ZENIT
O mundo visto de Roma
Serviço diario - 01 de janeiro de 2009
SANTA SÉ
Papa convida a combater pobreza imoral com pobreza evangélica
Bento XVI dedica sua última reflexão de 2008 aos jovens
Papa: ver novo ano sem medo, apesar da crise
Bento XVI pede fim da violência na Terra Santa
Moçambique: nomeado bispo de Lichinga
ANGELUS
Bento XVI: com graça de Deus, futuro pode ser melhor que passado
DOCUMENTAÇÃO
Bento XVI: Existe uma pobreza que ofende a dignidade do homem
ANÚNCIOS
DVD: "Tu és Pedro - Bento XVI e as Chaves do Reino" - Edição especial
LIVRO: "João Paulo II Peregrino do Mundo"
Papa convida a combater pobreza imoral com pobreza evangélica
Explica a diferença entre a pobreza «escolhida por Deus» e a pobreza «que Deus não quer»Por Inma Álvarez
CIDADE DO VATICANO, quinta-feira, 1 de janeiro de 2009 (ZENIT.org).- O Papa exortou o mundo hoje a combater a pobreza que ofende a dignidade do homem através da sobriedade e da solidariedade, fruto da pobreza evangélica que Jesus escolheu ao se fazer homem.
Bento XVI dedicou hoje sua homilia da Missa da Solenidade de Maria Santa Mãe de Deus, na presença do Corpo Diplomático acreditado na Santa Sé, como é tradição neste dia, a recordar sua Mensagem por ocasião do Dia Mundial da Paz deste ano: Combater a pobreza, construir a paz.
Em sua intervenção, explicou que existe uma distinção entre uma pobreza evangélica e uma pobreza que Deus não deseja, e convidou a todos a combater a segunda através da primeira.
Em relação à primeira forma de pobreza, o Papa explicou que Jesus, ao fazer-se homem quis ser também pobre. «Eis a resposta: o amor por nós levou Jesus não somente a fazer-se homem, mas a fazer-se pobre» – acrescentou.
Contudo, existe «há uma pobreza, uma indigência, que Deus não quer e que é ‘combatida’», afirmou; «uma pobreza que impede às pessoas e às famílias de viverem segundo sua dignidade; uma pobreza que ofende a justiça e a igualdade e que, como tal, ameaça a convivência pacífica».
Esta pobreza, centro da mensagem para o Dia Mundial da Paz deste ano, não só é material, revelou, mas «cabem também as formas de pobreza não material que se reencontram justamente nas sociedades ricas e progredidas: marginalização, miséria relacional, moral e espiritual».
Esta pobreza em grande escala, que se reflete em «pragas difundidas quais doenças pandêmicas , a pobreza das crianças e a crise alimentar», e que o pontífice relacionou com o fenômeno da globalização, requer que as nações «mantenham alto o nível da solidariedade».
Em particular, o Papa denunciou a corrida armamentista que tem acontecido nos últimos anos, que definiu como «inaceitável» e «contrária aos Direitos Humanos».
Diante dessa situação, afirma que a atual crise econômica supõe «um banco de provas: estamos prontos para lê-la, em sua complexidade, como desafio para o futuro e não só como uma emergência a qual dar resposta a curto prazo? Estamos dispostos a fazermos juntos uma revisão profunda do modelo de desenvolvimento dominante, para corrigi-lo de modo certo e a longo prazo?»
«Exigem isso, na verdade, mais ainda que as dificuldades financeiras imediatas, o estado de saúde ecológica do planeta e, sobretudo, a crise cultural e moral, os quais sintomas há tempos são evidentes em cada parte do mundo», acrescentou.
O bispo de Roma convidou a que se estabeleça um «círculo virtuoso» entre a pobreza que se deve escolher, e a pobreza que deve ser combatida: «para combater a pobreza iníqua, que oprime tantos homens e mulheres e ameaça a paz de todos, ocorre redescobrir a sobriedade e a solidariedade, como valores evangélicos e, ao mesmo tempo, universais», explicou.
