quarta-feira, janeiro 14, 2009

ZP090114

ZENIT

O mundo visto de Roma

Serviço diario - 14 de janeiro de 2009



SANTA SÉ
Papa explica que quem está em Cristo «não tem medo de nada nem de ninguém»
Tribunal do Papa recebe confissão de pecados especiais
Brasil: nomeado bispo auxiliar de Passo Fundo

ESPECIAL: ENCONTRO MUNDIAL DAS FAMÍLIAS
Papa espera que México redescubra beleza da família
Cardeal Ouellet: crise antropológica explica legislações antifamília
Pregador do Papa: cristãos devem redescobrir beleza do matrimônio
Delegação de Angola aborda educação da família no México
Brasileiros participam do Encontro das Famílias no México
Presidente do México vê relação entre ruptura familiar e violência
Transmissão do Encontro Mundial das Famílias pela internet

ENTREVISTAS
Por que a família não transmite valores

AUDIÊNCIA DE QUARTA-FEIRA
Bento XVI: Cristo é a força da Igreja

Santa Sé

Papa explica que quem está em Cristo «não tem medo de nada nem de ninguém»

O senhorio de Cristo sobre o cosmos é a «chave» para uma relação correta com o Criador

Por Inma Álvarez

CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 14 de janeiro de 2009 (ZENIT.org).- O cristão «não tem medo de nada nem de ninguém», pois Cristo, cabeça da Igreja, é o Senhor do cosmos, assegurou Bento XVI nesta quarta-feira, durante a audiência geral realizada na Sala Paulo VI. 

Continuando com o ciclo sobre São Paulo, no bimilênio de seu nascimento, o Papa explicou um aspecto da doutrina paulina contido nas cartas aos Colossenses e aos Efésios – duas cartas «quase gêmeas», explicou – que é a consideração de Cristo como «cabeça» da Igreja e de todo o cosmos, e as implicações que isso tem para a vida dos cristãos. 

Este «senhorio de Cristo» sobre «as potências celestes e o cosmos inteiro» constitui «uma mensagem altamente positiva e fecunda» para o homem pagão de ontem e de hoje, explicou aos mais de quatro mil peregrinos que participaram do encontro. 

«Para o mundo pagão, que acreditava em um mundo cheio de espíritos, em grande parte perigosos e contra os quais era preciso defender-se, aparecia como uma verdadeira libertação o anúncio de que Cristo era o único vencedor e de que quem estava com Cristo não tinha que temer ninguém.»

O Papa acrescentou que «o mesmo vale para o paganismo de hoje, porque também os atuais seguidores destas ideologias veem o mundo cheio de poderes perigosos. A estes é necessário anunciar que Cristo é vencedor, de modo que quem está com Cristo, quem permanece unido a Ele, não deve temer nada nem ninguém». 

Iswo é importante também para os cristãos, acrescentou: «devemos aprender a enfrentar todos os medos, porque Ele está acima de toda dominação, é o verdadeiro Senhor do mundo». 

Cristo, explicou o Papa, «não tem que temer nenhum eventual competidor, porque é superior a qualquer forma de poder que tentar humilhar o homem. Só Ele ‘nos amou e entregou a si mesmo por nós’ (Ef 5, 2). Por isso, se estamos unidos a Cristo, não devemos temer nenhum inimigo e nenhuma adversidade; mas isso significa também que devemos permanecer bem unidos a Ele, sem soltar!». 

Isso tem outra implicação, assinalou, e é que o cosmos «tem sentido»: «não existe, por uma parte, o grande mundo material e por outra esta pequena realidade da história da nossa terra, o mundo das pessoas: tudo é um em Cristo». 

Esta visão não só é «racional», mas é inclusive «a mais universalista»: «a Igreja reconhece que Cristo é maior que ela, dado que seu senhorio se estende também além de suas fronteiras». 

«Tudo isso significa que devemos positivamente considerar as realidades terrenas, porque Cristo as recapitula em si, e ao mesmo tempo, devemos viver em plenitude nossa identidade específica eclesial, que é a mais homogênea à identidade do próprio Cristo», acrescentou o Papa. 

Desta consciência vem aos cristãos «a força de atuar de forma reta», tanto diante dos demais como com a criação, explicou. 

«Estas duas cartas são uma grande catequese, da qual podemos aprender não só como ser bons cristãos, mas também como chegar a ser realmente homens. Se começamos a entender que o cosmos é a marca de Cristo, aprendemos nossa relação reta com o cosmos, com todos os problemas de sua conservação.»

Assim também «aprendemos a vê-los com a razão, mas com uma razão movida pelo amor, e com a humildade e o respeito que permitem atuar de forma correta», acrescentou. 

Por outro lado, «se pensamos que a Igreja é o Corpo de Cristo, que Cristo se deu a si mesmo por ela, aprendemos como viver com Cristo o amor recíproco, o amor que nos une a Deus e que nos faz ver ao outro como imagem de Cristo, como Cristo mesmo». 

Diante deste «mistério de Cristo», afirmou o Papa, «as meras categorias intelectuais são insuficientes». 

«Reconhecendo que muitas coisas estão além de nossas capacidades racionais, devemos confiar na contemplação humilde e gozosa não só da mente, mas também do coração. Os pais da Igreja, por outro lado, nos dizem que o amor compreende muito mais que a razão apenas», concluiu.

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Tribunal do Papa recebe confissão de pecados especiais

Um simpósio em Roma analisa a história da Penitenciaria Apostólica

Por Inma Álvarez

ROMA, quarta-feira, 14 de janeiro de 2009 (ZENIT.org).- O mistério do perdão e da reconciliação na mensagem cristã são o centro e a razão de ser do mais antigo dos dicastérios vaticanos, a Penitenciaria Apostólica, que realiza nestes dias em Roma um simpósio sobre o sacramento da Penitência.

Neste simpósio, que concluiu nesta quarta-feira, abordou-se sobretudo a história da própria Penitenciaria, que hoje é presidida pelo cardeal americano James F. Stafford. 

