sexta-feira, outubro 14, 2011

Líbia: Instabilidade mundial, responsabilidades penais e III guerra mundial

ÚLTIMA HORA: Mortes incalculáveis em Sirte/Líbia, caça ao homem (negro), uso indiscriminado de drones, helicópteros e mísseis em todos os lados. Destruiu-se a cidade de Sirte para vencer uma batalha - a guerrilha e a resistência VERDE continuam. Se as acções dos Rebeldes do CNT ajudados pela OTAN não constituem um "Crime Contra Humanidade", podemos concluir que não existem mais crimes nesta terra. São várias as lições desta guerra, uma delas resta para nós, angolanos, africanos, povos em vias de desenvolvimento: QUEM QUER A PAZ PREPARE-SE PARA GUERRA. No mundo governado pela ganância, no fim das contas, vale o equilíbrio de terror.


Quando uma guerra é suja e inútil


Fruto das bombas humanitárias

ANGOLA HOJE. O cenário actual nos impõe a necessidade da construção de um país forte, de um país disciplinado e organizado, unido entorno a objectivos claros e partilhados: bem estar das populações e crescimento sustentável sem perder de olhos as nossa segurança económica, alimentar e militar. O mundo post-guerra fria, unipolar, é dos piores lugares para viver. Observando o que acontece em várias zonas podemos afirma que nos encontramos em plena floresta, no que se refere ao respeito das leis internacionais, aonde reina o direito da força, a lei do mais forte. Quem pode, faz o que quer. Cfr: Iraque, Afeganistam, Paquistam, Sudão, RDC, Somália, Líbia, Tunísia, Egipto, PALESTINA, etc. Países nos quais reina o caos. Tudo é controlado, tudo é programado, não aceitem nas teorias dos "acasos".

MÃOS SUJAS. Sarkozy & CO em pouco tempo organizam em África duas guerras e por incrível que pareça, em todo o continente africano não temos nenhum país capaz de dizer basta as incursões homicidas europeias. Nem mesmo a solidariedade africana e internacional existe ainda, para não citar o eloquente silêncio da organizações dos direitos humanos. As mãos de Sarkozy, Cameron, Obama & CO estão cheias de sangue dos civis inocentes que morreram em toda a Líbia. Nos dois países (Costa do Marfim e Líbia) as mortes continuam, porque os governos impostos com a força das armas não resolvem problemas que necessitam de diálogo e política desinteressada, senão no bem estar do povo de referência. Quem pode levar o Sr. Sarkozy diante de um juiz do Tribunal Penal Internacional?

UM MUNDO TRISTE E PERDIDO. Morrem milhares de civis em bombardeamentos indiscriminados em cidades e/o centros altamente habitados e nenhuma organização internacional diz nada. Nem mesmo os famosos defensores dos direitos humanos exprimiram o mínimo da perplexidade. O mundo actual, recto segundo a pax americana em debandada, recto segundo a PAZ DE BARACK HUSSEIM OBAMA, homem que todos esperavam ser o agente da mudança do nosso século, este mundo corre verso o abismo. Tarde ou cedo alguém usará a bomba suja, e se acontecer será o caos.

III GUERRA MUNDIAL. A minha tristeza não tem limites, e me sinto fraco, como fraco sou, débil, como são os países desorganizados que como ovelhas esperam a própria vez, na ordem de destruição. Para as multinacionais é fácil começar uma guerra em qualquer país do mundo, basta armar os descontentados, usar as organizações dos direitos humanos para sujar os regimes no poder, manipolar a informação das grandes redes internacionais e tudo é feito. Cfr. Líbia, agora Síria - entrando numa guerra civil, mais além o Irão, o próxima da lista. O que dizer? "Não sei como será a terceira guerra mundial, mas sei como será a quarta: com pedras e paus. " ( Albert Einstein )

Nos próximos dias veremos crescer a escalation contra o Irão, e ninguém dirá nada. Estamos entregues a bicharada, e neste ritmo podemos crer que tempos terríveis chegarão se quem pode nada fizer. Cada um faça o que pode, porque fazer o que podemos é fazer o que devemos. Informar, participar nas mobilizações internacionais (Ex. 15 de Outubro), re-compactar o Movimento dos países não alinhados, repensar a União Africana, a SADEC, etc. E' tempo de agir, basta com as argumentações sem fim.

