte de oficiais da Polícia de Intervenção Rápida (PIR). Na iminência da execução do indivíduo cativo, quatro franco-atiradores posicionam-se em locais estratégicos e, com disparos simultâneos, eliminam os sequestradores. Alegre, o homem abraça os atiradores de elite.
A simulação, realizada no passado dia 4, no autódromo de Luanda, mostra uma das especialidades da PIR, que nessa data completou o seu 20º aniversário. Esta força especializada da Polícia Nacional foi criada em 1992, por ocasião da visita do Papa João Paulo II a Angola.
Na ocasião, os efectivos da PIR realizaram quatro simulações, todas acompanhadas com a máxima atenção por um grupo de convidados VIP, de que faziam parte o vice-ministro do Interior para os Bombeiros e Protecção Civil, Eugénio Laborinho, e o comandante-geral da Polícia Nacional, comissário-geral Ambrósio de Lemos.
Em duas décadas, este efectivo, a que o povo começou por chamar “ninjas”, por causa do tom escurso da farda, “evoluiu bastante, em termos de meios técnicos e humanos e tem mantido um estado de prontidão à altura das exigência da sociedade”, como disse, a propósito do seu aniversário, o o comandante-geral da Polícia Nacional.
Hoje, integram a PIR as unidades Anti-Terrorismo (UAT), Anti-Distúrbios (UAD) e de Veículos Blindados (UVB). “Evoluímos muito ao nível das unidades e forças e em meios técnicos indispensáveis para as nossas missões. Portanto, hoje temos uma capacidade operativa nacional quase que invulgar”, disse Ambrósio de Lemos.
Após as simulações realizadas no autódromo de Luanda, o comandante da UAT, superintendente-chefe Mário Queirós, denotava orgulho nos seus homens. “Confio no meu efectivo”, afirmou.
“Crescemos paulatinamente ao longo destes anos, fruto da perspicácia, empenho e vontade dos operacionais e comandantes”, acrescentou Mário Queirós.

“Nesta Unidade todos são voluntários, por isso, temos meio caminho andado para o êxito das missões que nos têm sido atribuídas. Mas o segredo destas forças consiste no treino intensivo, normalmente a formação básica é de seis meses e, com a especialidade, temos um homem operacional em um ano”, garantiu.
O comandante da UAT adiantou que as actividades operacionais daquela unidade especializada são planificadas, com o desenho de vários cenários da realidade do país e da região onde podem ser chamados a intervir, afim de que, no terreno, as missões sejam executas com perfeição.
“Quando os nossos operativos são tirados de casa, eles não devem dar informações sobre a missão que vão efectuar e muitas vezes treinamos simulações sem saberem que depois terão uma missão”, frisou.
Ainda na parada que antecedeu as simulações no acto central das comemorações do 20 aniversário da PIR foi possível divisar um grande número de mulheres entre o efectivo e quando os exercícios começaram, pôde ver-se o seu grau de eficiência.


Elas são eficientes
O comandante da UAT afirmou que, na PIR, o género é respeitado e as mulheres realizam o mesmo trabalho que os homens. “O plano de preparação e de selecção dos efectivos é o mesmo para todos, nas mesmas circunstâncias, sem descriminação”, frisou.
Mário Queirós referiu que, na Unidade Anti-Terrorista, as mulheres têm, também, cargos de chefia. “Temos oficiais operativas, subchefes e agentes e, quando chamadas para realizar uma operação, elas fazem-no com muita categoria, tal como os homens”, disse.
Claudeth Isabel é uma das mulheres que integram a UAT e pertence a um grupo de referência desta unidade: é atiradora de elite. Com três cursos realizados na especialidade, diz-se pronta para qualquer missão. “Sinto-me orgulhosa por fazer parte do efectivo das forças especiais da Polícia Nacional. Estou ciente de que, em algumas ocasiões, temos de fazer o reforço da protecção de instalações estratégicas, assim como garantir a segurança de altas entidades”, ­disse a jovem.
Para Rosa Alexandrina, outra operacional desta unidade, “no princípio, não foi fácil. Os treinos eram muito intensivos e duros, pensei em desistir. Mas depois habituei-me à rotina e até hoje estou aqui.”
Como membros das forças especiais da Polícia Nacional, têm uma vida diferente, por estarem sempre em prontidão.
“Se antes estávamos de mãos dadas com as Forças Armadas na conquista da paz e garantia da integridade territorial, hoje, as nossas atenções estão viradas para a sua tradicional missão de banir distúrbios e outras acções que perturbem a ordem pública e tranquilidade”, referiu. O seu sentido de disciplina vai para além da farda e reflecte-se mesmo no relacionamento com a família.
“Como esposa e mãe, sou muito exigente comigo mesma e os meus filhos sabem que deve haver  tudo em ordem. E quando uma ordem é dada, deve ser cumprida”, afirma. Teresa Reconde é terceira subchefe. Está há 13 anos na PIR.  Como as companheiras, reconhece que os primeiros tempos foram os mais difíceis, por serem de instrução intensiva, com treinos diários exigentes para um efectivo especial da Polícia Nacional.
“Nesta especialidade, tudo depende de nós. Quando estamos em acção, não somos a mesma pessoa que conhecem em casa. Somos mais rigorosas, porque o trabalho assim exige”, explicou.
Juliana da Silva está na PIR há 14 anos e diz que hoje se sente uma mulher realizada em termos profissionais. Todos os colegas, disse, respeitam as mulheres polícias, porque “em termos de acção, fazemos as mesmas coisas como membros da família UAT”.


Nível de escolaridade
O superintendente-chefe Mário Queirós afirmou que a disciplina no seio dos efectivos está a um nível bastante aceitável, resultado do aumento do nível de escolaridade por parte dos mesmos. Num dado momento, verificou-se que o nível de escolaridade era baixo, o que fazia com que houvesse situações de indisciplina.
“A partir do momento em que iniciamos a alfabetização do efectivo, passando do primeiro para o segundo ciclo de escolaridade dentro das unidades, vimos melhorias no comportamento dos nossos homens”, disse.
João Matoso, segundo comandante da UAT, conta que, por estar diariamente na unidade, a profissão tornou-se como sua “esposa”. “O convívio entre colegas é tão salutar porque somos uma família unida em todos os sentidos”, referiu.
Proveniente do terceiro curso de Intervenção Rápida, entrou na unidade ainda muito jovem e os conselhos dos colegas mais experientes ajudaram-no a continuar na Polícia. O efectivo tem a consciência de que a profissão é de alto risco, mas “fomos treinados para este fim”, acrescentou.
“O país vai realizar eleições, pela terceira vez na sua história. Como eleitores, também seremos chamados para garantir a segurança neste processo eleitoral.
Como força da ordem e tranquilidade pública, estamos prontos para esse trabalho”, garantiu. Desde criança, disse, teve uma paixão pelas forças especiais e quando soube que a Polícia tinha uma força dessa natureza, alistou-se.
Para ele, a rotina de um operacional da UAT é intensiva porque, de segunda a sexta-feira, têm preparação para estarem prontos para cumprir as ordens do seu comandante.
“Aqui, nós temos um lema: missão dada é missão cumprida, o que faz com que todos os efectivos desta unidade dêem o máximo para estar na elite destas forças especiais operacionais da Polícia Nacional”, disse.

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