«Não se pode combater eficazmente a miséria, se não se faz aquilo que escreve São Paulo aos Coríntios, isto é, se não se busca fazer ‘igualdade’, reduzindo o desnível entre quem gasta o supérfluo e quem passa falta do necessário», afirmou.
Esta pobreza evangélica, que como voto está reservada somente a alguns, recorda a todos «a exigência do desapego dos bens materiais e a primazia das riquezas do espírito», explicou o pontífice.
«A pobreza do nascimento de Cristo em Belém, além de objeto de adoração para os cristãos, é também escola de vida para cada homem. Essa nos ensina que para combater a miséria, tanto material quanto espiritual, o caminho a percorrer é o da solidariedade, que levou Jesus a partilhar nossa condição humana», concluiu.
Por fim, o Papa explicou que o mundo novo trazido por Cristo consiste em uma revolução pacífica, não ideológica, mas espiritual, não utópica, mas real, e por isso «necessita de infinita paciência, de tempos, muitas vezes, muito longos, evitando qualquer atalho e percorrendo a via mais difícil: a via do amadurecimento das responsabilidades nas consciências».
«Esta é a via evangélica para a paz, a via que também o Bispo de Roma é chamado a reforçar com constância cada vez que põe as mãos na anual Mensagem para o Dia Mundial da Paz», acrescentou.
Bento XVI dedica sua última reflexão de 2008 aos jovens
Pede que não tenham medo de se opor à mentalidade hedonista atualPor Inma Álvarez
CIDADE DO VATICANO, quinta-feira, 1 de janeiro de 2009 (ZENIT.org).- O Papa Bento XVI dedicou aos jovens suas últimas reflexões de 2008, durante a celebração das Primeiras Vésperas da Solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus e o solene Te Deum, de ação de graças.
O Papa quis dedicar aos jovens, da mesma forma que na Noite de Natal falou sobre as crianças, esta última reflexão do ano, e lhes pediu que não tenham dúvida em escolher um «estilo de vida que não siga a mentalidade hedonista atual».
«A sociedade necessita de cidadãos que não se preocupem só com seus próprios interesses, porque, como recordei no dia de Natal, ‘o mundo irá à ruína se cada um pensar só em si mesmo’», afirmou o Papa.
Por outro lado, pediu-lhes generosidade na hora de responder ao chamado divino, a não ter medo da tarefa apostólica que o Senhor lhes confia. «As crescentes necessidades da evangelização requerem numerosos trabalhadores na vinha do Senhor: não tenhais dúvida em responder-Lhe com prontidão se Ele vos chama».
«O Espírito Santo vos assegura a força necessária para dar testemunho da alegria da fé e da beleza de serem cristãos», acrescentou.
Dirigiu-se também aos pais dos jovens, e pediu que dêem testemunho às novas gerações «da alegria que brota do encontro com Jesus, o qual, nascendo em Belém, não veio nos tirar algo, mas para nos dar tudo».
Os jovens, explicou o Papa, levam em seu coração a pergunta sobre o sentido da existência humana, e louvou uma iniciativa realizada na diocese de Roma por grupos de pais que «buscam novos caminhos para ajudar os próprios filhos a responder às grandes questões existenciais».
Enfrentar os desafios atuais
Em sua saudação também à diocese de Roma, o Papa reforçou a necessidade de «formar agentes pastorais» que «possam enfrentar os desafios que a cultura moderna apresenta à fé cristã».
Convidou especialmente a responderem «à atual situação de emergência educativa», mediante uma maior presença nesse campo, e especialmente, mediante uma sinergia maior entre as famílias, a escola e as paróquias para uma evangelização profunda e para uma animada promoção humana, capazes de comunicar ao maior número de pessoas possível, a riqueza que brota do encontro com Cristo».