=> O MUNDO ACTUAL: “Guerra é paz, liberdade é escravidão, ignorância é força”.. . Acorda!

Francis/PAC

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quinta-feira, outubro 13, 2011

Fundação Sindika Dokolo organiza um tributo a André Mingas (14/10/2011)

Compositor André Mingas foi vice-ministro da Cultura e as suas

Compositor André Mingas foi vice-ministro da Cultura
e as suas canções figuram entre os melhores clássicos
da música angolana

Tributo a André Mingas ... através da percursão: Batuques, Tumbas, Dikanzas e outros instrumentos serão ouvidos amanhã (14/10/2011, Sexta-feira) a partir das 20 horas, defronte à Sede da UNAP, na Rua da Alfândega, em Luanda. Iniciativa da Fundação Sindika Dokolo, aberta a todos os artistas e gentes da música sob a "batuta" do conceituado percursionista Joãozinho Morgado.

Caso William Tonet: Sociedade civil só conseguiu 4mil dólares

Notícias postas a circular na imprensa local, atestam que os apoiantes de WT já conseguiram juntar 4 mil USD.

quarta-feira, outubro 12, 2011

Feira de Frankfurt estuda novas possibilidades da literatura na era digital

O maior evento livreiro do mundo também discute as transformações do setor. A Frankfurt Sparks, iniciativa digital da feira, compreende vasta programação, com temas como multimidialidade e novas formas de narrar.

"Em 2011, estamos diante de mudanças drásticas", disse Jürgen Boos, diretor da Feira do Livro de Frankfurt. A publicação convencional de livros já não é mais suficiente. Ao mesmo tempo em que quebra as estruturas tradicionais, a digitalização da literatura abre novas possibilidades de negócios.

A Frankfurt Sparks, iniciativa digital da Feira do Livro de Frankfurt, aborda produtos e projetos do setor, com o objetivo de reunir conteúdo e tecnologia. Dois subprogramas fazem parte da iniciativa: os Frankfurt Hot Spots e o Frankfurt StoryDrive.

Os Hot Spots são palcos onde são exibidas inovações e tendências em seis ramos: relações digitais, educação, crianças e quadrinhos, tecnologia móvel e dispositivos, informação profissional e científica, e serviços de publicação. O objetivo é servir de plataforma para novos negócios.

O StoryDrive também é uma mistura entre conferência e plataforma de negócios. Especialistas em música, cinema, jogos de computador e livros promovem intercâmbios sobre novas formas de narrar. Em workshops, apresentações e estudos de caso, assim como eventos de networking, a iniciativa propõe-se a mostrar os caminhos futuros das mídias e dar início a projetos interdisciplinares.

Para além dos e-books

"Traduzimos O Grande Gatsby, de Scott Fitzgerald, para a linguagem dos jogos de computador", anunciou o nova-iorquino Peter Smith na Feira do Livro de Frankfurt. Junto com o programador Charlie Hoey, ele transformou o romance dos anos 1920 em um jogojump'n'run, demonstrado no evento.

Para os organizadores da feira, esse é um exemplo das novas possibilidades que a literatura oferece na era digital, para além dos e-books – que apenas apresentam o conteúdo de livros convencionais em formato digital.

"Queremos ultrapassar fronteiras e mudar o destino da narração de histórias", diz Boos. Para ele, até agora o foco foi colocado na tecnologia. "Percebeu-se que a tecnologia já não é mais novidade, está em toda parte. Agora podemos finalmente nos concentrar novamente nas histórias e recontá-las ou lê-las de novas maneiras."

Um desses novos contadores de histórias é Martin Gantenföhr, que desenvolveu jogos de computador como The moment of silence e Overclocked, que fala sobre seu trabalho como parte do Frankfurt StoryDrive.

