ZENIT
O mundo visto de Roma
Serviço diario - 21 de janeiro de 2009
SANTA SÉ
Papa convida cristãos a trabalharem pelo ecumenismo
Papa propõe Santa Inês como modelo para jovens
Dor do Papa pela morte do patriarca Stephanos
Papa torna-se cidadão de honra da localidade austríaca de Mariazell
MUNDO
Cáritas pede aos governos que reconheçam fracasso na luta contra fome
Cessar-fogo em Gaza permite à Cáritas desempenhar seu trabalho de ajuda
Washington se prepara para marcha pela vida
EM FOCO
Profecia sobre família nos olhos de Nossa Senhora de Guadalupe
ENTREVISTAS
Em plena crise, cardeal Ouellet pede ajuda para famílias
Família, onde se aprende a solidariedade
ESPIRITUALIDADE
Meditação para o quinto dia da Semana pela Unidade dos Cristãos
AUDIÊNCIA DE QUARTA-FEIRA
Bento XVI: «Não pode haver diálogo ecumênico sem conversão interior»
Papa convida cristãos a trabalharem pelo ecumenismo
«A unidade está conectada com a própria missão da Igreja no mundo»Por Inma Álvarez
CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 21 de janeiro de 2009 (ZENIT.org).- O Papa Bento XVI interrompeu nesta quarta-feira o ciclo de catequeses que vem realizado sobre a vida e os ensinamentos do apóstolo São Paulo e dedicou a audiência de hoje a falar sobre o diálogo ecumênico, dada a coincidência com a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos.
O Papa dedicou a catequese de hoje a refletir sobre a passagem de Ezequiel que se escolheu como lema desta semana e na qual o profeta toma os lenhos, símbolo do Israel dividido, para realizar uma profecia sobre sua reunião futura.
Em primeiro lugar, destacou que a questão da unidade dos cristãos não é secundária, mas que «está conectada com a vida e a própria missão da Igreja no mundo», como o próprio Cristo assinalou na Última Ceia.
A Igreja, afirmou, «deve viver uma unidade que só pode derivar de sua unidade com Cristo, com sua transcendência, como sinal de que Cristo é a verdade. Esta é nossa responsabilidade: que seja visível para o mundo o dom de uma unidade em virtude da qual nossa fé se torne crível».
Por isso, convidou reiteradamente os cristãos a que tomem «consciência da urgência de trabalhar de todas as formas possíveis para chegar a este grande objetivo».
Contudo, esta unidade plena necessita como condição prévia a «purificação» dos cristãos dos «elementos estranhos à fé» e uma «maior fidelidade à vocação de Deus».
«Na dispersão entre os gentios, os israelenses haviam conhecido cultos errôneos, haviam assimilado concepções de vida equivocadas, haviam assumido costumes alheios à lei divina», explicou o Papa. «A esta renovação devemos estar abertos também nós, porque também nós, dispersos entre os povos do mundo, aprendemos costumes muito distantes da Palavra de Deus.»
«O ecumenismo verdadeiro não existe sem a conversão interior, porque o desejo da unidade nasce e amadurece na renovação da mente, na abnegação de si mesmo e no exercício pleno da caridade», acrescentou.
Passos realizados
O Papa assinalou também os «importantes gestos e passos» levados a cabo no caminho ecumênico.
«As relações entre as Igrejas e os diálogos teológicos continuaram dando sinais de convergências espirituais alentadoras», afirmou.
Por outro lado, destacou a transcendência das visitas de bispos e patriarcas ortodoxos e orientais a Roma, e especialmente a participação no passado Sínodo do patriarca ecumênico Bartolomeu I.
Também manifestou sua proximidade ao Patriarcado de Moscou, pela morte de Alexis II e a próxima eleição de seu sucessor.
Com relação às Comunhões Cristãs do Ocidente, o pontífice assinalou que «prossegue o diálogo sobre o importante testemunho que os cristãos devem dar hoje de forma concorde, em um mundo cada vez mais dividido e enfrentado tantos desafios de caráter cultural, social, econômico e ético».
Por último, o Papa convidou a tomar como modelo o apóstolo São Paulo, especialmente «seu anseio e dedicação ao único Senhor e à unidade de seu Corpo místico, a Igreja».
«Seguindo seu exemplo e contando com sua intercessão, que cada comunidade cresça no empenho da unidade, graças às diversas iniciativas espirituais e pastorais e às assembléias de oração comum, que costumam ser mais numerosas e intensas nesta ‘Semana’, fazendo-nos já saborear antecipadamente, de certa forma, o gozo da unidade plena», concluiu.
Papa propõe Santa Inês como modelo para jovens
CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 21 de janeiro de 2009 (ZENIT.org).- Ao coincidir a audiência geral de hoje com a festa litúrgica de Santa Inês, uma das mais veneradas mártires romanas dos primeiros séculos, Bento XVI aproveitou para propô-la como modelo de vida cristã.Durante as saudações aos peregrinos após a audiência geral, que aconteceu nesta manhã na Sala Paulo VI, o Papa quis recordar Santa Inês, «virgem e mártir que, apesar de sua jovem idade, enfrentou valentemente a morte por amor ao Senhor, tendo nela os mesmos sentimentos de Cristo Jesus, o Cordeiro imolado e vencedor».
Em sua costumeira saudação aos jovens, aos recém-casados e aos doentes, o Papa quis propor a santa como modelo nesta ocasião.
«Que por intercessão de Santa Inês possais viver vossa vocação e as condições concretas em que vos encontrais como autênticos caminhos de santidade», exortou o pontífice.
Precisamente nesta quarta-feira, em cumprimento de uma antiquíssima tradição cristã, apresentaram-se ao Papa, no final da audiência, dois cordeiros abençoados nesta manhã na basílica da santa, que está na Via Nomentana.