«O encontro com Cristo, vocês sabem bem, renova a existência pessoal e lhes ajuda a contribuir na construção de uma sociedade justa e fraterna. É por isso que, como crentes, podemos dar uma grande contribuição também para superar a atual emergência educativa», acrescentou, precisamente porque «a presença de Cristo é um dom que devemos saber partilhar com todos».
«A presença de numerosas e qualificadas instituições acadêmicas em Roma e as muitas iniciativas promovidas pelas paróquias nos fazem ver com confiança o futuro do cristianismo nesta cidade».
Refletindo também sobre o significado da solenidade de Maria Mãe de Deus, o Papa explicou que a «a própria Virgem nos recorda que grande presente nos fez Jesus com seu nascimento, que precioso tesouro constitui para nós sua Encarnação».
«Vindo ao mundo, o Verbo eterno do Pai nos revelou a proximidade de Deus e a verdade última sobre o homem e sobre seu destino eterno; veio ficar conosco para ser nosso apoio insubstituível, especialmente nas inevitáveis dificuldades de cada dia», acrescentou.
Ao mesmo tempo, convidou os fiéis a agradecerem pelo ano que se encerra, em louvor e ação de graças «Àquele que nos dá o dom do tempo, oportunidade preciosa de fazer o bem; unamos o pedido de perdão por não tê-lo talvez empregado sempre de maneira útil».
O Papa concluiu que no Natal «Jesus vem oferecer sua Palavra como lâmpada que guia nossos passos; vem para oferecer-se a si mesmo e dele, nossa esperança certa, devemos saber dar razão de nossa existência cotidiana, conscientes de que somente no mistério do Verbo encarnado encontra verdadeira luz no mistério do homem».
Papa: ver novo ano sem medo, apesar da crise
«A esperança da vida eterna nos ajuda a enfrentar as dificuldades», afirmou.Por Inma Álvarez
CIDADE DO VATICANO, quinta-feira, 1 de janeiro de 2009 (ZENIT.org).- O Papa Bento XVI convidou os cristãos a «não ter medo», apesar das dificuldades que se apresentam no novo ano de 2009, ontem, durante sua intervenção por ocasião das Primeiras Vésperas da Solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus e do Te Deum de ação de graças pelo ano de 2008, na Basílica de São Pedro.
«Este ano se encerra com a consciência de uma crise econômica e social crescente, que interessa já ao mundo inteiro», afirmou o Papa, mas acrescentou que «ainda que no horizonte vão aparecendo não poucas sombras em nosso futuro, não devemos ter medo».
O Papa recordou aos cristãos que «nossa grande esperança como crentes é a vida eterna na comunhão de Cristo e de toda família de Deus. Esta grande esperança nos dá a força de enfrentar e de superar as dificuldades da vida neste mundo».
«O ano que termina e o que se anuncia no horizonte estão ambos postos sob o olhar benedicente da Santíssima Mãe de Deus», acrescentou, e convidou aos presentes a dirigirem-se a Nossa Senhora nas dificuldades.
«A presença maternal de Maria nos assegura esta noite que Deus não nos abandona nunca, se nos entregamos a Ele e seguimos seus ensinamentos. A Maria, portanto, com filial afeto e confiança, apresentamos as esperanças e desejos, como também os temores e as dificuldades que levamos no coração, enquanto nos despedimos de 2008 e nos preparamos para acolher 2009», acrescentou.
«Nestes nossos tempos, marcados pela insegurança e a preocupação pelo futuro, é necessário experimentar a presença viva de Cristo. É Maria, Estrela da esperança, quem nos conduz a Ele».
Por outro lado, o Papa afirmou que a presente crise «pede a todos mais sobriedade e solidariedade para vir em ajuda, especialmente das pessoas e das famílias com dificuldades mais sérias».
«A comunidade cristã já está se empenhando, e sei que a Cáritas diocesana e as demais organizações beneficentes fazem o possível,
Bento XVI pede fim da violência na Terra Santa
Mostra sua proximidade especial aos fiéis da paróquia de GazaPor Inma Álvarez
CIDADE DO VATICANO, quinta-feira, 1 de janeiro de 2009 (ZENIT.org).- O Papa dedicou o final da homilia de hoje, Dia Mundial da Paz, a mostrar sua proximidade aos cristãos da Terra Santa e a implorar a paz para esta região, diante da situação de violência que vive nas últimas semanas.