Livro convencional não é mais a única maneira de narrar histórias
Livro convencional não é mais a única maneira de narrar histórias

Transmidialidade

A palavra-chave das novas possibilidades de narrativa é "transmidialidade", ou seja, a combinação de diversas mídias para construir as experiências complementares de visão, audição e leitura. O projeto "Flying Sparks – High Flyers" mostra em Frankfurt como isso é possível, em parceria com a empresa berlinense Newthinking Communications.

Uma equipe de autores e desenvolvedores da companhia apresenta um "manifesto transmídia" em Frankfurt. Para os criadores, a divisão tradicional de papéis na literatura, entre autor e leitor, parece não existir mais. Na rede, todos são "experimentadores", construindo as próprias experiências.

Através de textos, audiolivros, redes sociais ou aplicativos, todos estão convidados a contribuir, a interagir com outros usuários ou mesmo com personagens de ficção. É um tipo de literatura não linear.

Para Bronson Lingamfelter – da empresa americana ComiXology, que desenvolve quadrinhos para dispositivos móveis –, a literatura do futuro despede-se da ideia de que um livro é constituído por páginas, folhadas uma após a outra. Em breve, só haverá sequências de uma história e diferentes níveis sobrepostos, como num programa de edição de imagens.

"Por que nos preocupamos se o livro será mantido em sua forma atual?", questiona o escritor e blogueiro norte-americano Gabe Zimmerman. Para ele, o livro é o meio adequado para comunicar uma história linear ao público mais velho. Para narrativas não lineares destinadas ao público jovem, haveria alternativas melhores. "O livro foi um dia a melhor solução tecnológica para a transmissão de histórias. Agora, podemos manter essa forma, mas não precisamos necessariamente fazê-lo."

LPF/dw/dpa
Revisão: Roselaine Wandscheer

terça-feira, outubro 11, 2011

MORREU ANDRE MINGAS! Grande cantor e compositor angolano

Morreu o cantor Andre Mingas - Que a sua Alma descanse em Paz grande poeta... Adeus cota André Minga! A família angolana acaba de perder mais um dos seus melhores filhos, desta feita, trata-se do cantor e compositor André Minga. Um cota de grande talento musical e sensibilidade humana invejável. Segundo as poucas informações que tive acesso, André Mingas foi vitima de doença prolongada que nos últimos meses o levou ao Brasil. Trata-se de um cancro, a mesma doença que há bem pouco tempo provocou a morte a Steve Jobs, patrão da Apple.

Nesta hora de dor, a nossa redacção dirige a família enlutada as nossas mais profundas condolências. Estendemos o nosso abraço de solidariedade e vizinhança à todos os angolanos e angolanas que de forma direita e endireita tinham nele um ponto de referência em termos de angolanidade musical.

Adeus cota André Minga. Fostes embora num dos melhores momentos de Angola, num momento que mais precisamos de ti, considerando o actual desenvolvimento da nossa cultura. Restam os teus ensinamentos, resta a tua música, resta o teu calor humano.

João Melo, jornalista e deputado escreveu no seu mural da rede social Facebook: "Acabei de receber uma notícia trágica: morreu André Mingas, um dos grandes nomes da música angolana, vítima de cancro. Arquitecto de profissão, antigo vice-ministro da Cultura, tinha sido indicado para cônsul de Angola em São Paulo. Era um grande amigo meu, há muitos anos. Mais do que isso: um cúmplice. Estou arrasado".

Adeus Cota André Minga!

Por: Kingamba Mwenho

Via | Gazeta de Luanda

Números mostram desumanidade da invasão do Afeganistão

Nada mudou para a população afegã em dez anos de invasão: pobreza, violência, corrupção, insegurança. As cifras revelam o panorama da desumanidade deixado pela guerra: 71% da população maior de 15 anos é analfabeta, 35% não têm trabalho, 36% vivem abaixo da linha de pobreza, 90% dos recursos governamentais provém de ajuda estrangeira, 149 crianças de cada 1000 morrem antes de completar um ano, 83% da heroína que se produz no mundo vem do Afeganistão. Mais de 10 mil civis e 2.500 soldados da coalizão morreram nos últimos cinco anos.