Com a lã destes cordeiros se elaborarão os pálios dos novos arcebispos metropolitanos nomeados este ano, que lhes será entregue pelo Papa na solenidade de São Pedro e São Paulo, em 29 de junho.
Dor do Papa pela morte do patriarca Stephanos
De Alexandria dos CoptosCIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 21 de janeiro de 2009 (ZENIT.org).- O Papa Bento XVI fez chegar ao patriarca de Alexandria dos Coptos, Antonios Naguib, seu pesar pelo falecimento do emérito desta mesma sede, o cardeal Stephanos II Ghattas, que morreu ontem no Cairo.
O Papa quis expressar sua «união na oração» a esta igreja patriarcal, assim como suas condolências à família do falecido, aos sacerdotes e fiéis do patriarcado e aos religiosos vicentinos, aos quais o falecido pertencia.
O patriarca Ghattas foi, afirma, «um servidor fiel da Igreja em seu trabalho como missionário na Congregação da Missão, depois como bispo de Luxor e finalmente como patriarca, que levou a cabo com zelo e simplicidade ao serviço do Povo de Deus, em um espírito de diálogo e de convivência com todos».
O patriarcado copto-católico de Alexandria é a cabeça da Igreja Católica copta, uma das Igrejas orientais que está sob a autoridade do Papa de Roma, ainda que mantenha seu rito e sua organização próprios.
O cardeal egípcio tinha nascido em Cheick Zein-el-Dine, eparquia de Sohag, no Egito. Entrou no seminário menor do Cairo em agosto de 1929 e concluiu os estudos clássicos no colégio da Santa Família dos Jesuítas, em 1938. Foi enviado ao colégio De Propaganda Fide de Roma, onde se licenciou em Filosofia e Teologia.
Ordenado sacerdote em Roma em 1944, voltou ao Egito como professor do seminário maior de Tahta. Em 1952, entrou na Congregação da Missão de São Vicente de Paulo (Vicentinos ou Lazaristas), realizando o noviciado em Paris.
Em 8 de maio de 1967, o Sínodo copto-católico o elegeu como bispo de Luxor dos Coptos, e em 1984 foi nomeado administrador apostólico do Patriarcado de Alexandria, para substituir Sua Beatitude Stephanos I Sidarous, a quem substituiu definitivamente em 1986.
Durante a visita de João Paulo II ao Monte Sinai, em fevereiro de 2000, ele acolheu o Papa e o acompanhou durante toda a peregrinação. No mesmo ano, o patriarca conduziu uma peregrinação do Patriarcado a Roma, onde celebrou uma divina liturgia de rito copto-alexandrino na Basílica de Santa Maria a Maior.
Foi presidente do Sínodo da Igreja Copto-católica e da assembléia da hierarquia católica do Egito. João Paulo II o criou cardeal em 21 de fevereiro de 2001.
Papa torna-se cidadão de honra da localidade austríaca de Mariazell
CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 21 de janeiro de 2009 (ZENIT.org).- O Papa foi nomeado hoje cidadão honorário da localidade austríaca de Mariazell, sede de um dos dois santuários marianos mais importantes da Europa.A cerimônia aconteceu em uma sala anexa à Sala Paulo VI, ao término da audiência geral. No ato estiveram presentes o prefeito da cidade, Helmut Pertl, o bispo de Graz-Seckau, Dom Egon Kapellari, e o reitor do Santuário de Mariazell, Pe. Karl Schauer, O.S.B.
Em Mariazell tem sua sede a Basílica do Nascimento da Virgem Maria, onde há uma escultura milagrosa da Virgem, e que constitui há séculos o centro espiritual mais importante da Áustria e um dos lugares de peregrinação mais importantes da Europa.
Atualmente, cerca de um milhão de pessoas por ano visitam o santuário. Bento XVI entregou a esta invocação da Virgem em 2007 a Rosa de Ouro, uma das mais importantes distinções pontifícias.
Cáritas pede aos governos que reconheçam fracasso na luta contra fome
Diante da reunião de alto nível sobre Segurança Alimentar para TodosMADRI, quarta-feira, 21 de janeiro de 2009 (ZENIT.org).- A organização católica de ajuda Cáritas Espanha pediu que os governos reconheçam e analisem as causas do fracasso na luta contra a fome diante da Reunião de Alto Nível sobre Segurança Alimentar para Todos (RANSA), que acontecerá em Madri nos dias 26 e 27 de janeiro.
Enquanto se prepara este encontro, que pretende dar continuidade ao Plano Global de Ação das Nações Unidas, a Cáritas considera que se no último ano a fome aumentou, isso se deve à adoção de modelos de desenvolvimento inadequados.
A instituição de ajuda divulgou nesta quarta-feira um comunicado enviado à Zenit, que conta com o respaldo também das instituições que aderem à campanha «Direito à alimentação. Urgente», na qual solicita «aos governos que assumam com honestidade a incoerência e ineficácia das políticas das últimas décadas e que se comprometam a reconhecer realmente a crise alimentar, ecológica e energética originadas pelo atual modelo de desenvolvimento».
Segundo a FAO, em 2007 viviam no mundo 923 milhões de pessoas famintas, número que aumentou em 2008, até alcançar os 963 milhões, por ser este o ano no qual se produziu o maior aumento dos preços dos alimentos.
«Já ninguém se atreve a dizer que a fome é consequência da falta de alimentos – afirma a Cáritas no comunicado, junto aos adeptos da campanha. A fome do século XXI tem suas raízes na discriminação e marginalização na qual vivem milhões de pessoas, e na supremacia dos interesses comerciais e econômicos frente aos direitos humanos.»