Este tribunal da Santa Sé nasceu no século XII, com a tarefa fundamental de receber a confissão dos pecados, em nome do Papa, que só podiam ser perdoados diretamente por ele, dada sua gravidade, ou para conceder dispensas e graças reservadas ao Sumo Pontífice. 

Foi precisamente a onda de peregrinos que ia a Roma durante a Baixa Idade Média, junto a uma reflexão mais profunda sobre o sacramento da Penitência, que motivou o nascimento da Penitenciaria Apostólica. 

A constituição apostólica «Pastor Bonus» que rege à Cúria Romana, publicada por João Paulo II, confirma que a competência do Tribunal da Penitenciaria compreende tudo o que se refere ao foro interno (as questões de consciência), assim como tudo o que corresponde às indulgências. 

O purpurado confessou que ele mesmo, após sua nomeação como Penitenciário Maior, para compreender sua nova missão, dedicou várias semanas «de meditação intensa e de oração sobre a ontologia do perdão e da reconciliação na Igreja Católica». 

«As palavras e a linguagem do perdão são centrais no mistério da reconciliação cristã. Só a linguagem torna possível a comunicação da reconciliação entre nós», explicou. 

Durante os séculos, as competências da Penitenciaria, que no começo envolviam muitas questões relacionadas às dispensas papais sobre o matrimônio etc., foram centrando-se na questão do sacramento e o fórum interno do penitente. 

O desenvolvimento do pensamento e a compreensão do fórum interno da pessoa humana, explicou o cardeal, «foi central para a concepção, exclusivamente ocidental, do ser humano entendido como pessoa». 

«A liberdade humana traz consigo o desafio ilimitado com a nossa responsabilidade. Lentamente, percebi como a teologia da reconciliação prevê a Cruz de Cristo em seu centro. É a contradição do mal.»

«Detive-me especialmente em Jesus abandonado pelo Pai. O ilógico do pecado foi ‘capturado pela lógica do amor da Trindade’. Para mim se havia tornado impossível compreender o mistério do inferno e o perdão do Pai aceitando o commercium admirabile de Jesus, sem penetrar no mistério do abandono de Jesus por parte do Pai na sexta-feira santa e no sábado santo», acrescentou. 

Este é o espírito que animou desde seu nascimento a Penitenciaria, afirmou o purpurado: «entre os mais monstruosos pecados da raça humana, o penitente está chamado a reconhecer que ele é devedor com seu humilde e indivisível serviço, só ao Senhor Deus». 

«Sem Deus, não existe drama algum capaz de dar substância à liberdade estrutural do homem», acrescentou. 

A Penitenciaria Apostólica «tenta convidar as pessoas à interioridade de sua vida cristã», explicou o cardeal Stafford. «A Igreja sempre esteve convencida de que o penitente não pode aproximar-se da conversão de forma solitária. A liberdade humana sempre está envolvida em um diálogo com a liberdade divina», acrescentou. 

Mais informação em www.penitenzieria.va

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Brasil: nomeado bispo auxiliar de Passo Fundo

Mons. Liro Vendelino Meurer, atualmente pároco em Porto Alegre

CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 14 de janeiro de 2009 (ZENIT.org).- Segundo informou a Santa Sé esta quarta-feira, Bento XVI nomeou bispo auxiliar de Passo Fundo (Rio Grande do Sul, Brasil) mons. Liro Vendelino Meurer, atualmente pároco da paróquia São Geraldo, em Porto Alegre (RS).

De acordo com a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), o pedido de um bispo auxiliar para Passo Fundo foi feito pelo bispo diocesano, Dom Ercílio Simon.

Pertencente ao clero arquidiocesano de Porto Alegre, mons. Liro Vendelino Meurer nasceu no dia 13 de julho de 1954, na localidade de Linha de Júlio de Castilhos, município de Montenegro, atualmente Salvador do Sul. 

Estudou filosofia na Faculdade do Seminário Maior Nossa Senhora Imaculada Conceição, em Viamão (RS), e teologia na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

Sua ordenação sacerdotal aconteceu no dia 12 de dezembro de 1981. Durante seus anos de sacerdócio, exerceu as funções de vigário paroquial, pároco, reitor de seminário, entre outros cargos.

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Especial: Encontro Mundial das Famílias

Papa espera que México redescubra beleza da família

Pede orações pelo VI Encontro Mundial das Famílias

CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 14 de janeiro de 2009 (ZENIT.org).- Bento XVI confessou sua esperança de que o VI Encontro Mundial das Famílias, que acontece de quarta-feira a domingo na Cidade do México, permita redescobrir a beleza da célula fundamental da sociedade. 

Pouco antes de que começasse o primeiro dia do Congresso Teológico Pastoral do Encontro, o pontífice, ao despedir-se dos milhares de peregrinos que participaram da audiência geral, sublinhou a importância do evento. 

«Convido-vos a unir-vos à minha oração para implorar a abundância das graças divinas sobre o VI Encontro Mundial das Famílias, que está se realizando nestes dias na Cidade do México», disse, falando em italiano. 

«Que este importante acontecimento eclesial manifeste mais uma vez a beleza e o valor da família, suscitando em todos novas energias a favor desta insubstituível célula fundamental da sociedade e da Igreja», desejou. 

Bento XVI se fará presente, graças às noavs tecnologias da comunicação, nos dois momentos culminantes do encontro: na tarde/noite do sábado – horário local –, transmitirá uma vídeo-mensagem ao encontro festivo que acontecerá no átrio da Basílica de Guadalupe. 

Na manhã do domingo, acompanhará pela televisão toda a missa de encerramento e no final dirigirá sua palavra aos presentes. 

O Papa indicou que os participantes do Encontro podem alcançar a indulgência plenária, assim como as famílias que, ao não poderem estar presentes, se unirem em oração ao acontecimento. 

Os Encontros Mundiais das Famílias foram criados por João Paulo II, que convocou o primeiro em Roma, em 1994, por ocasião do Ano Internacional da Família convocado pelas Nações Unidas. 

Os seguintes encontros foram celebrados no Rio de Janeiro (1997), Roma (2000, ano do grande Jubileu), Manila (2003) e Valência (2006).

