Pieter Willem Botha foi a figura principal do Partido Nacional, principal agremiação política da África do Sul, de 1978 a 1989, tendo sido chefe de governo e, mais tarde, presidente da nação. Era um firme partidário da supremacia branca na África do Sul. Pôs em prática um programa para desestabilizar militar e economicamente os estados vizinhos governados por dirigentes negros; supervisionou o cumprimento das leis segregacionistas e reprimiu os protestos dos estudantes negros e dos sindicatos. No final da sua carreira política, no entanto, cedeu às pressões da comunidade internacional e aceitou um relaxamento do apartheid (segregação racial), fundamental para a supremacia branca. As reformas que introduziu, sobretudo a extensão da representação parlamentar para as comunidades negra e asiática em 1983, aumentaram a pressão por mudanças na medida em que permitiram a militância da população negra, até então excluída da política.
É um documento histórico. Directamente relacionado com uma característica exclusiva do homo sapiens: a crueldade. De facto, os humanos são a única espécie animal que pratica, aperfeiçoa e propaga em seu redor as práticas cruéis, que em algumas das suas variantes toma contornos de prazer sexual. Por isso é que este discurso é exemplar, precisamente porque é um grito de um chefe de Estado, homem inteiro e coerente, mas monstruoso, a vomitar para o universo fechado dos seus apaniguados palavras que milhões, para não dizer biliões de homens globalmente respeitáveis, na aparência moralmente irrepreensíveis, são, em determinadas circunstâncias, capazes de subscrever, por mais anti-racistas que pretendam ou digam ser.
O discurso que se segue foi proferido pelo antigo presidente sul africano, P.W Botha aos membros do seu gabinete e foi publicado por David G. Mailu no jornal The Sunday Times, da África do Sul, a 18.08.1985.
"Senhores, estimados compatriotas,
Pretória foi erguida pela mente branca para o homem branco. Não somos obrigados a provar a qualquer um nem mesmo aos pretos que nós somos um povo superior. Já demonstramos de mil e uma maneiras. A República da África do Sul que nós hoje conhecemos não foi criada apenas de sonhos. Nós criamo-la à custa da inteligência, do suor e de sangue.
Foram os afrikaners que tentaram eliminar os aborígenes australianos? São os afrikaners que descriminaram os pretos e os chamados Niggers nos Estado Unidos? Foram os afrikaners que começaram o comércio de escravos? Onde é que o homem preto é apreciado? A Inglaterra discrimina os seus pretos e a sua lei também os discrimina. Porquê tanto barulho por nossa causa? Porque nos condenam? Eu estou simplesmente a tentar provar a todos que não há nada incomum no que estamos a fazer – diferente do que o mundo chamado civilizado está a fazer.
Nós somos simplesmente um povo honesto com uma filosofia clara de como nós queremos viver a nossa própria vida branca. Nós não fingimos que gostamos de pretos como os outros brancos fazem. O facto dos negros parecerem como seres humanos e agir como seres humanos não lhes faz necessariamente sensíveis seres humanos. O porco não é porco espinho e o lagarto não é crocodilo simplesmente porque são idênticos. Se Deus nos quisesse iguais aos pretos, criava-nos a todos de uma única cor e de um intelecto uniforme. Mas criou-nos diferentemente: brancos, pretos, amarelos, governantes e governados. Intelectualmente, nós somos superiores aos pretos; isso foi provado para além de todas as dúvidas razoáveis ao longo dos anos. Eu acredito que o afrikaner é honesto e pessoa temente a Deus, que demonstrou praticamente a melhor forma de estar. Não obstante é confortável saber que nos bastidores, a Europa, o Canada., a Austrália e todos os outros dizem através de nós o que pensam. Para as relações diplomáticas, nós todos sabemos que língua deve ser usada e onde. Só para provar o meu ponto de vista, camaradas, quem de vocês conhece um país branco que não tenha um investimento ou interesse na África do Sul? Quem compra o nosso ouro? Quem compra os nossos diamantes? Quem negoceia connosco? Quem nos está a ajudar a desenvolver outra arma nuclear? A maior verdade é que nós somos o seu povo e eles são o nosso povo. É um segredo grande. A força da nossa economia é suportada pela América, Grã-Bretanha, Alemanha, etc. É a nossa forte convicção, consequentemente, que o preto é matéria-prima para o homem branco. Assim irmãos e irmãs, juntem as mãos e lutemos contra este diabo preto. Eu apelo a todos os afrikaners a saírem com meios criativos para travar esta guerra. Certamente Deus não pode condenar o seu próprio povo que somos nós. Por agora cada um de nós tem visto praticamente que os pretos não podem se governar. Dêem-lhes armas que eles vão se matar uns aos outros. São bons em nada mais do que fazer barulho, dançar, casar, muitas esposas e espojarem-se no sexo. Vamos todos aceitar que o homem preto é o símbolo da pobreza. Da mente inferior, de perder e da incompetência emocional. Não é plausível? Consequentemente que o homem branco é criado para governar o homem preto? Vamos só pensar no que aconteceria se um dia vocês acordassem com um "Kaffr" sentado no trono?