Por este motivo, diante da Reunião de Alto Nível sobre Segurança Alimentar, o documento pede: «orientar a luta contra a fome a partir do enfoque da realização do direito humano à alimentação».
Por outro lado, propõe «identificar quem são os famintos e por que o são, assim como eliminar as condições que geram a vulnerabilidade».
Sugere «colocar em um lugar central nos programas de desenvolvimento econômico uma agricultura cuja finalidade seja garantir a segurança alimentar».
O documento pede «reformar o sistema de produção de alimentos e garantir uma produção estratégica dirigida a cobrir as necessidades da população, de modo que não esteja submetida às flutuações dos mercados».
A nota sugere «propor uma mudança de paradigma quanto ao uso de fontes de energia que evolui para a cobertura da demanda através de fontes de energia renováveis».
Desta forma, considera necessário «reformar a ajuda alimentar, inovando os instrumentos e estratégias, assim como incorporar novas fórmulas no tratamento da desnutrição aguda».
Por último, anima a «proteger os pequenos produtores e fomentar o mercado dos produtos locais».
«A Reunião de Alto Nível sobre Segurança Alimentar, convocada em Madri, é uma oportunidade excelente para demonstrar que dessa vez se seguirá seriamente, que a erradicação da fome é uma prioridade para os governos e que os compromissos serão cumpridos», concluem os promotores da campanha.
Desde 2003, a campanha «Direito à alimentação. Urgente», das organizações não-governamentais Prosalus, Cáritas e Engenharia Sem Fronteiras, reivindica a realização efetiva do direito humano à alimentação para todos os habitantes do planeta.
Cessar-fogo em Gaza permite à Cáritas desempenhar seu trabalho de ajuda
JERUSALÉM, quarta-feira, 21 de janeiro de 2009 (ZENIT.org).- O cessar-fogo na Faixa de Gaza permitiu à rede Cáritas na área retomar, nas mínimas condições de segurança, seus trabalhos de ajuda humanitária às vítimas que se encontram em situação mais precária.De acordo com as primeiras estimativas de Cáritas Jerusalém, ao menos um sexto dos edifícios de Gaza foram destruídos pelos bombardeios israelenses, incluídas moradias particulares, escolas e centros de saúde, como no caso da clínica de Cáritas em Al Maghazi, arrasada por um ataque aéreo no dia 9 de janeiro.
As necessidades das vítimas são urgentes. Cáritas Jerusalém estima que quatro em cada cinco habitantes de Gaza (1,5 milhão de pessoas) necessitam sem demora de algum tipo de ajuda humanitária procedente do exterior da Faixa.
A este estado crítico no campo material soma-se o grave impacto psicológico que a ação militar impôs para um número imenso de famílias que sofreram a perda de alguns de seus entes queridos.
De acordo com as prioridades estabelecidas por Cáritas Jerusalém no seu plano de resposta humanitária, os esforços de toda equipe local se dirigem, neste momento, a proporcionar atenção médica e produtos de primeira necessidade a 4 mil famílias (cerca de 25 mil pessoas) das comunidades mais vulneráveis.
Atualmente, Cáritas mantém operando em Gaza cinco centros médicos de atenção primária e uma unidade móvel.
O plano de emergência lançado por Cáritas Jerusalém conta com um orçamento de 2 milhões de dólares, no qual, junto com as ações assinaladas, contempla-se também a distribuição de material médico de urgência a quatro dos hospitais da Faixa mais afetados pela carência de material provocada pelo bloqueio.
Washington se prepara para marcha pela vida
Milhares de norte-americanos protestam anualmente contra o aborto neste paísPor Carmen Elena Villa
WASHINGTON, quarta-feira, 21 de janeiro de 2009 (ZENIT.org).- Milhares de pessoas chegaram à capital dos Estados Unidos para participar mais uma vez da «Marcha pela Vida», que se realizará em Washington amanhã, a partir das 9h.
Este evento acontece desde 1974, todo dia 22 de janeiro, dia em que a Corte Suprema de Justiça deu via livre à lei Roe versus Wade, a qual legalizou o aborto neste país. Cerca de 200 mil manifestantes levantarão sua voz a favor dos não nascidos diante do Capitólio de Washington.
Este ano, os participantes pedirão ao novo presidente, Barack Obama, que cessem as políticas que sutilmente geram uma cultura de morte na sociedade americana.
«Temos um novo presidente que tem um poder gigante de mudar o rumo pró-vida dos Estados Unidos. Nosso país precisa dizer que o aborto é um crime terrível que mata humanos inocentes e temos de rezar para que esta nova administração tenha a previsão de assumi-lo», disse a Zenit Eileen Picket, uma professora do Ensino Fundamental que viajou de Connecticut para participar deste evento.
Apesar do frio (estima-se para amanhã uma temperatura de 6°), cerca de 200 mil pessoas de diferentes credos preparam cartazes e mensagens para sair às ruas e clamar pela defesa da vida no ventre materno.
À «Marcha pela vida» se une de maneira especial a Conferência de Bispos católicos dos Estados Unidos.
Orações pela defesa da vida
Como atividade prévia a este evento, estava prevista nesta quarta-feira, às 19h, na basílica da Imaculada Conceição, uma missa solene que dará início à «Vigília pela vida». Será presidida pelo cardeal Justin Francis Rigali, arcebispo da Filadélfia, presidente do comitê de atividades pró-vida da Conferência de Bispos dos Estados Unidos.
A jornada de oração, que durará toda a noite, terminará amanhã com uma Eucaristia celebrada por Dom Paul Loverde, bispo de Arlington, às 7h30.
Geralmente, durante a Marcha, centenas de participantes distribuem estampas com orações pela proteção dos não-nascidos, entre elas uma chamada de «Oração da Evangelium Vitae».