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Cardeal Ouellet: crise antropológica explica legislações antifamília

Intervenção no Congresso Mundial da Família do primaz do Canadá

Por Jesús Colina

CIDADE DO MÉXICO, quarta-feira, 14 de janeiro de 2009 (ZENIT.org-El Observador).- A crise da família não é só uma crise moral, é uma crise mais profunda, antropológica – de concepção da mulher e do homem –, que explica legislações contra a família, sublinhou o cardeal Marc Ouellet, P.S.

O arcebispo de Quebec ilustrou, na jornada inaugural do Congresso Teológico Pastoral com o qual começou esta quarta-feira o VI Encontro Mundial da Família, o atual «transtorno dos valores», que explica a adoção em alguns países de leis que dão o reconhecimento jurídico do matrimônio a casais homossexuais, inclusive a possibilidade da adoção. 

Em jogo está, segundo o primaz do Canadá, uma  «batalha cultural», na qual «uma visão do mundo sem Deus tenta suplantar a herança judaico-cristã», com danos graves «no campo humano, social e religioso». 

Como consequência, constata o cardeal de 64 anos, à fragilidade crescente dos casais se acrescentaram os problemas graves e educativos ligados à perda dos modelos paternos e à influência de correntes de pensamento que rejeitam os próprios fundamentos da instituição familiar». 

Esta crise antropológica, indicou, particularmente estendida no Ocidente, foi promovida em boa medida pela ideologia do gênero (gender theory), que desnaturaliza «a realidade do matrimônio e da família repropondo a noção do casal humano a partir dos desejos subjetivos do indivíduo, tornando praticamente insignificante a diferneça sexual, até o ponto de tratar de forma equivalente a união heterosexual e as relações homossexuais». 

«Segundo esta teoria – esclareceu –, a diferença sexual inscrita na realidade biológica do homem e da mulher não influi de modo significante na identidade sexual dos indivíduos porque esta é o resultado de uma orientação subjetiva e de uma construção social.»

«Sob a pressão destas ideologias, às vezes abertamente anticristãs, certos Estados procedem a legislações que restabelecem o sentido do matrimônio, da procriação, da filiação e da família, sem levar em conta as realidades antropológicas fundamentais que estruturam as relações humanas.»

«Várias organizações internacionais participam neste  movimento de destruição do matrimônio e da família em proveito de certos grupos de pressão bem organizados que perseguem seus próprios interesses em detrimento do bem comum», denunciou. 

«A Igreja Católica critica fortemente estas correntes culturais que obtêm facilmente o apoio dos meios modernos de comunicação», pois tocam a natureza própria do homem e da mulher. 

Diante deste panorama, o purpurado propôs, quase três décadas depois, redescobrir as propostas que fez João Paulo II na exortação apostólica pós sinodal «Familiaris Consortio» (22 de novembro de 1981). 

Nela, o magistério pontifício «define o matrimônio como uma união pessoal na qual os esposos se dão e se recebem reciprocamente», explicou o cardeal canadense. 

«Ao definir a essência da família e sua missão pelo amor e não em primeiro lugar pela procriação, o Papa não faz uma concessão duvidosa à mentalidade contemporânea», declarou Ouellet. 

Pretende alcançar «as próprias raízes da realidade», afirmando a continuidade íntima «entre o amor pessoal dos esposos e a transmissão da vida». 

Deste modo, declarou, os três valores do matrimônio – a procriação, o amor fiel e a indissolubilidade – encontram seu «eixo» no «amor conjugal fecundo». 

A intervenção do cardeal Ouellet foi acompanhada por cerca de 8 mil assistentes, em um centro de exposições situado na Cidade do México e seguida pela internet por milhares de pessoas que se integraram, por esta via, às sessões do Congresso Teológico Pastoral que se leva a cabo dentro do VI Encontro Mundial das Famílias na Cidade do México.

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Pregador do Papa: cristãos devem redescobrir beleza do matrimônio

Intervenção no Congresso Mundial das Famílias

CIDADE DO MÉXICO, quarta-feira, 14 de janeiro de 2009 (ZENIT.org-El Observador).- O Pe. Raniero Cantalamessa, pregador da Casa Pontifícia, assegurou nesta quarta-feira que os próprios cristãos «precisam redescobrir o ideal bíblico do matrimônio e da família», para poder propô-lo ao mundo de hoje.

Na conferência inaugural do Congresso Teológico Pastoral, o Pe. Cantalamessa indicou que não se deve apenas «defender» a idéia cristã de matrimônio e família, mas o mais importante é «a tarefa de redescobri-lo e vivê-lo em plenitude por parte dos cristãos, de maneira que se volte a propô-lo ao mundo com os fatos, mais que com as palavras». 

O sacerdote dedicou sua intervenção, no primeiro dia do Congresso Teológico Pastoral do VI Encontro Mundial da Família, a explicar que durante séculos, o próprio pensamento cristão deixou em segundo plano, frente à visão institucional, o significado esponsal do matrimônio, presente com força na Bíblia. 

No fundo das atuais propostas «inaceitáveis» de «desconstrução relativista» da família tradicional, há uma «instância positiva» que é preciso acolher, e é a revisão da visão do matrimônio como união e doação entre os cônjuges. 

«Mas esta crítica se orienta no sentido originário da Bíblia, não contra ela», advertiu o sacerdote capuchinho. «O Concílio Vaticano II recebeu esta instância quando reconheceu como bem igualmente primário do matrimônio o amor mútuo e a ajuda entre os cônjuges». 

«Inclusive casais crentes tampouco chegam a reencontrar  – às vezes mais que os outros  – essa riqueza de significado inicial da união sexual por causa da idéia de concupscência e de pecado original associada a tal ato durante séculos.»

É necessário redescobrir a união sexual como imagem do amor de Deus, explicou o Pe. Cantalamessa. 

«Duas pessoas que se amam – e o caso do homem e da mulher no matrimônio é o mais forte – reproduzem algo do que ocorre na Trindade – explicou. Nesta luz se descobre o sentido profundo da mensagem dos profetas acerca do matrimônio humano, que portanto é símbolo e reflexo de outro amor, o de Deus por seu povo.»

