BARACK OBAMA: Nunca antes na história da América

sexta-feira, junho 06, 2008

BARACK OBAMA: Nunca antes na história da América

Sérgio Malbergier*

Quando Hillary Clinton apareceu nos vídeos na noite de terça-feira, após as duas últimas primárias da campanha, todos aguardavam que ela desistisse. O seu rival, Barack Obama tinha acabado de garantir a maioria dos votos na convenção do Partido democrata, e Hillary não queria estragar um momento tão avassalador da história da América.
A senadora pelo Estado de Nova Iorque já pode dizer que é a mulher que chegou mais perto do posto mais poderoso do mundo, a Presidência dos EUA - embora a mulher de Obama produza faíscas ainda mais radicais ao obrigar o país a imaginar uma primeira-dama negra na Casa Branca.

Mais radical e importante ainda, Obama já pode dizer que é o negro mais perto do posto mais poderoso do mundo. A juventude afro-americana que idolatra rappers e atletas terá agora um político poderoso, um líder nacional, para inspirá--la também. Uma grande novidade.

Algumas pessoas, apressadamente, descartam a chegada de Obama à Casa Branca só por ele ser negro. É um pensamento que olha para trás, não para frente. O mundo muda rapidamente e os EUA também. Muito recentemente um distrito ultra-branco do Alabama elegeu um representante negro.

É claro que Obama usa armas novas, principalmente a super-poderosa internet, para mobilizar eleitores e arrecadar fundos. Ele aponta o futuro, já que só em filmes de ficção o Presidente dos EUA é negro.

Esse futuro está mais perto. Simbolicamente, já é um feito e tanto Obama estar onde está, tendo derrotado os Clintons e os preconceituosos. Se ganhar a eleição em Novembro, os seus aparentes defeitos (a inexperiência, o voluntarismo, a inconsistência) podem apagar a mágica criada pela sua conquista inédita da nomeação democrata.

Depois da derrota da pré-candidata, a novidade é agora relacionada com o seu futuro político. Fala-se que Hillary Clinton terá contado aos seus assessores, numa reunião privada, que estava interessada em ser a vice-presidente do candidato Barack Obama.

De acordo com as últimas informações, os seus assessores estão a fazer já os lobbies pelo cargo.

Entretanto, espera-se que entre hoje ou amanhã, Hillary encerre a sua campanha para começar provavelmente um novo ciclo que a pode levara à vice-presidência.

Após declarar-se como o candidato democrata para as eleições gerais, Obama enfrenta a escolha difícil por um vice-presidente. Uma escolha que pode influenciar os seus resultados nas urnas de 4 de Novembro e que envolve muita política partidária. De qualquer forma, Obama confia na união do seu partido para ganhar o pleito.
A união dos democratas, após meses de uma disputa cheia de ataques políticos e pessoais mútuos, é o principal argumento para uma "chapa dos sonhos" com Hillary e Obama. Para analistas democratas, seria uma forma de unir os eleitorados fiéis a ambos os candidatos.

Obama chegou mesmo a elogiar a ex-rival, dizendo que Hillary é um "caso especial" para se considerar na escolha para um vice. "Ela é alguém que participou comigo nesta disputa. Ela é extraordinariamente capaz e tenaz. Eu quero dizer, ela é simplesmente uma grande candidata".

"A senadora Clinton estaria na lista de qualquer um, obviamente", reforçou nos seus elogios, pois os dois têm a mesma visão sobre muitos assuntos.
Mas o tom de elogios e amizade destes últimos dias é uma mudança radical dos longos meses das disputas pela primárias, e são estes meses de ataques o principal argumento contrário a uma chapa conjunta.

Caso Hillary efectivamente seja a vice-presidente de Obama, eles enfrentarão duros questionamentos da media e principalmente dos republicanos. Eles não esquecerão a imagem que a equipa de Obama desenhou de Hillary, como alguém da "velha" política norte-americana, a qual ele quer combater.

Para o professor de ciência política de Harvard, Richard Parker, uma chapa conjunta é muito improvável já que a equipa de Obama estaria hesitante em escolher a rival de tanto tempo. Em algumas entrevistas chegou a afirmar que a ex-primeira-dama deve continuar no Senado, onde pode assumir a liderança da casa.

* Jornalista