«Vede, Mãe, o número imenso de crianças a quem se impede nascer, de pobres a quem viver se torna difícil, de homens e mulheres vítimas de violência inumana, de idosos e doentes mortos por causa da indiferença ou de uma suposta piedade», diz a oração que foi composta por João Paulo II.
Os princípios defendidos na marcha
No site deste evento, www.marchforlife.org, encontram-se os principais postulados que se defendem: a igualdade entre todos os seres humanos e seu direito inalienável à vida, que deve ser «preservada e protegida pela sociedade desde sua concepção até sua morte natural».
Este evento clama para que cada ser humano seja defendido em qualquer etapa de sua vida «com todos os meios disponíveis e todos os esforços razoáveis» e assegura que a vida deve ser protegida em cada ser humano «independentemente de seu estado de saúde e de sua condição de dependência».
Quando há alguma dúvida sobre se há ou não vida humana, «esta sempre deve ser resolvida a favor da vida».
Em caso de que uma ou mais vidas estejam em situação de perigo mútuo de morte devem ser garantidos «todos os meios habituais disponíveis e os esforços necessários para preservar e proteger a vida de cada ser humano», conclui o documento que convoca a Marcha pela Vida.
Mais informação em http://www.usccb.org/prolife/prayervigil/index.shtml
Profecia sobre família nos olhos de Nossa Senhora de Guadalupe
Segundo o jornalista e escritor italiano Renzo AllegriPor Inma Álvarez
ROMA, quarta-feira, 21 de janeiro de 2009 (ZENIT.org).- Nos olhos de Nossa Senhora de Guadalupe foi descoberta uma imagem que pode ser considerada como uma profecia sobre a família: é o que afirma o jornalista e escritor italiano Renzo Allegri, especialista em crítica musical e religião, e autor de vários trabalhos relacionados com aparições de Nossa Senhora.
Em algumas declarações à Zenit, Renzo Allegri explica o significado das imagens descobertas pelo engenheiro José Aste nas pupilas da imagem de Nossa Senhora, milagrosamente impressa no manto do índio Juan Diego, e que se venera no santuário de Nossa Senhora de Guadalupe.
O jornalista se refere à conhecida história da aparição de Nossa Senhora ao índio Juan Diego, ocorrida no México na época em que havia sido conquistado pelos espanhóis, em 1531. Uma jovem muito bela apareceu a este índio lavrador, apresentando-se como a Virgem Maria, e lhe pediu que se construísse um santuário em sua honra.
Referido o episódio ao bispo Juan de Zumárraga, e ao não crer-lhe este, a jovem lhe indicou que lhe levasse algumas flores da montanha (era o mês de dezembro). Juan Diego encontrou no lugar indicado algumas rosas e as recolheu em sua tilma (espécie de avental de fibras vegetais usado pelos indígenas).
Ao apresentar-se novamente diante do bispo, Juan Diego abriu a tilma para mostrar as flores, e para surpresa dos presentes, nela se havia impresso de forma milagrosa a imagem de Maria, que se venera desde então na basílica de Nossa Senhora de Guadalupe.
Mas Renzo Allegri se refere sobretudo ao encontro de algumas misteriosas imagens nos olhos da Virgem, que poderiam referir-se a uma família composta pelos pais, avós e três crianças.
Os olhos de Nossa Senhora
A forma em que ficou impressa a imagem da Virgem na tilma de Juan Diego é milagrosa, já que a natureza do tecido tornava impossível a realização de uma pintura tão delicada em seus detalhes.
Em 1936, o professor Richard Kuhn, Nobel de química em 1938, demonstrou cientificamente que não existem traços de corante algum na tilma que expliquem a formação desta imagem por procedimentos humanos.
Mas a descoberta mais impressionante se produziu em 1979, quando o engenheiro peruano José Aste Tonsmann, residente nos Estados Unidos, mostrou que nas pupilas da imagem da Virgem haviam ficado registradas algumas imagens.
Utilizando uma série de aparelhos eletrônicos, Aste conseguiu reconstruir a imagem, que foi impressa misteriosamente no momento de abrir a tilma, identificando o índio Juan Diego, o bispo Juan de Zumárraga, o jovem intérprete do bispo, Juan Gonzáles e uma mulher negra, provavelmente a servente do bispo.
Mas junto a estes personagens, explica Renzo Allegri, Aste descobriu uma segunda cena, em segundo plano, composta por pessoas desconhecidas, e que representa uma família asteca, composta pelo pai, mãe, avós e três crianças.
«Refletindo sobre estas extraordinárias descobertas científicas, o Dr. Aste oferece, como crente, uma hipótese sugestiva. Diz que as cenas das pupilas poderiam constituir uma ‘mensagem’ da Virgem», explica o jornalista.
Esta mensagem, acrescenta, «estaria destinada ao nosso tempo, já que só nela poderia decifrar-se, graças à tecnologia, o segredo dos olhos de Nossa Senhora».
Esta mensagem «indicaria a importância da união da família e de seus valores; a presença, no olhar da Virgem, de pessoas de etnia diferente poderia ser uma mensagem antirracista; a tilma, que para os astecas era um autêntico instrumento de trabalho, poderia ser um convite a utilizar a tecnologia para difundir a palavra de Cristo», acrescenta Allegri.
O jornalista faz notar que as sessões dos últimos dois dias do encontro mundial das famílias, realizado na semana passada na Cidade do México, aconteceram no Santuário de Guadalupe.
Este encontro, acrescenta, «registrou uma participação imponente, demonstrando quão vivo é, no povo cristão, o valor da família também em nosso tempo», conclui.