Isso supõe «revelar o verdadeiro rosto e o objetivo último da criação do homem e da mulher: o de sair do próprio isolamento e ‘egoísmo’, abrir-se ao outro e, através do êxtase temporal da união carnal, elevar-se ao desejo do amor e da alegria sem fim». 

O pregador pontifício assinalou, neste sentido, a acolhida «insolitamente positiva» que teve em todo o mundo a encíclica «Deus caritas est», que insiste nesta visão do amor humano como reflexo do amor de Deus.

Outra questão, acrescentou, «é a igual dignidade da mulher no matrimônio. Como vimos, está no próprio coração do projeto originário de Deus e do pensamento de Cristo, mas quase sempre foi desatendida». 

Não rebater, mas propor

O Pe. Cantalamessa explicou que diante da atual situação de «rejeição aparentemente global do projeto bíblico sobre sexualidade, matrimônio e família», é necessário «evitar o erro de passar todo o tempo rebatendo as teorias contrárias». 

A estratégia não é «combater ao mundo», mas «dialogar com ele, tirando proveito até das críticas de quem a combate», afirmou. 

Outro erro que se deve evitar é «dirigir tudo para leis do Estado para defender os valores cristãos». 

«Os primeiros cristãos mudaram as leis do Estado com seus costumes; não podemos esperar hoje mudar os costumes com as leis do Estado», admitiu. 

Com relação à atual «deconstrução da família», ou «gender revolution», o sacerdote explicou que tem uma certa analogia com o marxismo, e recordou que frente a este, a reação da Igreja foi «aplicar o antigo método paulino de examinar tudo e ficar com o que é bom», desenvolvendo «uma doutrina social própria». 

«Precisamente a escolha do diálogo e da auto-crítica nos dá direito a denunciar os projetos desencaixados do gender revolution  como inumano, ou seja, contrários não só à vontade de Deus, mas também ao bem da humanidade», acrescentou. 

«Nossa única esperança é que o senso comum das pessoas, unido ao ‘desejo’ do outro sexo, à necessidade de maternidade e de paternidade que Deus inscreveu na natureza humana, resistam a estes intentos de substituir Deus, ditados mais por atrasados sentimentos de culpa do homem que por um genuíno respeito e amor pela mulher», concluiu o Pe. Cantalamessa.

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Delegação de Angola aborda educação da família no México

ROMA, quarta-feira, 14 de janeiro de 2009 (ZENIT.org).- Angola está presente na Cidade do México com uma delegação do Ministério da Família e Promoção da Mulher, liderada pela titular, Ginoveva Lino Policarpo, segundo informa Rádio Vaticano.

Antes de partir, ontem, a ministra falou à imprensa no aeroporto de Luanda, e informou que os participantes vão abordar questões ligadas às relações interpessoais, ao matrimônio, à educação da família, especialmente dos filhos, e à violência contra mulheres.

A ministra sublinhou que a participação angolana é oportuna porque o governo «está intensamente engajado em trabalhar nessa área, na resolução dos conflitos ligados à violência doméstica e na educação dos indivíduos como parte fundamental da sociedade, seu modo de ser e estar». 

A delegação ministerial participa no encontro graças à iniciativa da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), que convidou os dois países africanos de língua oficial portuguesa.

Além do Ministério da Família e Promoção da Mulher, participam no encontro a vice-presidente da Assembléia Nacional, Joana Lina, um grupo de casais representando a comunidade de leigos católicos de Angola, proveniente de várias províncias; missionárias e o arcebispo coadjutor de Lubango, Dom Gabriel Mbilingi.

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Brasileiros participam do Encontro das Famílias no México

Bispos e leigos compõem a delegação

BRASÍLIA, qurta-feira, 14 de janeiro de 2009 (ZENIT.org).- Uma delegação de bispos representantes da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e 60 leigos está no México para participar do VI Encontro Mundial das Famílias, que abriu hoje com o Congresso Teológico Pastoral.

Representam o episcopado brasileiro o secretário-geral da CNBB, Dom Dimas Lara Barbosa; o arcebispo de São Paulo, cardeal Odilo Pedro Scherer, os bispos Dom Antônio Augusto Dias Duarte, Dom Rafael Llano Cifuentes, Dom João Carlos Petrini e Dom Filippo Santoro.

De acordo com a CNBB, o cardeal Scherer preside amanhã a segunda sessão do Congresso, com a conferência do secretário do Pontifício Conselho para os Migrantes e os Itinerantes, Dom Agostino Marchetto, que falará sobre a família dos emigrantes.

O Encontro Mundial das Famílias, que prossegue até domingo, terá como destaques as celebrações do sábado à tarde e do domingo pela manhã, quando milhares de fiéis se reunirão no Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe para a recitação do terço e para a solene celebração eucarística dominical.

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Presidente do México vê relação entre ruptura familiar e violência

A criminalidade cresce com a falta de laços familiares, explica

CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 14 de janeiro de 2009 (ZENIT.org-El Observador).- Diante de quase 10 mil pessoas que participarm da inauguração do Congresso Teológico Pastoral que precede o VI Encontro Mundial das Famílias, o presidente do México, Felipe Calderón Hinojosa, constatou que o aumento da ruptura familiar corresponde também a um aumento da violência.

Junto com o mandatário mexicano, inauguraram o Congresso o presidente do Conselho Pontifício para a Família, o cardeal Ennio Antonelli e o cardeal Norberto Rivera Carrera, arcebispo primaz do México, assim como o presidente da Conferência do Episcopado Mexicano, Dom Carlos Aguiar Retes. 

O Centro de Exposições Bancomer, situado na capital do país, foi testemunha de um novo recorde de assistência neste tipo de congressos teológicos, pois os inscritos no México são cerca de 10 mil. 

Em sua intervenção, o presidente Calderón Hinojosa assinalou o vínculo que existe no México entre famílias quebradas e crime organizado, especialmente no caso do narcotráfico, ao que a atual administração feeral está combatendo de forma inusitada na história moderna. 