Eduardo Febbro - Correspondente da Carta Maior em Paris

Nada parece ter se movido desde então, salvo as novas tumbas com milhares de vítimas inocentes. As palavras pronunciadas por Hassad na madrugada do dia 7 de outubro de 2001 em um bar da cidade fronteiriça paquistanesa de Peshawar ressoam como uma verdade que se prolonga no tempo. Passaram-se dez anos desde o início da ofensiva anglo-americana no Afeganistão, a famosa operação “Liberdade Duradoura”, lançada pelo então presidente norte-americano George W. Bush como represália aos atentados de 11 de setembro em Nova York, Washington e Pensilvânia.
Peshawar havia despertado tranquila. Essa cidade paradoxal, ponto de encontro de todos os tráficos, refúgio dos talibãs, muro protetor dos guerreiros afegãos que lutaram contra as tropas invasoras da desaparecida União Soviética e cenário das mais truculentas operações da CIA, não havia se inteirado que, do outro lado da fronteira, a verdadeira guerra tinha começado. Em um dos poucos bares frequentados por pessoas que trabalhavam à noite, um grupo de homens tinha os olhos fixos na televisão. Um ancião de barba vermelha dizia: “tenho vergonha, é como se a mesma imagem se repetisse sempre: uma tela verde e um monte de luzes que sobem riscando o céu. Lembra-me o primeiro bombardeio contra Bagdá e os seguintes, os bombardeios contra Sarajevo. Cada vez que vejo uma tela verde com essas luzes digo para mim mesmo: estão castigando de novo um país muçulmano”.
Hassad mal conseguia conter a emoção. Esse doutor afegão refugiado no Paquistão há vários anos olhava a tela da televisão como se estivesse diante de um abismo. “Me dói na alma – dizia tocando o coração -, me dá muita tristeza por todas essas pessoas inocentes que vão sofrer. Me dói pensar que aqueles que antes defenderam os afegãos agora são os que os castigam. Eu sou afegão, lutei contra os russos, para expulsar o invasor de minha terra e agora vejo daqui as bombas cair sobre o meu país. Creio que não era preciso chegar a esse ponto. Não era preciso sacrificar um povo e as já poucas estruturas existentes no país. O Afeganistão precisava de ajuda e não de bombas”. Mas Goerge W. Busch enviou bombas para decapitar seu antigo aliado, Osama Bin Laden, e a rede que o próprio governo norte-americano contribuiu para montar durante uns quinze anos.
Amigos/Inimigos, aliados no processo de ruptura que matam inocentes para se vingar de suas mútuas traições. Dois anos mais tarde, George W. Bush incorreria em outro ato semelhante: invadiu o Iraque para desalojar do poder a esse grande amigo do Ocidente que foi Saddam Hussein. Dez anos depois da invasão do Afeganistão, o Ocidente deixou um país de joelhos sem ter chegado a enfraquecer aqueles que se propôs combater: os já célebres estudantes de Teologia, os talibãs, que haviam tomado o poder, também respaldados por Washington, ao cabo da guerra civil que se seguiu à expulsão dos soviéticos. Os talibãs estão mais perto do que nunca de voltar ao poder. Há algumas semanas, assassinaram o ex-presidente Burhanddin Rabbani, que estava encarregado pelo Alto Conselho pela Paz e Reconciliação e levava adiante as negociações de paz com os talibãs.
Quando algumas semanas depois do 7 de outubro de 2001 caiu o regime talibã, os Estados Unidos puseram no poder a pior versão que se pode encontrar: recorreu aos senhores da guerra que tinham devastado o país durante décadas, aos ex-mujahedins que tinham se convertido ao tráfico de drogas e para quem a corrupção e a morte são duas colheres de açúcar em cada refeição. O elegante Hamid Karzai encarna esse processo viciado rumo à transição democrática importada com bombas. Os ocidentais tampouco estão a salvo: as empresas contratadas do Ocidente e os serviços privados de segurança nadam na mesma corrupção que o governo local. Karzai se mantem na bandeja sustentada pelos 140 mil soldados da coalizão internacional a mando da OTAN, dos quais 98 mil são norte-americanos. Em 2009, Karzai usurpou escandalosamente o resultado das eleições presidenciais sem que nenhuma democracia ocidental tivesse retirado seu apoio a ele.
