O diplomata brasileiro disputou o cargo com o mexicano Herminio Blanco, de 62 anos. O novo director-geral toma posse a 31 de Agosto, substituindo o francês Pascal Lamy. A eleição foi disputada até ao último minuto.
Azevêdo teve apoio do grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), além dos países de língua portuguesa e de várias nações da América Latina, da Ásia e de África. Desde 2008, o novo director é representante permanente do Brasil na OMC. Azevêdo está directamente envolvido em assuntos económicos e comerciais há mais de 20 anos. O embaixador brasileiro foi chefe do Departamento Económico do Ministério das Relações Exteriores, Itamaraty, de 2005 a 2006, e chefiou a delegação brasileira nas negociações da Ronda de Doha da Organização Mundial Comércio, sobre liberalização de mercados.
Diplomata de carreira, Roberto Azevêdo também representa o Brasil na Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), no Conselho das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad), e na União Internacional de Telecomunicações (UIT). O diplomata construiu a sua carreira nas áreas da economia e comércio internacional, em especial na resolução de litígios. Na terça-feira, a União Europeia e a Croácia, que têm 28 votos, fecharam o apoio ao mexicano. Mas os negociadores brasileiros mantiveram o optimismo, uma vez que o processo eleitoral na OMC não envolve apenas o voto. É necessário negociar um acordo que agrade à maioria, eliminando ao máximo o índice de rejeição.
Na eleição da OMC, cada um dos 159 países que integram o órgão vota no nome da sua preferência. Para vencer, é preciso ter um mínimo de 80 votos e obter o consenso entre os países. A escolha é feita em três etapas. O processo de eleição para a OMC começou no final de Março, com nove candidatos. Na segunda fase, encerrada no dia 25, ficaram cinco. No final de Abril, a OMC comunicou que tinham passado à fase final apenas os candidatos do Brasil e do México.
Proteccionismo
Os presidentes do Brasil, Dilma Rousseff, e do México, Enrique Peña Nieto, participaram directamente nas negociações, fazendo telefonemas e conversando com os líderes mundiais.
Ainda durante o processo de eleição, Roberto Azevêdo contestou as críticas das nações ricas de que o Brasil está a tornar-se mais proteccionista. “Eu, como candidato e como director-geral, não vou estar a representar o Brasil”, disse Roberto Azevedo em entrevista à Reuters, na semana passada. “Cheguei à recta final desta selecção do próximo director-geral com essas reclamações em cima da mesa, não muda nada. Significa que há um entendimento entre membros do Organização Mundial do Comércio de que o candidato tem de ser independente do seu país e deve ser avaliado à luz do mérito da sua candidatura”.
A postura de mão pesada do Brasil em relação ao comércio tornou o país alvo de queixas de países ricos, como os Estados Unidos e o Japão, e de companheiros emergentes, como a China e a Coreia do Sul, que reclamaram a subida das taxas para conter importações e proteger a indústria local. O Brasil tem dito que estas medidas são permitidas pelas regras da OMC.
Projecções da OMC
Num documento posto a circular na Organização Mundial do Comércio, em meados de Abril, a União Europeia, o Japão e os EUA, diziam que o Brasil adoptou medidas para elevar exigências de conteúdo local que “discriminam” bens importados, incluindo carros, telemóveis e até fertilizantes. Mesmo sendo respeitado em círculos diplomáticos pela sua capacidade de construir consenso, Roberto Azevêdo foi criticado pelos seus esforços para levar a OMC a discutir o impacto de flutuações cambiais sobre o comércio mundial.
A credibilidade da OMC sofreu um sério golpe em 2011, quando os seus membros reconheceram que as discussões de dez anos da Ronda de Doha - que deviam culminar num novo e arrojado acordo comercial - estavam, se não mortas, pelo menos num impasse. Desde que a crise financeira global de 2008 estoirou, o comércio mundial sofreu bastante, crescendo míseros dois por cento no ano passado, menor aumento anual desde o início da base histórica em 1981 e segundo menor dado após 2009, quando o comércio diminuiu. A OMC cortou a sua projecção de crescimento do comércio em 2013, para 3,3 por cento, ante 4,5 por cento, e alertou sobre a ameaça proteccionista.
A Europa, fulminada pela recessão, e os Estados Unidos, num processo de lenta recuperação, estão a enfrentar dificuldades para impulsionar as suas exportações através de novos acordos comerciais regionais que, segundo alguns especialistas, podem minar a relevância da Organização Mundial de Comércio.
“Essas negociações plurilaterais, bilaterais e multilaterais sempre aconteceram. O problema é que o multilateral parou de evoluir”, disse Roberto de Azevedo. “Temos um sistema de regras que reflecte a realidade do mundo de negócios de há 30 anos, o que significa que o que devia ser o motor do comércio mundial parou”.
Via|JA
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