Em plena crise, cardeal Ouellet pede ajuda para famílias
O primaz do Canadá comenta as conclusões do Encontro Mundial das FamíliasPor Gilberto Hernández García
CIDADE DO MÉXICO, quarta-feira, 21 de janeiro de 2009 (ZENIT.org-El Observador).- O papel dos latinos na América do Norte e a necessidade de que os governos apoiem as famílias neste momento de crise econômica e social são dois dos temas que o cardeal Marc Ouellet, arcebispo de Québec e primaz do Canadá, aborda nesta conversa.
O encontro com Zenit-El Observador aconteceu dentro do VI Encontro Mundial das Famílias, realizado de 14 a 18 de janeiro no México, em particular no Congresso Teológico Pastoral, no qual interveio com a palestra «Quais são os valores por descobrir e redescobrir?».
– A presença dos católicos latino-americanos nos Estados Unidos revitaliza a Igreja americana; como se dá esta dinâmica no Canadá? Qual é o papel evangelizador dos latinos na Igreja canadense?
– Cardeal Marc Ouellet: Nos últimos anos, nos Estados Unidos nota-se um crescimento na consciência da Igreja desta realidade; nos seminários dos Estados Unidos – Flórida, Califórnia e em outros lugares – há uma preocupação por que os sacerdotes aprendam espanhol e há uma boa parte deles que o faz, para poder atender as comunidades que vêm de outras regiões. Isso é um fato cultural novo que indica o peso da comunidade latino-americana nos Estados Unidos.
Creio que não podemos dizer exatamente o mesmo sobre o Canadá, mas esta abertura vai crescendo, esta acolhida, o testemunho da América Latina; em particular desde Aparecida eu vejo uma Igreja continental que se une mais e que tem mais clareza quanto à sua missão evangelizadora, e com o lema muito claro de que temos de formar discípulos missionários; isso é uma força extraordinária. A missão continental que começa com este impulso dado por Aparecida promete frutos, não só para a América Latina, mas também para o Norte (da América) e para toda a Igreja.
– É fato que existem famílias divididas: casais divorciados que voltam a se casar, famílias monoparentais, entre outras situações. Quais são os caminhos para fortalecer a instituição familiar?
– Cardeal Marc Ouellet: Parece-me interessante o que o presidente do México falou na inauguração: que o Estado deveria apoiar e considerar a família como patrimônio muito importante. Disse também que nem todos têm a oportunidade ou a sorte de ter uma família, com um pai, uma mãe, filhos e uma boa educação. Neste caso, os cristãos não são indiferentes com relação a estas situações difíceis.
Hoje em dia é preciso fortalecer a família como tal e não somente de maneira individual, como família, mas suscitar associações de famílias para que tenham uma força pública, de maneira que sejam mais escutadas pelo Estado e que sejam reconhecidas como sujeito social, porque não são somente os indivíduos que têm direitos. Se quisermos resolver a longo prazo os problemas de famílias monoparentais etc., a melhor estratégia é a prevenção, ou melhor dito, ajudar as famílias a terem consistência, estabilidade e assim ajudaremos a diminuir os fatores e fenômenos particulares.
– Como você considera que a crise econômica mundial impacta a família? Que esperanças o Encontro Mundial das Famílias ofereceu neste sentido?
– Cardeal Marc Ouellet: Há muitas famílias que vivem em condições econômicas difíceis; há um ano, quando os preços do petróleo estiveram a 140 dólares, isso foi uma tragédia. Vimos em várias partes grupos e pessoas gritando que já não podiam comprar os alimentos básicos porque o preço do petróleo fez os demais preços subirem demais. A crise econômica mundial – que não depende só do petróleo agora, e sim de uma má administração – impacta a família nos elementos básicos de sua vida, o alimento e a educação, porque é preciso investir o dinheiro nos alimentos, ou então como fazem para sustentar a educação, o colégio? Os problemas se multiplicam.
Creio que a reflexão deste encontro mundial é riquíssima. Falou-se da influência da comunicação na vida familiar, na cultura em geral. Isso é importante para os que trabalham neste campo e têm uma responsabilidade social. É importante que desenvolvamos atitudes favoráveis à família e não somente à liberdade individual, como acontece atualmente na cultura; que se pense na família, em sua estabilidade, em sua unidade. Ajudar para que se possam educar os filhos com paz, e não que tenham todas estas mensagens que complicam o trabalho dos pais e das mães no lar.
Há muita coisa que se pode transmitir como uma boa notícia da família cristã ao mundo inteiro. Este é o testemunho da Igreja Católica. Espero que este testemunho belo da Igreja seja cada vez mais reconhecido, porque é uma contribuição extraordinária para a paz e a civilização.
Família, onde se aprende a solidariedade
Entrevista com Carl Anderson, cavaleiro supremo de ColomboPor Karna Swanson
CIDADE DO MÉXICO, quarta-feira, 21 de janeiro de 2009 (ZENIT.org).- O futuro da sociedade depende do forte, autêntico e visível testemunho das famílias católicas, afirma o cavaleiro supremo dos Cavaleiros de Colombo.
Carl Anderson falou com Zenit do conteúdo de sua intervenção acerca do conceito de solidariedade, no recente Encontro Mundial das Famílias, no México, e qual considera ser o maior desafio para a família cristã.
–O tema de sua conferência no Encontro das Famílias foi «Família e solidariedade». Por que solidariedade?
–Anderson: A resposta mais breve seria que o tema me foi proposto. Ainda que foi um termo importante para João Paulo II. Obviamente pelo que sucedeu na Polônia e Europa oriental, nos anos 80 e 90 do século XX, mas especialmente penso que foi parte de sua visão de renovação para a Igreja e a sociedade.