Em relação ao tema de sua mensagem para o Dia de Hoje, Combater a pobreza, construir a paz, ao qual dedicou sua reflexão principal na homilia da missa, o Papa explicou que combater e vencer a pobreza é uma necessidade para se construir a verdadeira paz.
O pontífice deplorou a intensa violência desatada na faixa de Gaza, «em resposta a outra violência», e afirmou que também a violência, também o ódio e a desconfiança são formas de pobreza, «talvez maiores», que devem ser combatidas.
O Papa mostrou seu convencimento do «profundo desejo de viver em paz» que está no coração da grande maioria dos israelenses e palestinos, em perigo por causa da violência.
Neste sentido, expressou também a fundada esperança de que, com a sábia e prévia contribuição de todos, não será impossível escutar, ir ao encontro e dar respostas concretas ao desejo de «viver em paz, em segurança e dignidade» desses povos.
Em particular, recordou especialmente os pastores dessas Igrejas, «que nesses dias tristes levantaram suas vozes», e seus fiéis, especialmente os da «pequena mas fervorosa paróquia de Gaza».
Junto a eles, o Papa quis colocar «aos pés de Maria as preocupações pelo presente e os temores pelo futuro», e pediu a intercessão da Virgem para que «obtenha de Deus o dom da paz para a Terra Santa e para toda a humanidade».
Esta nova intervenção em favor da paz no Oriente Médio é somada ao apelo, feito durante a oração do Ângelus no dia 28 de dezembro passado, para que a comunidade internacional intervenha para favorecer o diálogo entre palestinos e israelenses.
O Papa pediu para que não se deixem de tentar alguma via para ajudar os israelenses e palestinos a saírem desse beco escuro e a não resignarem-se à lógica perversa do confronto e da violência.
Moçambique: nomeado bispo de Lichinga
CIDADE DO VATICANO, quinta-feira, 1 de janeiro de 2008 (ZENIT.org).- No último dia 30 de dezembro, o Santo Padre nomeou como bispo de Lichinga, em Moçambique, o Pe. Elio Greselin, S.C.J., atual provincial dos padres Dehonianos no país africano, conforme informa a Sala de Imprensa da Santa Sé.
O Pe. Elio Greselin, S.C.J., nasceu em 15 de novembro de 1938 em Tretto di Venza, diocese de Vicenza (Itália). Estudou filosofia e teologia no Seminário da Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus (Dehonianos) em Monza e Bolonha. Emitiu a profissão religiosa em 29 de setembro de 1956 e foi ordenado sacerdote em 23 de junho de 1965, em Bolonha.
Depois da ordenação foi estudar a língua portuguesa em Lisboa, até 1966. Desse mesmo ano, até 1975 foi formador dos jovens seminaristas no Seminário Menor de sua Congregação em Milevane/Zambezia, já em Moçambique.
Em 1975 retornou à Itália, onde se tornou o encarregado pela formação no seminário maior da província Dehoniana de Bolonha. Em 1991 retorna a Moçambique como mestre de noviços em Gurué.
Em 1996 inicia seu apostolado missionário em Alto Molócue e Gilé, na região de Zambezia e em 2004 se tornou o superior provincial dos Padres Dehonianos em Moçambique, com sede em Quelimane. Desde 2007 é Colaborador do Mestre de Noviços em Gurué.
Bento XVI: com graça de Deus, futuro pode ser melhor que passado
Intervenção por ocasião da oração mariana do Ângelus no Dia Mundial da PazCIDADE DO VATICANO, quinta-feira, 1 de janeiro de 2009 (ZENIT.org).- Publicamos a seguir a intervenção realizada hoje por Bento XVI antes de rezar a oração do Ângelus, no final da missa na Solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus, no 42° Dia Mundial da Paz.