«Hoje as famílias mexicanas enfrentam uma paisagem e um ambiente de insegurança. O crime, a violência e a exacerbação da violência ameaçam a tranquilidade de quem mais amamos, também ameaça esta tranquilidade a apologia do delito, por isso deslocamos e seguiremos deslocando todo o poder do Estado contra aqueles que ameaçam a paz e pretendem escravizar nossos filhos com as drogas», assegurou o presidente Calderón Hinojosa. 

O presidente dos mexicanos recordou sua formação em escolas religiosas, advogou pela fidelidade do casal e recordou inclusive, que está sob a proteção de São Felipe Neri, insistindo em que o vínculo matrimonial é uma escola de humanismo e que sua desintegração é um passaporte para a violência. 

Na parte medular de seu discurso, Calderón Hinojosa, que participou do ato junto à sua esposa, Margarita Zavala, enfatizou que «a proliferação de indivíduos que fazem da violência, do crime, do ódio sua forma de vida coincide, infelizmente, em grande medida com a fragmentação e a desfuncionalidade que afetaram seu meio familiar». 

Mais adiante, o primeiro mandatário da nação asteca reconheceu que «grande porcentagem das pessoas que falecem em confrontos de grupos criminosos no México são particularmente jovens que estão desarraigados de um núcleo familiar, são adolescentes e jovens que se formaram na carência absoluta, não só de valores familiares, mas da própria família». 

Finalmente, Felipe Calderón Hinojosa – como portavoz de milhões de famílias mexicanas – assegurou que o México «sente falta» do Papa Bento XVI e reiterou que o Santo Padre é convidado permanentemente para visitar este país – que foi visitado em cinco ocasiões por João Paulo II – e a quem se receberia «com os braços abertos».

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Transmissão do Encontro Mundial das Famílias pela internet

Através de catholic.net

CIDADE DO MÉXICO, quarta-feira, 14 de janeiro de 2009 (ZENIT.org).- Catholic.net Rádio e Catholic.net Televisão anunciaram que oferecerão uma cobertura especial em áudio e vídeo do VI Encontro Mundial das Famílias, que começa nesta quarta-feira na capital mexicana, com o Congresso Teológico Pastoral, e que será encerrado neste domingo por Bento XVI, com uma conexão em vídeo desde Roma. 

Para conectar-se: www.radio.catholic.net ou www.tv.catholic.net.

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Entrevistas

Por que a família não transmite valores

Entrevista ao diretor da revista «Humanitas», Jaime Antúnez Aldunate

Por Jaime Septién

CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 14 de janeiro de 2009 (ZENIT.org-El Observador).- Com a conferência «O que é o valor?», o professor e jornalista chileno Jaime Antúnez Aldunate desempenha um papel fundamental neste primeiro dia de trabalho do Congresso Teológico Pastoral que acontece dentro do VI Encontro Mundial da Família no México. 

Jaime Antúnez Aldunate é fundador e diretor, desde 1996, da «Humanitas» (www.humanitas.cl), uma das revistas mais importantes da América Latina sobre antropologia e cultura cristãs, pertencente à Pontifícia Universidade Católica do Chile. 

É também autor do livro de entrevistas «Crônicas das idéias», no qual – entre celebridades como Jean Guitton, Julián Marías, Eugene Ionesco, Octavio Paz, Dalai Lama, Robert Spaemann, André Frossard e Josef Pieper – oferece uma conversa («O problema de fundo»), com o então cardeal Joseph Ratzinger, hoje Bento XVI. 

A seguir reproduzimos a entrevista concedida a Zenit-El Observador pelo doutor em Filosofia. 

– O que é «valor» (tema de sua conferência) em um mundo como o nosso que, segundo parece, tem fobia do que não é relativismo e subjetivismo?

– Jaime Antúnez Aldunate: Na linguagem normal se entende por valor, em geral, uma opinião estável, identificável com uma posição ética, por contraste com a mera opinião de conjuntura, como as políticas, as economias e outras do tipo. Entram assim na categoria da discussão de valores especialmente aqueles referidos como a família, o aborto, o direito à vida, a reprodução sexual e similares. Fala-se às vezes, a este propósito, da «questão valórica». 

Mas aqui é preciso fazer algumas distinções. Pois um valor, que poderia também ser entendido como um bem reconhecido enquanto tal, para ser efetivamente reconhecido como bem, precisa ser antes experimentado. Isso é algo da essência do valor quando se trata do tema da cultura. 

A cultura, que o Concílio Vaticano II definiu como «estilo de vida comum que caracteriza um povo e que compreende a totalidade de sua vida», pode então ser vista, da perpsectiva dos valores, como bens que as pessoas experimentam na vida de uma sociedade. Por cultura pode-se entender neste sentido «o conjunto de valores que animam a vida de um povo e de desvalores que o enfraquecem», ou as formas através das quais aqueles valores ou desvalores expressam e configuram os costumes, a língua, as instituições e a convivência em geral. 

A tradição aristotélica falava mais de virtudes. Mas seja como for, virtudes ou valores, uns e outros o são enquanto realidades vividas e não enquanto meras opiniões. Se não são capazes de cultivar a pessoa – no sentido de germinar nela um cultivo de seu ser –, estamos no campo de simples justificações ou enteléquias racionais, sem vínculo entitativo com o bem, a verdade e a beleza. Andaríamos por aí na direção do niilismo, segundo definiu Nietzsche, situação em que os valores se rompem, deixam de ter força, perdem sua finalidade, onde não existe resposta à pergunta «por quê?». 

E isso sim que é subjetivismo e puro relativismo. Se falamos de relativismo dos valores, vejamos sobretudo o campo da experiência. Pois o relativismo tem a ver, mais que com a linguagem e os discursos, principalmente com as rupturas familiares, com a secularização da mulher, com a crise social da figura do pai, com a vontade de um compromisso, e tantas e tão variadas atitudes do tipo. O valor não se sustenta em um discurso, como é claro, mas em uma forma de ser pessoa. Em uma cultura, portanto. O relativismo e o subjetivismo germinam na ausência desta. 

– A família perdeu força frente aos meios eletrônicos de comunicação no que se refere à formação de valores humanos e cristãos dos filhos?

