Stiglitz considera que a fasquia de três por cento corresponde a "um número artificial" que "não tem qualquer realismo" Ian Britton, freefoto.com
As políticas europeias com vista ao abate dos défices empurram o Velho Continente para uma nova recessão, avisou esta terça-feira Joseph Stiglitz. A avaliação do Nobel da Economia, que considera “um disparate” os cortes em “investimentos de alta rendibilidade”, surge a par dos últimos dados sobre a saúde das contas públicas alemãs: no primeiro semestre, o défice do motor da Europa foi de 3,5 por cento.
Numa entrevista à rádio irlandesa RTE, citada pela agência Bloomberg, Joseph Stiglitz argumentou que é por "tantos na Europa" estarem "concentrados no número artificial de três por cento" - o limite imposto pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento para as derrapagens orçamentais no clube do euro - que "a Europa está em risco de entrar em nova recessão".
Stiglitz considera mesmo que a fasquia de três por cento do produto interno bruto corresponde a "um número artificial" que "não tem qualquer realismo e só olha para um lado da balança". "Cortar, com ou sem vontade, nos investimentos de alta rendibilidade apenas para fazer com que os números do défice pareçam melhores é realmente um disparate", reforçou o Prémio Nobel da Economia.
A propósito de Dublin, Stiglitz sustentou que, se "a Alemanha, o Reino Unido e outros dos maiores países seguirem esta abordagem de austeridade excessiva, a Irlanda irá sofrer". A exemplo, de resto, dos demais Estados-membros cujas economias dependem dos países mais poderosos.
Défice de 42,8 mil milhões de euros na Alemanha
Os últimos números do Instituto Federal de Estatísticas de Berlim situam o défice alemão no primeiro semestre do ano em 3,5 por cento do PIB, o que corresponde a mais do dobro do valor contabilizado no mesmo período de 2009. A derrapagem de 42,8 mil milhões de euros é justificada com a crise financeira, que conduziu a uma quebra das receitas fiscais e ao agravamento das despesas.
"As consequências da crise económica e financeira e as medidas do Governo de apoio à situação económica e aos mercados financeiros afecta agora o Orçamento do Estado, os Estados e os municípios com um atraso temporário", sublinha o relatório divulgado esta terça-feira.
O Instituto Federal de Estatísticas lembra que o défice orçamental alemão se cifrou, no ano passado, em 3,1 por cento, ligeiramente acima do limite imposto pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento. Se o Governo de Angela Merkel mantiver o ritmo actual, a Alemanha deverá cumprir já em 2010 os critérios de Maastricht.
EFE/Angola Xyami
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