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Caros irmãos e irmãs!
Neste primeiro dia do ano, sou grato em dirigir a todos vós, presentes na Praça de São Pedro, e a quantos que estão conosco conectados mediante o rádio e a televisão, os mais calorosos desejos de paz e de todo bem. São desejos que a fé cristã torna, por assim dizer, «confiáveis», ancorando-lhes ao acontecimento que nestes dias estamos celebrando: a Encarnação do Verbo de Deus, nascido da Virgem Maria. De fato, com a graça do Senhor – e só com ela – podemos sempre, novamente, esperar que o futuro seja melhor que o passado. Não se trata, de fato, de confiar em uma sorte mais favorável, ou nas modernas intervenções do mercado e da finança, mas de se esforçar para ser nós mesmos um pouco melhores e responsáveis, para poder contar com a benevolência do Senhor. E isto é sempre possível, porque «Deus falou a nós por meio do Filho» (Hb 1, 2) e continuamente nos fala, mediante a pregação do Evangelho e mediante a voz de nossa consciência. Em Jesus Cristo foi mostrada a todos os homens o caminho da salvação, que é, antes de tudo, uma redenção espiritual, mas que envolve inteiramente o humano, compreendendo também a dimensão social e histórica.
Por isso, enquanto celebra a divina Maternidade de Maria Santíssima, a Igreja, neste que, há 40 anos, é o Dia Mundial da Paz, indica a todos Jesus Cristo qual Príncipe da paz. Segundo a tradição iniciada pelo servo de Deus Papa Paulo VI, escrevi para tal circunstância uma especial Mensagem, elegendo o tema: Combater a pobreza, construir a paz. Desse modo, desejo uma vez mais colocar-me em diálogo com os responsáveis das Nações e dos Organismos internacionais, oferecendo a contribuição da Igreja católica pela promoção de uma ordem mundial digna do homem. No início do novo ano, meu primeiro objetivo é justamente aquele de convidar a todos, governantes e simples cidadãos, a não desencorajarem-se frente às dificuldades e às falhas, mas de renovar seu empenho. A segunda parte de 2008 fez imergir uma crise econômica de vastas proporções. Tal crise é lida em profundidade, como um sintoma grave que requer intervir sobre as causas. Não basta – como diria Jesus – colocar remendos novos sobre uma roupa velha (cf. Mc 2, 21). Colocar os pobres em primeiro lugar significa passar decididamente àquela solidariedade global que João Paulo II já tinha indicado como necessária, concertando as potencialidades do mercado com aquelas das sociedades civis (cf. Mensagem, 12), no constante respeito à legalidade e tendendo sempre ao bem comum.
Jesus Cristo não organizou campanhas contra a pobreza, mas anunciou aos pobres o Evangelho, para um resgate integral da miséria moral e material. O mesmo faz a Igreja, com sua obra incessante de evangelização e promoção humana. Invocamos a Virgem Maria, Mãe de Deus, para que ajude a todos os homens a caminharem juntos sobre o Caminho da paz.
[Traduzido do original em italiano por José Caetano]
© 2009 Libreria Editrice Vaticana
Bento XVI: Existe uma pobreza que ofende a dignidade do homem
Homilia do Dia Mundial da PazCIDADE DO VATICANO, quinta-feira, 1 de janeiro de 2009 (ZENIT.org).- Publicamos a seguir a homilia pronunciada hoje pelo Papa durante a Missa da Solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus, Dia Mundial da Paz, celebrada na Basílica de São Pedro.
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Venerados Irmãos,
Senhores embaixadores,
caros irmãos e irmãs!