Entender dita solidariedade em sentido cristão é realmente compreendê-la como uma comunhão do ser para os outros, e esta foi uma questão nuclear para João Paulo II, quanto à teologia do corpo, e a sua inteira compreensão da pessoa humana como ser em relação com outros. Portanto, esta é a ideia de solidariedade na família, e da família como modelo para a sociedade mais ampla; de testemunho de comunhão e solidariedade e de uma vida para os outros: primeiro na família, mas também fora, na comunidade da sociedade mais ampla.
–O senhor passou da ideia de unidade à de solidariedade, descrevendo o pensamento de João Paulo II e de Bento XVI. Como chegou a esta conclusão?
–Anderson: O que para mim é mais notável, ainda que talvez na sabedoria da Providência é justo o que deve ser, é que obviamente João Paulo II e Bento XVI são pessoas diferentes –têm diferentes especializações e interesses– mas há um grande paralelismo entre seus dois modos de pensar.
Ver Bento XVI completar e construir ao redor das ideias que João Paulo II introduziu enquanto solidariedade, unidade e comunhão de pessoas e o que isso significa, e vê-lo fazer progredir esta ideia, ampliá-la e aprofundá-la, manifesta precisamente a continuidade do ensinamento da Igreja, e a tradição e vida da Igreja. Portanto, é algo bom e penso que somos afortunados com estes dois grandes papas da história da Igreja.
–A ideia de solidariedade na família parece algo que deveria dar-se espontaneamente. Pensa que a solidariedade é algo natural na sociedade e nunca algo desintegrador?
–Anderson: Penso que uma das maiores contribuições de João Paulo II é a concepção de que isto não são ideias, mas que atualmente constroem a verdadeira estrutura da existência humana como parte do plano do Criador. Se pensamos nos dois grandes mandamentos –amor a Deus e ao próximo–, o amor se integra na verdadeira vocação da pessoa humana, em seu verdadeiro centro. E então não deveria surpreender-nos que a estrutura da existência humana esteja desenhada de tal maneira que nos leva a este tipo de relação entre nós. Esta é uma das mais importantes contribuições, penso, que João Paulo II deu ao magistério da Igreja, e creio que agora estamos só começando a ver o quão importante é e as amplas implicações que tem.
–Quais são os maiores desafios para a família hoje nos EUA?
–Anderson: É difícil saber por onde começar. Certamente, há óbvias pressões econômicas, sociais e culturais. Mas penso que o grande desafio que a família cristã enfrenta hoje é descobrir o que significa ser cristão. O que significa dizer que Jesus é o Senhor. Crer no que dizemos no Credo e viver esta vida primeiro na família e, em seguida, na sociedade. Ser verdadeiros testemunhos.
Há quarenta anos, o padre Joseph Ratzinger, falando a um grupo de estudantes, disse que o atormenta muitos cristãos, mais que a questão da existência de Deus, é a questão de se o cristianismo supõe uma diferença distintiva, se há algo novo na sociedade que vemos ao nosso redor que provenha do cristianismo. E este tipo de testemunho distintivo é um desafio que a família cristã enfrenta fundamentalmente.
Há diferença entre a sociedade secular e o modo em que os cristãos contraem o matrimônio, geram seus filhos, educam seus filhos, no modo como trabalham, como tratam seus empregados, no modo como tratam seus clientes, como votam? O não se distinguem da sociedade secular?
Se não há diferença, voltamos à grande questão do padre Ratzinger, então o que foi de novo que Jesus trouxe? Penso que este é o desafio das famílias cristãs.
Meditação para o quinto dia da Semana pela Unidade dos Cristãos
Os cristãos diante das discriminações e dos preconceitos sociaisCIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 21 de janeiro de 2009 (ZENIT.org).- Publicamos o comentário aos textos bíblicos escolhidos para o quinto dia da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, 22 de janeiro.
O texto forma parte dos materiais distribuídos pela Comissão Fé e Constituição do Conselho Ecumênico das Igrejas e o Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos. A base do texto foi redigida por uma equipe de representantes ecumênicos da Coréia.
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Os cristãos diante das discriminações e dos preconceitos sociais
Is 58, 6-12
Não te esquives daquele que é tua própria carne
Sl 133
Que prazer encontrar-se entre irmãos
Gl 3, 26-29
Todos vós sois um só em Cristo
Lc 18, 9-14A estes, convencidos de serem justos
ComentárioNo início do mundo, os seres humanos criados à imagem de Deus constituíam uma só humanidade “unidos em tua mão”.
No entanto, o pecado interferiu no coração do homem... Desde então, não cessamos de construir categorias discriminatórias. Neste mundo, muitas escolhas são feitas com base na raça ou etnia; há casos em que a identidade sexual ou o simples fato de ser homem ou mulher alimenta os preconceitos; em outros lugares, ainda, o obstáculo é a religião, usada como feitora de exclusão. Todas estas discriminações são desumanas. Elas são fontes de conflito e de grande sofrimento.
No seu ministério terrestre, Jesus mostrou-se particularmente sensível à humanidade comum, a todos os homens e mulheres. Ele denunciou sem cessar as discriminações de toda espécie e as vantagens que alguns podiam tirar disso. Jesus mostra que nem sempre os “justos” são aqueles que parecem sê-lo, e alerta que o desprezo não tem lugar no coração dos verdadeiros crentes.
Como os benefícios do óleo precioso ou do orvalho do Hermon, o Salmo 133 canta a felicidade da vida fraternalmente partilhada. Quão prazeroso e alegre é viver juntos como irmãos e irmãs: é esta a graça que saboreamos no fundo do coração em nossos encontros ecumênicos, quando renunciamos às discriminações confessionais.