Podem imaginar o que aconteceria ás nossas mulheres? Qualquer um de vocês acredita que os pretos podem governar este país? Daí termos boas razões para deixar todos os Mandelas adeptos e seguidores na prisão. Eu penso que nos deviam elogiar por mantê-los vivos, apesar de já possuirmos, nas mãos, meios para acabar com eles. Desejo anunciar um conjunto de novas estratégias que devem ser postas em prática para eliminar este "erro" preto. Devemos a partir de agora usar armas químicas, como prioridade número um, para não permitir mais o aumento da população negra, para que não nos arrependamos mais tarde. Tenho a notícia emocionante dos nossos cientistas que desenvolveram um novo material eficiente, Estou ou a mandar mais investigadores ao terreno para identificar mais locais onde as armas químicas possam ser usadas para combater o aumento desta população. O hospital por exemplo é uma boa abertura estratégica, e deve ser inteiramente utilizado. A rede da fonte de alimento deve ser usada. Nós temos desenvolvido bons venenos que matam e destroem lentamente a fertilidade. O nosso medo é somente um, caso esse material se volte contra nós!! É só parar e pensar quantos pretos trabalham para nós. Contudo, nós estamos a fazer de tudo para nos certificamos de que o material permaneça estritamente nas nossas mãos. A segunda prioridade, é explorar a vulnerabilidade da maioria dos pretos ao dinheiro. Eu reservei um fundo especial para explorar esta faceta. O velho truque de dividir para reinar é ainda muito válido hoje. Os nossos peritos devem trabalhar dia e noite para fazer o homem preto trair os seus mentores. O seu sentido moral inferior pode ser explorado. E está aqui uma criatura com falta de carácter. Há uma necessidade de nós o combatermos, a longo prazo para que não possa suspeitar. O preto médio não planeia a sua vida para além de um ano. Esse facto por exemplo, deve ser explorado. O meu Departamento Especial está a trabalhar contra o tempo num projecto de operação a longo prazo. Estou a fazer também um pedido especial a todas às mães Afrikaner para dobrarem a sua taxa de natalidade. Pode ser necessário desenvolver urna indústria de crescimento da população, criando centros onde nós empregamos e suportamos homens novos e as mulheres inteiramente brancas para produzir crianças para a nação. Nós estamos a investigar também o mérito de aluguer de úteros como meios possíveis de apressar-se o crescimento da nossa população. Por um tempo, nós devemos também activar uma engrenagem muito sofisticada para certificar de que os homens pretos estão separados das suas mulheres e que muitas esposas casadas geram crianças ilegítimas. Eu tenho um Comité a trabalhar em torno de um mérito melhor de incitar os pretos uns contra os outros e de incentivar assassinatos entre si. Os casos de assassinatos entre pretos devem merecer uma punição muito leve a fim de os incentivar. Os meus cientistas desenvolveram uma droga que pode ser usada para efectuar envenenamento e destruição lenta da fertilidade. Trabalhar com as fábricas para fabricarem bebidas especialmente para pretos, para redução da sua população. Não é uma guerra em que nós podemos usar a bomba atómica para destruir os pretos. Assim sendo, nós devemos usar a nossa inteligência para isso. Os registos mostram que o homem preto morre para ir para cama com uma mulher branca. Esta é uma oportunidade original. O nosso esquadrão de mercenários do sexo deve estar camuflado e infiltrar-se no meio dos lutadores contra o Apartheid para administrar silenciosamente venenos de destruição lenta da fertilidade. Nó estamos a modificar estes esquadrões introduzindo homens brancos que devem ir procurar mulheres pretas militantes e todas outras pretas vulneráreis. Recebemos uma remessa nova de prostitutas da Europa e da América que estão desesperadas e demasiado desejosas de aceitar a missão. O meu último apelo é que as operações de maternidade nos hospitais devem intensificar-se. Nós não estamos a pagar aquelas pessoas para ajudar a trazer bebés pretos a este mundo mas sim eliminá-los no momento do seu nascimento. Se este Departamento trabalhasse muito eficientemente, muito se poderia conseguir. O meu governo reservou um lucro especial para erguer hospitais e clínicas secretas para promover este programa. O dinheiro pode fazer qualquer coisa para nós. Enquanto nós o tivermos, devemos fazer o melhor uso dele. Entretanto, meus adoráveis concidadãos brancos, não levem a peito o que o mundo diz e não se envergonhem de ser chamados racistas. Eu não me chateio por ser chamado de arquitecto e rei do apartheid. Eu não me transformarei num macaco simplesmente porque alguém me chamou de macaco. Eu continuarei a sei a vossa estrela brilhante... sua excelência. Botha.
*Publicado in "The Sundy Times", de 18 de Acosto de 1985
terça-feira, dezembro 20, 2011
Política & Racismo em África: Conheça o mais polémico discurso di Pieter Willem Botha
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