RIO, BRASÍLIA e TEL AVIV - O governo israelense condenou nesta sexta-feira oanúncio do governo brasileiro de que reconhece o Estado palestino com as fronteiras anteriores a 1967, ao considerar que pode minar o processo de paz. A comunidade muçulmana e a liderança palestina, por sua vez, viram na decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma iniciativa que pode contribuir para o fim da violência na região.
A decisão brasileira envolve identificar todos os territórios ocupados na Cisjordânia (Jerusalém Oriental e arredores) como parte da nação palestina. Comunicado no início da tarde desta sexta-feira pelo Itamaraty, o anúncio atendeu um pedido formal do presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, feito a Lula em novembro.
- Nós lamentamos e expressamos nossa lástima e decepção quanto ao comunicado do Brasil. Com esse anúncio, o presidente do Brasil não contribui, mas prejudica o processo de paz - disse Andy David, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel.
O rechaço de Israel foi reforçado por Osias Wurman ( ouça ), seu cônsul honorário no Rio de Janeiro. Ele tachou o anúncio de inconveniente e inoportuno, por ser feito no momento em que seu país enfrenta "a maior crise ecológica e humanitária de sua história" - um incêndio florestal no norte israelense já deixou 42 mortos.
- Recebi a nota com profunda tristeza. É um momento infeliz para divulgar qualquer iniciativa que fere a tradição das conversações diretas entre palestinos e israelenses que vem se desenvolvendo há quase uma década. É lamentável de todos os aspectos - afirmou Wurman.
O diplomata cobrou neutralidade do Brasil no caso e disse esperar que a atitude possa contribuir para as negociações de paz.
- O Itamaraty infelizmente tomou uma posição unilateral favorável à ideia de alguns palestinos e totalmente contrária aos princípios do Estado de Israel. Se o Brasil deseja participar como parceiro nas negociações de paz no Oriente Médio, devia manter uma posição neutra - completou.
Abbas: 'Incentivo à paz'O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, expressou satisfação com o anúncio brasileiro. Segundo um comunicado divulgado pela agência estatal "Wafa", ele destacou "o profundo apreço à liderança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva."
"A resolução mostra os princípios do Brasil e seu respeito às leis internacionais. Esse é um grande incentivo ao Brasil e à comunidade internacional para que todos caminhem rumo à paz e à segurança internacional", diz a nota.
Representante da ANP no Brasil, o embaixador Ibrahim al-Zeben aproveitou ( ouça ) a ocasião para cobrar que outros países tomem atitude parecida.
- (O anúncio) Marca uma nova etapa das relações entre os dois países. Esse passo brasileiro vai facilitar para que o Estado (palestino) seja realmente concreto. Esperamos que a Europa siga o exemplo do Brasil - afirmou.
A comunidade muçulmana no Brasil também encarou o anúncio como benéfico para o processo de paz e aplaudiu a posição do presidente Lula na questão palestina.
- Foi uma coisa sensata do governo brasileiro. Você não pode simplesmente esquecer o povo palestino. Se Israel tem direito, os palestinos também têm. As pessoas que têm consciência têm que reconhecer ambos os lados. Essa medida, partindo do nosso governante, nos deixa com muito orgulho - disse Mohamed Hussein el-Zoghbi ( ouça ), presidente da Federação das Associações Muçulmanas do Brasil.
Ângela Góes, Daniela Kresch, Rafael Roldão e Sérgio Roxo
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