Restaurar a unidade da família humana é missão comum de todos os cristãos. Importa agirmos unidos contra toda sorte de discriminação. Esta é a esperança que partilhamos: não há judeu, nem grego; nem escravo, nem livre; nem homem, nem mulher, pois todos somos “um” em Cristo Jesus.
OraçãoSenhor, faz-nos perceber as discriminações e exclusões que marcam nossa sociedade. Conduze nosso olhar e ajuda-nos a reconhecer os preconceitos que habitam em nós. Ensina-nos a expulsar todo desprezo de nosso coração, para apreciarmos a alegria de viver jutos em unidade. Amém.
Bento XVI: «Não pode haver diálogo ecumênico sem conversão interior»
Intervenção hoje durante a audiência geralCIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 21 de janeiro de 2009 (ZENIT.org).- Oferecemos a seguir o discurso completo pronunciado nesta quarta-feira por Bento XVI aos milhares de peregrinos congregados na Sala Paulo VI para a audiência geral, dentro da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos.
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Queridos irmãos e irmãs
No domingo passado começou a «Semana de oração pela unidade dos cristãos», que concluirá no próximo domingo, festa da Conversão de São Paulo Apóstolo. Trata-se de uma iniciativa espiritual belíssima, que está se estendendo cada vez mais entre os cristãos, em sintonia, e poderíamos dizer, em resposta à importante invocação que Jesus dirigiu ao Pai no cenáculo, antes de sua Paixão: «Que sejam uma só coisa, para que o mundo creia que tu me enviaste» (João 17, 21). Em quatro ocasiões, durante esta oração sacerdotal, o Senhor pede a seus discípulos que sejam «uma só coisa», segundo a imagem da unidade entre o Pai e o Filho. Trata-se de uma unidade que só pode crescer no exemplo da entrega do Filho ao Pai, ou seja, saindo de si e unindo-se a Cristo. Por duas vezes também, nesta oração Jesus acrescenta como fim desta unidade: para que o mundo creia. A unidade plena está conectada, portanto, à vida e à própria missão da Igreja no mundo. Esta deve viver uma unidade que só pode derivar de sua unidade com Cristo, com sua transcendência, como sinal de que Cristo é a verdade. Esta é nossa responsabilidade: que seja visível para o mundo o dom de uma unidade em virtude da qual nossa fé se torne crível. Por isso, é importante que cada comunidade cristã tome consciência da urgência de trabalhar de todas as formas possíveis para chegar a este grande objetivo. Mas sabendo que a unidade é antes de tudo «dom» do Senhor, é importante ao mesmo tempo implorá-la com oração incansável e confiada. Só saindo de nós mesmos e dirigindo-nos a Cristo, só na relação com Ele podemos chegar a estar realmente unidos entre nós. Este é o convite que, com a presente «Semana», recebemos como crentes em Cristo de toda igreja e comunidade eclesial; a ele, queridos irmãos e irmãs, devemos responder com generosidade.
Este ano, a «Semana de oração pela unidade dos cristãos» propõe para a nossa meditação e oração estas palavras tomadas do livro do profeta Ezequiel: «Estarão unidos em tua mão» (37, 17). O tema foi escolhido por um grupo ecumênico da Coreia, e revisado depois para sua divulgação internacional pelo Comitê Misto de Oração, formado por representantes do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos e pelo Conselho Ecumênico das Igrejas de Genebra. O mesmo processo de preparação foi um estimulante e fecundo exercício de autêntico ecumenismo.
Na passagem do livro do profeta Ezequiel da qual se tirou o tema, o Senhor ordena ao profeta que tome duas madeiras, uma como símbolo de Judá e suas tribos, e a outra como símbolo de José e de toda a casa de Israel unida a ele, e lhes pede que as «aproxime», de modo que formem uma só madeira, «uma só coisa» em sua mão. É transparente a parábola da unidade. Aos «filhos do povo», que pedirão explicação, Ezequiel, iluminado desde o Alto, dirá que o próprio Senhor toma as duas madeiras e as aproxima, de forma que os dois reinos com suas respectivas tribos, divididas entre si, sejam «uma só coisa em tua mão». A mão do profeta, que aproxima os dois lenhos, é considerada como a mão do próprio Deus que recolhe e unifica seu povo e finalmente a humanidade inteira. Podemos aplicar as palavras do profeta aos cristãos, como uma exortação a rezar, a trabalhar, fazendo todo o possível para que se cumpra a unidade de todos os discípulos de Cristo; trabalhar para que nossa mão seja instrumento da mão unificadora de Deus. Esta exortação é particularmente comovedora e importante nas palavras de Jesus após a Última Ceia. O Senhor deseja que seu povo inteiro caminhe – e vê nele a Igreja do futuro, dos séculos futuros – com paciência e perseverança para a realização da unidade plena, atitude esta que comporta a adesão dócil e humilde ao mandato do Senhor, que o abençoa e o torna fecundo. O profeta Ezequiel nos assegura que será precisamente Ele, nosso único Senhor, o único Deus, que nos colherá em «sua mão».
Na segunda parte da leitura bíblica se aprofunda no significado e nas condições da unidade das diversas tribos em um só reino. Na dispersão entre os gentios, os israelenses haviam conhecido cultos errôneos, haviam assimilado concepções de vida equivocadas, haviam assumido costumes alheios à lei divina. Agora o Senhor declara que já não se contaminarão mais com os ídolos dos povos pagãos, com suas abominações, com todas suas inquietudes (cf. Ezequiel 37, 23). Exige a necessidade de libertá-los do pecado, de purificar seu coração. «Eu os livrarei de todas as suas rebeldias – afirma –, e os purificarei». E assim «serão meu povo e eu serei seu Deus» (ibidem). Nesta condição de renovação interior, estes «seguirão meus mandamentos, observarão minhas leis e as porão em prática». E o texto profético termina com a promessa definitiva e plenamente salvífica: «Farei com eles uma aliança de paz... Porei meu santuário, ou seja, minha presença, no meio deles» (Ezequiel 37, 26).