No primeiro dia do ano, a divina Providência nos reúne para uma celebração que toda vez comove pela riqueza e a beleza de sua correspondência: o início do ano civil se encontra com o cume da oitava de Natal, no qual se celebra a Divina Maternidade de Maria, e este encontro encontra uma síntese feliz no Dia Mundial da Paz. Na luz do Natal de Cristo, sou grato em dirigir para todos os melhores desejos para o ano que acabou de iniciar. Faço-o, em particular, ao Cardeal Renato Raffaele Martino e a seus colaboradores do Pontifício Conselho «Justiça e Paz», com especial reconhecimento por seu precioso serviço. Faço-o, ao mesmo tempo, ao Secretário de Estado, Cardeal Tarcisio Bertone, e a toda Secretaria de Estado; como também, com viva cordialidade, aos Senhores Embaixadores presentes hoje em grande número. Os meus votos fazem eco ao desejo que o próprio Senhor há pouco nos dirigiu, na liturgia da Palavra. Uma Palavra que, a partir do acontecimento de Belém, reinvocado em sua certeza histórica pelo Evangelho de Lucas (2, 16-21), e relido em todo seu significado salvífico pelo apóstolo Paulo (Gl 4, 4-7), torna-se bênção para o povo de Deus e para toda humanidade.
Chega assim ao cumprimento a antiga tradição hebraica da bênção (Nm 6, 22-27): os sacerdotes de Israel abençoavam o povo «colocando sobre ele o nome» do Senhor. Com uma fórmula ternária – presente na primeira leitura – o sacro Nome era invocado por três vezes sobre os fiéis, qual auspício de graça e de paz. Este costume remoto nos leva a uma realidade essencial: para poder caminhar sobre a via da paz, os homens e os povos têm necessidade de serem iluminados pela «face» de Deus e serem abençoados por seu «nome». Justamente isso se realiza definitivamente com a Encarnação: a vinda do Filho de Deus em nossa carne e na história trouxe uma irrevogável bênção, uma luz que já não se apaga e que oferece aos crentes e aos homens de boa vontade a possibilidade de construir a civilização do amor e da paz.
O Concílio Vaticano II disse, a esse respeito, que «com a Encarnação o Filho de Deus se uniu, de certo modo, a cada homem» (Gaudium et spes, 22). Esta união veio a confirmar o projeto originário de uma humanidade criada à «imagem e semelhança» de Deus. Na verdade, o Verbo encarnado é a única imagem perfeita e consubstancial do Deus invisível. Jesus Cristo é o homem perfeito. «Nele – observa ainda o Concílio – a natureza humana foi assumida…, por isso mesmo foi também em nós alçada a uma dignidade sublime» (ibid.). Por isso, a história terrena de Jesus, culminada no mistério pascal, é o início de um mundo novo, porque realmente inaugurou uma nova humanidade, capaz, sempre e só com a graça de Cristo, de realizar uma «revolução» pacífica. Uma revolução não ideológica, mas espiritual, não utópica, mas real, e por isso necessita de infinita paciência, de tempos, muitas vezes, muito longos, evitando qualquer atalho e percorrendo a via mais difícil: a via do amadurecimento das responsabilidades nas consciências.
Caros amigos, esta é a via evangélica para a paz, a via que também o Bispo de Roma é chamado a reforçar com constância cada vez que põe as mãos na anual Mensagem para o Dia Mundial da Paz. Percorrendo esta estrada ocorre muitas vezes de se voltar sobre aspectos e problemáticas já afrontadas, mas tão importantes que requerem sempre nova atenção. É o caso do tema que escolhi para a Mensagem deste ano: Combater a pobreza, construir a paz. Um tema que se presta a uma dupla ordem de considerações, que agora posso só brevemente acenar. De um lado a pobreza escolhida e proposta por Jesus, de outro lado, a pobreza a se combater para tornar o mundo mais justo e solidário.