– Jaime Antúnez Aldunate: O servo de Deus João Paulo II falava, por exemplo em sua «Carta às Famílias» de 1994, do drama dos modernos meios de comunicação sujeitos à tentação de manipular a mensagem, falseando a verdade sobre a pessoa humana, produzindo com isso profundas alterações no homem de nosso tempo, «a ponto de poder falar-se neste caso de uma civilização doente», dizia. 

Em 18 anos aconteceram muitas coisas e o problema se agravou consideravelmente, envolvendo inclusive outras dimensões. 

Por exemplo, considere só a crescente dependência em que os jovens vivem hoje dos mais variados meios de comunicação eletrônicos, que a tecnologia vai oferecendo cada dia. É claro que – à margem da proveitosa utilidade que obviamente muitos podem gerar de seu bom uso – vai se generalizando o hábito mental de viver  «conectado», situação preocupante pela forte carga desumanizadora que possui, a qual desloca o natural e pessoal viver «comunicado», termo que caracteriza uma sociedade de pessoas humanas. Quanto ao segundo, a palavra o diz, é próprio da comunhão interpessoal, não acontece o mesmo com a conexão, crescentemente impessoal, ativadora e sintomática, por sua vez, da solidão em que vive o homem contemporâneo, em particular milhões de jovens.

Tudo isso, uma vez perfurada a relação entre as pessoas – e em concreto entre as pessoas da família – é um venenoso substituto frente ao enfraquecimento generalizado que a comunhão pessoal vem sofrendo. 

Mas digamos algo mais. Este processo, em suas marcas psicológico-culturais, é o perfeito pórtico de uma mística niilista – mística «do nirvana», poderíamos chamá-la, pois o aparente aqui se sobrepõe ao real – onde o homem se submerge em um universo de ilusões. Em um contexto como o presente, que tende ao predomínio do virtual, onde a aparência é vivida como realidade, transparece uma profunda sintonia com estes fenômenos místico-niilistas. Não estranha assim que as manifestações destes misticismos niilistas proliferem hoje massivamente, expressando-se através de variadas formas, desde a chamada Nova Era – suculentamente publicitada – até o campo das músicas populares. Como exemplo típico do último, repare na letra da popular canção de John Lenon, «Imagine» (Imagine there's no heaven/ It's easy if you try/ No hell bellow us / Above us only sky / Imagine all the people Living for today.../ Imagine there's no countries / It's isn't hard to do / Nothing to kill or die for / And no religion too / Imagine all the people / Living life in peace...). 

– Que papel devem desempenhar os leigos – concretamente os leigos nos meios de comunicação ou na política – para redesenhar uma estratégia na qual a família volte a ser a formadora de valores?

– Jaime Antúnez Aldunate: Respondo com umas palavras muito justas de Bento XVI, dirigidas a um grupo de bispos em visita «ad limina», que acabo de ler em uma seleção de L'Osservatore Romano: «Um dos principais objetivos da ativiadde do laicado é a renovação moral da sociedade, que não pode ser superficial, parcial e imediata. Deve caracterizar-se por uma profunda transformação do ethos dos homens, ou seja, pela aceitação de uma oportuna hierarquia de valores, segundo a qual se formem as atitudes». 

Essas palavras são uma perfeita síntese do que conversamos, e resposta última e certeira ao que você me pergunta. Os leigos têm uma responsabilidade essencial nessa profunda transformação, hoje mais necessária que nunca, que requer o ethos, ou seja, a hierarquia dos valores. Mas não valores em geral, pelo que diz o Papa, mas valores ancorados em atitudes vividas, as únicas capazes de dar forma a uma cultura. 

Os argumentos não são suficientes. A primeira cristandade se construiu com o sangue dos mártires. 

– Como conhecedor de perto do atual Papa Bento XVI, quais são as linhas fundamentais do pensamento do Santo Padre sobre a relação mundo moderno-família-valores? 

– Jaime Antúnez Aldunate. O Santo Padre vem falando, cada vez com mais beleza e profundidade, da necessidade que o homem de nosso tempo tem de sair do reducionismo em que o pôs a razão ilustrada. Foi esta a chave de seu célebre discurso na Universidade de Ratisbona, Alemanha, em setembro de 2006, após seu discurso – não pronunciado – à Universidade La Sapienza, em Roma. Da mesma forma em Paris, da bela alocução diante dos construtores da sociedade. Em todas essas ocasiões, ele mostrou que a razão não pode perder de vista a amplitude do logos nem limitar-se a um pensar puramente empirista.

Mas parece-me que este apelo do Papa se entende plenamente quando se compreende que essa racionalidade do logos está em linha com a experiência. Ou seja, mais uma vez, com os valores encarnados na vida. Esta formulação se entende perfeitamente ao olhar a experiência da santidade na história da Igreja. O próprio Bento XVI declarou estar convencido de que a verdadeira apologia da fé cristã, a demonstração mais convincente de sua verdade contra qualquer negação, encontra-se, por um lado, em seus santos – uma força humana que procede do divino e que visivelmente refaz a face da terra – e por outro, na beleza que a fé gera.

A família é uma espécie de pedra fundamental dos valores assim entendidos, frente às graves necessidades que afligem o mundo moderno.

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Audiência de quarta-feira

Bento XVI: Cristo é a força da Igreja

Intervenção na audiência geral, continuando o ciclo sobre São Paulo

CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 14 de janeiro de 2009 (ZENIT.org).- Oferecemos a seguir o texto completo da catequese pronunciada nesta quarta-feira pelo Papa Bento XVI, diante dos milhares de peregrinos reunidos na Sala Paulo VI por ocasião da audiência geral, na qual continuou a série de meditações sobre o apóstolo São Paulo, no bi-milênio de seu nascimento. 