A visão de Ezequiel é particularmente eloquente para todo o movimento ecumênico, porque manifesta a exigência imprescindível de uma renovação interior autêntica em todos os componentes do Povo de Deus, que só o Senhor pode realizar. A esta renovação devemos estar abertos também nós, porque também nós, dispersos entre os povos do mundo, aprendemos costumes muito distantes da Palavra de Deus. «Assim como hoje a renovação da Igreja – lê-se no Decreto sobre o ecumenismo do Concílio Vaticano II – consiste essencialmente no crescimento da fidelidade à sua vocação, esta é sem dúvida a razão do movimento rumo à unidade» (UR, 6), ou seja, uma maior fidelidade à vocação de Deus. O decreto sublinha também a dimensão interior da conversão do coração. «O ecumenismo verdadeiro – acrescenta – não existe sem a conversão interior, porque o desejo da unidade nasce e amadurece na renovação da mente, na abnegação de si mesmo e no exercício pleno da caridade (UR, 7).» A «Semana de oração pela unidade» se converte, desta forma, para todos nós, em estímulo a uma conversão sincera e a uma escuta cada vez mais dócil à Palavra de Deus, a uma fé cada vez mais profunda.
A «Semana» é também uma ocasião propícia para agradecer ao Senhor por tudo o que nos concedeu fazer até agora «para aproximar» uns dos outros, os cristãos divididos, e as próprias Igrejas e comunidades eclesiais. Este espírito animou a Igreja Católica, a qual, durante o ano passado, prosseguiu, com firme convicção e segura esperança, mantendo relações fraternas e respeitosas com todas as igrejas e comunidades eclesiais do Oriente e do Ocidente. Na variedade das situações, às vezes mais positivas e às vezes com mais dificuldades, esforçou-se por não decair nunca no empenho de realizar todos os esforços para a recomposição da unidade plena. As relações entre as Igrejas e os diálogos teológicos continuaram dando sinais de convergências espirituais alentadoras. Eu mesmo tive a alegria de encontrar, aqui no Vaticano e ao longo das minhas viagens apostólicas, cristãos procedentes de todos os horizontes. Acolhi com viva alegria por três ocasiões o Patriarca Ecumênico Sua Santidade Bartolomeu I e, como acontecimento extraordinário, nós o ouvimos tomar a palavra, com calor eclesial fraterno e com confiança convencida no porvir, durante a recente assembléia do Sínodo dos Bispos. Tive o prazer de receber os dois Catholicoi da Igreja Apostólica Armênia: Sua Santidade Karekin II, de Etchmiazin, e Sua Santidade Aram I, de Antelias. E, finalmente, compartilhei a dor do Patriarcado de Moscou pela partida do amado irmão em Cristo, o Patriarca Sua Santidade Alexis II, e continuo permanecendo em comunhão de oração com estes irmãos nossos que se preparam para eleger o novo Patriarca da venerada e grande Igreja Ortodoxa. Igualmente, foi-me dado encontrar representantes das diversas Comunhões cristãs do Ocidente, com os quais prossegue o diálogo sobre o importante testemunho que os cristãos devem dar hoje de forma concorde, em um mundo cada vez mais dividido e enfrentado tantos desafios de caráter cultural, social, econômico e ético. Por isso e por tantos outros encontros, diálogos e gestos de fraternidade que o Senhor nos permitiu poder realizar, agradecemos-lhe juntos com alegria.
Queridos irmãos e irmãs, aproveitemos a oportunidade que a «Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos» nos oferece para pedir ao Senhor que prossigam e, se for possível, que se intensifiquem, o compromisso e o diálogo ecumênicos. No contexto do Ano Paulino, que comemora o bimilênio do nascimento de São Paulo, não podemos não referir-nos ao que o Apóstolo Paulo nos deixou escrito a propósito da unidade da Igreja. Cada quarta-feira dedicarei minha reflexão às suas cartas e ao seu precioso ensinamento. Retomo aqui simplesmente quando escreveu dirigindo-se à comunidade de Éfeso: «Um só corpo e um só espírito, como uma só é a esperança à qual fostes chamados, a da vossa vocação. Um só Senhor, uma só fé, um só batismo» (Ef 4, 4-5). Façamos nosso o anseio de São Paulo, que dedicou sua vida inteiramente ao único Senhor e à unidade de seu Corpo Místico, a Igreja, dando, com o martírio, um supremo testemunho de fidelidade e de amor a Cristo.
Seguindo seu exemplo e contando com sua intercessão, que cada comunidade cresça no empenho da unidade, graças às diversas iniciativas espirituais e pastorais e às assembléias de oração comum, que costumam ser mais numerosas e intensas nesta «Semana», fazendo-nos já saborear antecipadamente, de certa forma, o gozo da unidade plena. Oremos para que entre as Igrejas e Comunidades eclesiais continue o diálogo da verdade, indispensável para dirimir as divergências, e o da caridade, que condiciona o próprio diálogo teológico e ajuda a viver unidos para um testemunho comum. O desejo que habita em nossos corações é de que chegue logo o dia da comunhão plena, quando todos os discípulos do único Senhor nosso poderão finalmente celebrar juntos a Eucaristia, o sacrifício divino para a vida e a salvação do mundo. Invocamos a intercessão maternal de Maria, para que ajude todos os cristãos a cultivarem uma escuta mais atenta da Palavra de Deus e uma oração mais intensa pela unidade.
[Tradução: Élison Santos. Revisão: Aline Banchieri
© Copyright 2009 - Libreria Editrice Vaticana]
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