O primeiro aspecto encontra seu contexto ideal nestes dias, no tempo de Natal. O nascimento de Jesus em Belém nos revela que Deus escolheu a pobreza para si mesmo em sua vinda a nosso meio. A cena que os pastores viram por primeiro, e que confirmou o anúncio feito a eles pelo anjo, é o de um estábulo onde Maria e José tinham procurado refúgio, e de uma manjedoura na qual a Virgem tinha depositado o Recém-nascido envolto em faixas (cf. Lc 2,7.12.16). Esta pobreza Deus escolheu. Quis nascer assim – mas podemos rapidamente acrescentar: quis viver, e também morrer assim. Por que? É o que explica em termos populares Santo Afonso Maria de Ligório, em um cântico natalício, que todos na Itália conhecem: «A Vós, que sois do mundo o Criador, faltam vestes e fogo, ó meu Senhor. Caro menino eleito, quanto esta pobreza mais me apaixona, já que vos fizestes pobre também de amor». Eis a resposta: o amor por nós levou Jesus não somente a fazer-se homem, mas a fazer-se pobre. Nesta mesma linha podemos citar as expressões de São Paulo na segunda Carta aos Coríntios: «Conheceis, de fato – ele escreve – a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo: de rico que era, fez-se pobre por vós, para que vós vos tornásseis ricos por meio de sua pobreza» (8,9). Testemunho exemplar desta pobreza escolhida por amor é São Francisco de Assis. O franciscanismo, na história da Igreja e da civilização cristã, constitui uma difundida corrente de pobreza evangélica, que tanto bem fez e continua a fazer à Igreja e à família humana. Retornando à estupenda síntese de São Paulo sobre Jesus, é significativo – também para nossa reflexão de hoje – que tenha sido inspirada ao Apóstolo justamente enquanto estava exortando os cristãos de Corinto a serem generosos na coleta em favor dos pobres. Ele explica: «Não se trata de colocar vós em dificuldade para ajudar os outros, mas que haja igualdade» (8,13).
É este ponto decisivo, que nos faz passar ao segundo aspecto: há uma pobreza, uma indigência, que Deus não quer e que é «combatida» – como diz o tema da atual Jornada Mundial da Paz; uma pobreza que impede às pessoas e às famílias de viverem segundo sua dignidade; uma pobreza que ofende a justiça e a igualdade e que, como tal, ameaça a convivência pacífica. Nesta acepção negativa cabem também as formas de pobreza não material que se reencontram justamente nas sociedades ricas e progredidas: marginalização, miséria relacional, moral e espiritual (cf. Mensagem para a Jornada Mundial da Paz 2008, 2). Em minha Mensagem quis mais uma vez, sobre a trilha de meus Predecessores, considerar atentamente o complexo fenômeno da globalização, para avaliar as relações com a pobreza em larga escala. Frente a pragas difundidas quais doenças pandêmicas (ivi, 4), a pobreza das crianças (ivi, 5) e a crise alimentar (ivi, 7), tive o dever, infelizmente, de voltar a denunciar a inaceitável corrida armamentista. Por um lado se celebra a Declaração Universal dos Direitos do Homem, e por outro, se aumentam as despesas militares, violando a própria Carta das Nações Unidas, que empenha a reduzi-la ao mínimo (cf. art. 26). Por outro lado, a globalização elimina certas barreiras, mas pode construir novas (Mensagem cit., 8), por isso, é necessário que a comunidade internacional e cada um dos Estados sejam sempre vigilantes; é necessário que não abaixemos mais a guarda em relação aos perigos de conflito, ao contrário, se empenhem a manter alto o nível da solidariedade. A atual crise econômica global é vista em tal sentido também como um banco de prova: estamos prontos para lê-la, em sua complexidade, como desafio para o futuro e não só como uma emergência a qual dar resposta a curto prazo? Estamos dispostos a fazermos juntos uma revisão profunda do modelo de desenvolvimento dominante, para corrigi-lo de modo certo e a longo prazo? Exigem isso, na verdade, mais ainda que as dificuldades financeiras imediatas, o estado de saúde ecológica do planeta e, sobretudo, a crise cultural e moral, os quais sintomas há tempos são evidentes em cada parte do mundo.