***

Queridos irmãos e irmãs:

Entre as cartas do episcopado paulino, há duas, as dirigidas aos Colossenses e aos Efésios, que em certa medida podem ser consideradas gêmeas. De fato, uma e outra têm formas de falar que só se encontram nelas, e se calcula que mais de um terço da Carta aos Colossenses se encontra também na carat aos Efésios. Por exemplo, enquanto que em Colossenses se lê literalmente o convite a que «a palavra de Cristo permaneça entre vós em toda a sua riqueza, de sorte que com toda a sabedoria vos possais instruir e exortar mutuamente. Sob a inspiração da graça cantai a Deus de todo o coração salmos, hinos e cânticos espirituais» (Col 3, 16), em Efésios se recomenda igualmente: «recitai entre vós salmos, hinos e cânticos espirituais. Cantai e celebrai de todo o coração os louvores do Senhor» (Ef 5, 19). Poderíamos meditar sobre estas palavras: o coração deve cantar, e assim também a voz, com salmos e hinos para entrar na tradição da oração de toda a Igreja do Antigo e do Novo Testamento; aprendemos assim a estar unidos entre nós e com Deus. Também em ambas cartas se encontra um «código doméstico», ausente nas outras Cartas Paulinas, ou seja, uma série de recomendações dirigidas a maridos e mulheres, a pais e filhos, a amos e escravos (cf. respectivamente Col 3, 18-4, 1 e Ef 5, 22-6, 9). 

Mais importante ainda é constatar que só nestas duas cartas se confirma o título de «cabeça», kefalé, dado a Jesus Cristo. E este título se emprega em um duplo nível. Em um primeiro sentido, Cristo é entendido como a cabeça da Igreja (cf. Col 2, 18-19 e Ef 4, 15-16). Isso significa duas coisas: antes de tudo, que ele é o governante, o dirigente, o responsável que guia a comunidade cristã como seu líder e seu Senhor (cf. Col 1, 18: «Ele é também a Cabeça do Corpo, da Igreja»); e o outro significado, que é a cabeça que levanta e vivifica todos os membros do corpo no qual está colocada (de fato, segundo Col 2, 19 é necessário «manter-se unido à Cabeça, da qual todo o Corpo, por meio de junturas e ligamentos, recebe nutrição e coesão»): ou seja, não é só um que manda, mas um que organicamente está conectado conosco, do qual também vem a força de atuar de modo reto. 

Em ambos casos, a Igreja se considera submetida a Cristo, tanto para seguir sua condução superior –  os mandamentos –, como para acolher todos os fluxos vitais que d’Ele procedem. Seus mandamentos não são só palavras, mandatos, mas são forças vitais que vêm d’Ele e nos ajudam. 

Esta idéia se desenvolve particularmente em Efésios, onde inclusive os ministérios da Igreja, ao invés de serem reconduzidos ao Espírito Santo (como 1 Cor 12), são conferidos por Cristo ressuscitado: é ele que «deu a uns ser apóstolos; a outros, profetas; a outros, evangelizadores; a outros, pastores e mestres» (4, 11). E é por Ele que «todo o corpo - coordenado e unido por conexões que estão ao seu dispor, trabalhando cada um conforme a atividade que lhe é própria - efetua esse crescimento, visando a sua plena edificação na caridade» (4, 16). Cristo de fato está dedicado a «apresentá-la a si mesmo toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito semelhante, mas santa e irrepreensível» (Ef 5, 27). Com isso nos diz que a força com a qual constrói a Igreja, com a qual guia a Igreja, com a qual dá também a direção correta à Igreja, é precisamente seu amor.

Portanto, o primeiro significado é Cristo Cabeça da Igreja: seja quanto à condução, seja sobretudo quanto à inspiração e vitalização orgânica em virtude de seu amor. Depois, em um segundo sentido, Cristo é considerado não só como cabeça da Igreja, mas como cabeça das potências celestes e do cosmos inteiro. Assim, em Colossenses lemos que Cristo «espoliou os principados e potestades, e os expôs ao ridículo, triunfando deles pela cruz» (2, 15). Analogamente, em Efésios encontramos que com sua ressurreição, Deus pôs Cristo «acima de todo principado, potestade, virtude, dominação e de todo nome que possa haver neste mundo como no futuro» (1, 21). Com estas palavras, as duas cartas nos entregam uma mensagem altamente positiva e fecunda. É esta: Cristo não tem que temer nenhum eventual competidor, porque é superior a qualquer forma de poder que tentar humilhar o homem. Só Ele «nos amou e entregou a si mesmo por nós» (Ef 5, 2). Por isso, se estamos unidos a Cristo, não devemos temer nenhum inimigo e nenhuma adversidade; mas isso significa também que devemos permanecer bem unidos a Ele, sem soltar!

Para o mundo pagão, que acreditava em um mundo cheio de espíritos, em grande parte perigosos e contra os quais era preciso defender-se, aparecia como uma verdadeira libertação o anúncio de que Cristo era o único vencedor e de que quem estava com Cristo não tinha que temer ninguém. O mesmo vale para o paganismo de hoje, porque também os atuais seguidores destas ideologias veem o mundo cheio de poderes perigosos. A estes é necessário anunciar que Cristo é vencedor, de modo que quem está com Cristo, quem permanece unido a Ele, não deve temer nada nem ninguém. Parece-me que isso é importante também para nós, que devemos aprender a enfrentar todos os medos, porque Ele está acima de toda dominação, é o verdadeiro Senhor do mundo. 

Inclusive todo o cosmos está submetido e Ele, e a Ele converge como a sua própria cabeça. São sélebres as palavras da Carta aos Efésios que falam do projeto de Deus de «recapitular em Cristo todas as coisas, as do céu e as da terra» (1, 10). Analogamente, na Carta aos Colossenses se lê que «nele foram criadas todas as coisas, nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis» (1, 16) e que «mediante o sangue de sua cruz reconciliou por ele e para ele todas as coisas, o que há na terra e nos céus» (1, 20). Portanto, não existe, por uma parte, o grande mundo material e por outra esta pequena realidade da história da nossa terra, o mundo das pessoas: tudo é um em Cristo. Ele é a cabeça do cosmos; também o cosmos foi criado por Ele, foi criado para nós enquanto estamos unidos a Ele. É uma visão racional e personalista do universo. E acrescentaria que uma visão mais universalista que esta não era possível conceber, e esta conflui só em Cristo ressuscitado. Cristo é o Pantokrátor, ao qual estão submetidas todas as coisas: o pensamento vai para o Cristo Pantocrátor, que enche o ábside das igrejas bizantinas, às vezes representado sentado no alto sobre o mundo inteiro, ou inclusive acima de um arco íris para indicar sua equiparação com o próprio Deus, a cuja destra está sentado (cf. Ef 1, 20; Col 3, 1), e daí a sua inigualável função de condutor dos destinos humanos. 

