Ernesto Guevara de la Serna, o Che, segundo a maioria dos testemunhos obtidos para este especial de Terra Magazine, exercia um poder hipnótico sobre as mulheres. É provável que a distância entre sujeito e mito -à medida que passa o tempo- exagere esse suposto poder, mas nas palavras da jornalista e pesquisadora argentina Julia Constenla, autora de "Celia, la madre del Che" (Sudamericana) e "Che Guevara, la vida en juego " (Edhasa), a atração que o revolucionário exercia "era tão impressionante que durante a conferência internacional de Punta del Este, em 1961, até as mulheres dos diplomatas norte-americanos quiseram conhecê-lo".
Essa atração fez com que o próprio presidente dos Estados Unidos, John Fitzgerald Kennedy, fizesse viajar de imediato ao Uruguai o ator (e homem do Departamento de Estado) Richard Goodwin, para desviar um pouco os olhares e negociar um encontro com Guevara, que havia destruído a Aliança para o Progresso com um discurso anti-imperialista de tom demolidor.
A história oficial conta que são três as mulheres que contam verdadeiramente na vida de Che: sua mãe, Celia, e suas esposas, a peruana Hilda Gadea e a cubana Aleida March. De seus casamentos, Guevara deixou seis filhos. Do primeiro nasceu, em 14 de fevereiro de 1956, Hilda Beatriz Guevara Gadea, que morreu de câncer em 1995.
Che se separou de sua mãe em 1959, e ela morreu em Havana, em 1974. Seu segundo casamento foi com Aleida March, militante do Movimento 26 de Julho, a quem Guevara conheceu em 1958 quando desenvolvia sua ofensiva final sobre o regime de Fulgencio Batista pouco antes da batalha de Santa Clara. Tiveram quatro filhos, Aleida (1960), Camilo (1962); Celia (1963) e Ernesto (1965). Che também teve um filho de uma relação extraconjugal com Lidia Rosa López, Omar Pérez, nascido em 1964, que jamais foi reconhecido.
A lenda fez o resto: que seu primeiro amor foi uma amiga de infância, Tita Infante, e que Tamara Bunker, Tania, argentina (apontada como possível agente dupla a serviço da KGB e da Stasi, a polícia secreta da extinta Alemanha Oriental), era sua amante e a única mulher que se infiltrou no Exército boliviano.
Tania morreu na selva, em uma emboscada, em agosto de 1967. Sofria também de câncer de útero. Haviam se conhecido em Cuba (mas Jorge Castañeda e outros biógrafos sugerem a possibilidade de que o primeiro encontro tenha sido na RDA, em 1961, quando Che participou de um encontro de tradutores; também é possível que tenham se visto em Praga, quando Guevara lá esteve de forma clandestina).
Eis um trecho da última carta que Aleida March recebeu de Che Guevara, seu marido (o restante ainda continua inédito): "Minha única: aproveito a viagem de um amigo para te enviar algumas palavras; é claro que poderiam ser enviadas pelo correio, mas escolher um caminho extra-oficial me parece mais íntimo. Poderia te dizer que sinto tua falta a ponto de perder o sono". A carta foi escrita em 2 dedezembro de 1966, na cidade boliviana de Ñancahuazú.
E eis também um trecho da carta de despedida de Guevara aos seus filhos, datada de 1965, pouco antes de ele partir para a Bolívia. "A meus filhos. Queridos Hildita, Aleidita, Camilo, Celia e Ernesto. Se algum dia tiverem de ler estar carta, será porque não mais estarei entre vocês. Quase não se recordarão mais de mim, e os pequeninos nada lembrarão. O pai de vocês foi um homem que tentou agir de acordo com aquilo que pensa e, garanto-lhes, foi fiel a suas convicções. Cresçam como bons revolucionários. Estudem muito, para que possam dominar a técnica que permite dominar a natureza. Recordem-se de que é a revolução que é importante, e que cada um nós, por si só, nada vale. Sobretudo, sejam sempre capazes de sentir da maneira mais profunda qualquer injustiça cometida contra qualquer pessoa em qualquer parte do mundo. Essa é a mais bela qualidade de um revolucionário. Até sempre, meus filhinhos, espero voltar a vê-los um dia. Um grande beijo e um grande abraço do papai".
Buenos Aires, Argentina
Sem comentários:
Enviar um comentário