quarta-feira, setembro 15, 2004

O Homem que se Enfurecia com Facilidade




Um homem que se enfurecia facilmente tomou consciência, depois de já ter vivido muito, de que sempre se encontrara em dificuldades por causa de tal propensão.
Certo dia, ouviu falar de um dervixe dotado de conhecimentos profundos e foi procurá-lo, a fim de pedir-lhe conselho.
E o dervixe lhe disse então:

- Vá a uma determinada encruzilhada. Ali encontrará uma árvore seca. Fique debaixo dela e ofereça água a todo viajante que passar.

O homem fez o que lhe fora dito. Transcorreram muitos dias, e ele passou a ser conhecido como alguém que estava obedecendo a certa disciplina de caridade e autocontrole, sob a orientação de um homem de real conhecimento.

Um dia, um homem que vinha muito apressado, recusou com um gesto de cabeça a água que lhe era oferecida e seguiu em frente pela estrada. O homem que se irritava com facilidade gritou várias vezes:

- Volte e retribua a minha gentileza! Beba um pouco desta água que eu ofereço a todos que passam por aqui.

Mas não obteve resposta.

Fora de si devido a tal procedimento do viajante, o homem esqueceu de todo o seu treinamento de autocontrole. Apanhou seu revólver que estava pendurado num galho da árvore ressecada, apontou para o viajante descortês e fez fogo. O homem caiu morto.

No exato momento em que a bala penetrou no corpo do viajante, a árvore seca, como que por milagre, renovou-se e floriu radiante.
O homem que acabara de ser morto era um assassino, a caminho de cometer outro crime, o pior de sua longa carreira.

Existem, como podem perceber, duas espécies de conselheiro. A primeira inclui aqueles que dizem o que deve ser feito, baseando-se em determinados princípios fixos, repetidos mecanicamente. À outra classe pertence o Homem de Conhecimentos. Os que o encontram lhe pedirão conselhos moralizantes, e o tratarão como a um moralista.
Mas ele é servidor da Verdade, não de esperanças piedosas.
O Homem que se Enfurecia com Facilidade

Um homem que se enfurecia facilmente tomou consciência, depois de já ter vivido muito, de que sempre se encontrara em dificuldades por causa de tal propensão.
Certo dia, ouviu falar de um dervixe dotado de conhecimentos profundos e foi procurá-lo, a fim de pedir-lhe conselho.
E o dervixe lhe disse então:

- Vá a uma determinada encruzilhada. Ali encontrará uma árvore seca. Fique debaixo dela e ofereça água a todo viajante que passar.

O homem fez o que lhe fora dito. Transcorreram muitos dias, e ele passou a ser conhecido como alguém que estava obedecendo a certa disciplina de caridade e autocontrole, sob a orientação de um homem de real conhecimento.

Um dia, um homem que vinha muito apressado, recusou com um gesto de cabeça a água que lhe era oferecida e seguiu em frente pela estrada. O homem que se irritava com facilidade gritou várias vezes:

- Volte e retribua a minha gentileza! Beba um pouco desta água que eu ofereço a todos que passam por aqui.

Mas não obteve resposta.

Fora de si devido a tal procedimento do viajante, o homem esqueceu de todo o seu treinamento de autocontrole. Apanhou seu revólver que estava pendurado num galho da árvore ressecada, apontou para o viajante descortês e fez fogo. O homem caiu morto.

No exato momento em que a bala penetrou no corpo do viajante, a árvore seca, como que por milagre, renovou-se e floriu radiante.
O homem que acabara de ser morto era um assassino, a caminho de cometer outro crime, o pior de sua longa carreira.

Existem, como podem perceber, duas espécies de conselheiro. A primeira inclui aqueles que dizem o que deve ser feito, baseando-se em determinados princípios fixos, repetidos mecanicamente. À outra classe pertence o Homem de Conhecimentos. Os que o encontram lhe pedirão conselhos moralizantes, e o tratarão como a um moralista.
Mas ele é servidor da Verdade, não de esperanças piedosas.

Diz-se que o mestre dervixe que aparece neste conto foi Najmudin Kubra, um dos maiores santos sufis. Fundou a Kubravi ("Irmãos Maiores") que muito se assemelhava à Ordem criada por S. Francisco de Assis. Tal como o grande Santo, Najmudin tinha a reputação de possuir misterioso poder sobre os animais.

Najmudin foi uma das seiscentas mil pessoas mortas quando Khwarizm, na Ásia Central foi destruída em 1221. Diz-se que o Grão Mongol Gengis Khan, sabedor de sua reputação, prometeu perdoar-lhe a vida caso se entregasse. Mas Najmudin se uniu aos defensores da cidade e foi mais tarde identificado entre os mortos.

Tendo previsto a catástrofe, Najmudin enviara a lugar seguro todos os seus discípulos pouco tempo antes da invasão das hordas mongólicas.

Extraído de 'Histórias dos Dervixes'
Idries Shah
Nova Fronteira 1976
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