Uma visão deste tipo é concebível só por parte da Igreja, não no sentido de que quer apropriar-se indevidamente do que não lhe pertence, mas em outro duplo sentido: por um lado, a Igreja reconhece que Cristo é maior que ela, dado que seu senhorio se estende também além de suas fronteiras; por outro, só a Igreja está qualificada como Corpo de Cristo, não o cosmos. Tudo isso significa que devemos positivamente considerar as realidades terrenas, porque Cristo as recapitula em si, e ao mesmo tempo, devemos viver em plenitude nossa identidade específica eclesial, que é a mais homogênea à identidade do próprio Cristo. 

Há também um conceito especial, que é típico destas duas Cartas, e é o conceito de «mistério». Umas vezes se fala do «mistério da vontade» de Deus (Ef 1, 9) e outras vezes do «mistério de Cristo» (Ef 3, 4; Col 4, 3) ou inclusive do «mistério de Deus, que é Cristo, no qual estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento» (Col 3, 2-3). Faz referência ao inescrutável desígnio divino sobre a sorte do homem, dos povos e do mundo. Com esta linguagem, as duas epístolas nos dizem que é em Cristo onde se encontra o cumprimento deste mistério. Se estamos com Cristo, ainda que não possamos compreender intelectualmente tudo, sabemos que estamos no núcleo e no caminho da verdade. Ele está em sua totalidade, e não só um aspecto de sua pessoa ou um momento de sua existência, o que reúne em si a plenitude do insondável plano divino da salvação. N’Ele toma forma a que se chama «multiforme sabedoria de Deus» (Ef 3, 10), já que n’Ele  «habita corporeamente toda a plenitude da divindade» (Col 2, 9). De agora em diante, portanto, não é possível pensar e adorar o beneplácito de Deus, sua disposição soberana, sem confrontar-nos pessoalmente com Cristo em pessoa, em quem o  «mistério» se encarna e pode ser percebido tangivelmente. Chega-se assim a contemplar a «inescrutável riqueza de Cristo» (Ef 3, 8), que está além de toda compreensão humana. Não é que Deus não tenha deixado as marcas de seu passo, já que o próprio Cristo é marca de Deus, seu selo máxima; mas que se dá conta de «qual é a largura e o comprimento, a altura e a profundidade» deste mistério  «que ultrapassa todo conhecimento» (Ef 3, 18-19). As meras categorias intelectuais aqui são insuficientes, e reconhecendo que muitas coisas estão além de nossas capacidades racionais, devemos confiar na contemplação humilde e gozosa não só da mente, mas também do coração. Os pais da Igreja, por outro lado, nos dizem que o amor compreende muito mais que a razão apenas. 

Uma última palavra deve ser dita sobre o conceito, já assinalado antes, concernente à Igreja como esposa de Cristo. Na segunda Carta aos Coríntios, o apóstolo Paulo havia comparado a comunidade cristã a uma noiva, escrevendo assim: «Sinto por vós um amor ciumento semelhante ao amor que Deus vos tem. Fui eu que vos desposei a um único esposo, apresentando-vos a Cristo como virgem pura» (2 Cor 11, 2). A Carta aos Efésios desenvolve esta imagem, precisando que a Igreja não é só uma prometida, mas esposa real de Cristo. Ele, por assim dizer, a conquistou para si, e o fez ao preço de sua vida: como diz o texto, «se entregou a si mesmo por ela» (Ef 5, 25). Que demonstração de amor pode ser maior que esta? Mas ele também está preocupado por sua beleza; não só pela já adquirida pelo batismo, mas também por aquela que deve crescer cada dia graças a uma vida irrepreensível «sem ruga nem mancha», em seu comportamento moral (cfr Ef 5, 26-27). Daí à comum experiência do matrimônio cristão o passo é breve; ao contrário, nem sequer está claro qual é, para o autor da Carta, o ponto de referência inicial: se é a relação Cristo-Igreja, desde cuja luz deve-se conceber a união entre o homem e a mulher, ou se é mais o dado da experiência da união conjugal, desde cuja luz é preciso conceber a relação entre Cristo e a Igreja. Mas ambos os aspectos se iluminam reciprocamente: aprendemos como Cristo se une a nós pensando no mistério do matrimônio. Em todo caso, nossa Carta se põe quase a meio caminho entre o profeta Oséias, que indicava a relação entre Deus e seu povo em termos de bodas que já sucederam (cf. Os 2, 4. 16.21), e o vidente do Apocalipse, que anunciará o encontro escatológico entre a Igreja e o Cordeiro como algumas bodas gozosas e indefectíveis (cfr Ap 19, 7-9;21, 9).

Eu teria ainda muito que dizer, mas me parece que, do que expus, pode-se entender que estas duas Cartas são uma grande catequese, da qual podemos aprender não só como ser bons cristãos, mas também como chegar a ser realmente homens. Se começamos a entender que o cosmos é a marca de Cristo, aprendemos nossa relação reta com o cosmos, com todos os problemas de sua conservação. Aprendemos a vê-los com a razão, mas com uma razão movida pelo amor, e com a humildade e o respeito que permitem atuar de forma correta. E se pensamos que a Igreja é o Corpo de Cristo, que Cristo se deu a si mesmo por ela, aprendemos como viver com Cristo o amor recíproco, o amor que nos une a Deus e que nos faz ver ao outro como imagem de Cristo, como Cristo mesmo, Oremos ao Senhor para que nos ajude a meditar bem a Sagrada Escritura, sua Palavra, e aprender assim realmente a viver bem. 

[Tradução: Élison Santos. Revisão: Aline Banchieri

© Copyright 2009 - Libreria Editrice Vaticana]

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