Ocorre, portanto, de buscar estabelecer um «círculo virtuoso» entre a a pobreza «a escolher» e a pobreza «a combater». Abre-se aqui um caminho fecundo de frutos para o presente e para o futuro da humanidade, que se pode reassumir assim: para combater a pobreza iníqua, que oprime tantos homens e mulheres e ameaça a paz de todos, ocorre redescobrir a sobriedade e a solidariedade, como valores evangélicos e, ao mesmo tempo, universais. Mais concretamente, não se pode combater eficazmente a miséria, se não se faz aquilo que escreve São Paulo aos Coríntios, isto é, se não se busca fazer «igualdade», reduzindo o desnível entre quem gasta o supérfluo e quem passa falta do necessário. Isto comporta escolhas de justiça e de sobriedade, escolhas por outro lado obrigadas pela exigência de administrar sabiamente os limitados recursos da terra. Quando afirma que Jesus Cristo nos enriqueceu «com sua pobreza», São Paulo oferece uma indicação importante não somente sob o perfil teológico, mas também no plano sociológico. Não no sentido que a pobreza seja um valor em si, mas porque essa é condição para realizar a solidariedade. Quando Francisco de Assis deixa seus bens, faz uma escolha de testemunho inspirado diretamente por Deus, mas ao mesmo tempo mostra a todos o caminho da confiança na Providência. Assim, na Igreja, o voto de pobreza é o compromisso de alguns, mas recorda a todos a exigência do desapego dos bens materiais e a primazia das riquezas do espírito. Eis, portanto, a mensagem oferecida hoje: a pobreza do nascimento de Cristo em Belém, além de objeto de adoração para os cristãos, é também escola de vida para cada homem. Essa nos ensina que para combater a miséria, tanto material quanto espiritual, o caminho a percorrer é o da solidariedade, que levou Jesus a partilhar nossa condição humana.
Caros irmãos e irmãs, penso que a Virgem Maria tenha se feito mais de uma vez esta pergunta: por que Jesus quis nascer de uma menina simples e humilde como eu? E depois, por que quis vir ao mundo em um estábulo e ter como primeira visita a dos pastores de Belém? A resposta Maria teve plenamente ao fim, depois de ter deposto no sepulcro o corpo de Jesus, morto e envolto em faixas (cf. Lc 23, 53). Então compreende plenamente o mistério da pobreza de Deus. Compreende que Deus se fez pobre por nós, para enriquecer-nos com sua pobreza cheia de amor, para nos exortar a frear a cobiça insaciável que suscita lutas e divisões, para nos convidar a moderar a ânsia de possuir e a estar assim disponíveis à partilha e ao acolhimento recíproco. A Maria, Mãe do Filho de Deus feito nosso irmão, voltamo-nos confiantes em nossa oração, para que nos ajude a seguir suas pegadas, a combater e vencer a pobreza, a construir a verdadeira paz, que é opus iustitiae. A Ela confiamos o profundo desejo de viver em paz que sai do coração da grande maioria das populações israelitas e palestinas, mais uma vez em perigo pela intensa violência desatada na faixa de Gaza, em resposta a outra violência. Também a violência, também o ódio e a desconfiança são formas de pobreza – talvez maiores – que devem ser combatidas. Que estas não se estendam! Neste sentido, os pastores dessas Igrejas, nestes tristes dias, levantaram sua voz. Junto a eles e a seus queridos fiéis, sobretudo os da pequena mas fervorosa paróquia de Gaza, colocamos aos pés de Maria nossas preocupações pelo presente e os temores do futuro, mas também a fundada esperança de que, com a sábia e prévia ajuda de todos, não será impossível escutar, vir ao encontro e dar respostas concretas à aspiração difundida de viver em paz, em segurança, em dignidade. Digamos a Maria: acompanhai-nos, celeste Mãe do Redentor, ao longo de todo o ano que hoje inicia, e obtenhais de Deus o dom da paz para a Terra Santa e para toda a humanidade. Santa Mãe de Deus, rogai por nós. Amém.
[Tradução do original em italiano por José Caetano]
© 2009 Libreria Editrice Vaticana
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