"... Assim, em meu parecer, sobretudo como efeito inevitável de uma longa e cruenta guerra civil, a nossa sociedade, em geral e a de Luanda em particular, enferma de numerosas e agudas mazelas. De imediato, é notória uma grave barbarização de atitudes e de comportamentos de uma vasta parcela da nossa gente, visível no aumento da violência e da bruteza nas relações de um número excessivo de pessoas entre si. Como consequência disso, sobrou uma funda cesura (corte) com o passado que engendrou um esvaziamento de tradições e dos respectivos saberes e valores que se escancara hoje em condutas frequentemente desorientadas e asociais.
Mas, a tarefa mantém-se colossal, por isso, não podemos alimentar qualquer ilusão; na verdade, mesmo se as respostas do Estado e da chamada Sociedade Civil tivessem sido, ou fossem, correctas, o que nem sempre ocorreu, as questões, que se levantam em todos os recantos do território nacional, persistem na sua aspereza intrínseca. A despeito dessas insuficiências evidentes, houve, depois de 2002, não hesito em declará-lo, uma manifesta melhoria da situação geral de relevantes camadas do povo, contudo, este percurso pecou, creio, por imoderada e, tendencialmente perigosa, desigualdade socio-económica. A meu ver, tal desenvolvimento aconteceu por um excesso de acções improvisadas e, não raro, imbuídas de um espírito de inspiração neo-liberal, que atribui à alegada capacidade espontânea do mercado a solução de múltiplas carências gritantes e dolorosas. Quanto a mim, compete antes do mais ao Estado remediar àquelas penúrias da maneira mais racional e justa, por consequência, menos submissa ao puro lucro. Este, entregue a si próprio e isento de qualquer controle social unicamente respeita o proveito singular e menospreza o interesse colectivo, como a História e a Economia mais lúcidas, inclusivamente em Angola, antes e depois da independência, já o demonstraram.
É pertinente lembrar aqui que cabe à educação, no sentido lato do termo, desempenhar um papel muito mais reflectido, abrangente e diferenciado do que se tem passado até à actualidade. Ela representa, como o provam todos os Estados ricos, ou “emergentes”, um factor estruturante básico inevitável para maturação evolutiva de um povo. Não olvidemos nunca que a maior riqueza de um país são- sem sombra de discussão- os seus cidadãos, contudo para que essa abundância aumente, temos que formar bem as pessoas, de jeito, a que elas se tornem, cada vez, mais detentoras de bens materiais e espirituais, próprios de uma sociedade avançada.
Também é claro que, para nos tornarmos uma Nação forte e mais pujante, temos que ir construindo agora uma administração, cada vez mais consciente da noção da coisa pública e mais instruída nas habilidades à altura das exigências da população. Brincando um tanto, seria bom que os nossos ricos entendessem que ficariam ainda melhor se a totalidade dos seus compatriotas possuisse muito mais.
Pessolmente, saliento, que nós temos a obrigação moral, perante o nosso martirizado povo, de fazer, em todos os domínios, melhor que os colonialistas. E respondo, enquanto patriota angolano que lutou com armas na mão para a independência da Pátria. Vejo, por consequência, esta postura como um Imperativo kantiano, ou seja, segundo o pensamento do notável pensador alemão Kant, como dever ético a cumprir infalivelmente."
Para os angolanos, os luandense, para homens e mulheres de bom senso!
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