Nada mudou para a população afegã em dez anos de invasão: pobreza, violência, corrupção, insegurança. Cruas e cortantes, as cifras revelam o panorama da desumanidade deixado pela guerra: 71% da população maior de 15 anos é analfabeta, 35% não têm trabalho, 36% vivem abaixo da linha de pobreza, 90% dos recursos governamentais provém de ajuda estrangeira, 149 crianças de cada 1000 morrem antes de completar um ano, 83% da heroína que se produz no mundo vem do Afeganistão.
Segundo a ONU, mais de 10 mil civis morreram nos últimos cinco anos, 2.500 soldados da coalizão deixaram a vida no Afeganistão. Atualmente, 2,6 milhões de pessoas precisam de ajuda alimentar. A teoria defendida pelos gênios do Pentágono, segundo a qual a melhor estratégia que se podia aplicar no Afeganistão era a “contra-insurreição” (COIN) virou papel queimado. Os insurgentes, ou seja, os talibãs, operam onde querem. Em seu último informe, o Conselho de Segurança da ONU contabilizou 7 mil ações armadas levadas a cabo no Afeganistão pela insurgência nos últimos três meses. Em Kabul, os talibãs atacaram a embaixada norte-americana e a sede da OTAN. Tornaram-se como antes, amos e senhores.
Foi mais fácil matar Bin Laden em seu esconderijo no Paquistão do que derrotar os talibãs, cujas ações se propagaram com extrema violência para o outro aliado da fronteira, o Paquistão, um país com tantas máscaras como fronteiras delicadas (Afeganistão, Irã, Índia). Há exatamente 10 anos, em sua casa em Islamabad, Ijaz Ul Haq já tinha um olhar muito lúcido. Analista e homem político respeitado, Ijaz Ul Haq é filho do general Zia Ul Haq, o homem que nos anos 80 transformou o Paquistão, que desenvolveu a bomba atômica paquistanesa e abriu dezenas de escolas do Corão para receber, a pedido de Washington, os talibãs. Logo no início da invasão, Ijaz Ul Haq disse a esse jornalista: “Não é destruindo um país que se consegue a paz. Não é porque nos atingiram o coração e porque se clama por vingança que vai se resolver os problemas. A solução é um trabalho de longo prazo e não uma questão de vingança”. A solução nunca se configurou. Só perdura a vingança.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

Che Guevara e os mortos que nunca morrem: “é preciso honrar a memória”.

Diz Eduardo Galeano, que conheceu o Che Guevara: ele foi um homem que disse exatamente o que pensava, e que viveu exatamente o que dizia. Assim seria ele hoje. Já não há tantos homens talhados nessa madeira. Aliás, já não há tanto dessa madeira no mundo. Mas há os mortos que nunca morrem. Como o Che. E, dos mortos que nunca morrem, é preciso honrar a memória, merecer seu legado, saber entendê-lo. Não nas camisetas: nos sonhos, nas esperanças, nas certezas. Para que eles não morram jamais. O artigo é de Eric Nepomuceno.

No dia em que executaram o Che Guevara em La Higuera, uma aldeola perdida nos confins da Bolívia, Julio Cortázar – que na época trabalhava como tradutor na Unesco – estava em Argel. Naquele tempo – 9 de outubro de 1967 – as notícias demoravam muito mais que hoje para andar pelo mundo, e mais ainda para ir de La Higuera a Argel.
Vinte dias depois, já de volta a Paris, onde vivia, Cortázar escreveu uma carta ao poeta cubano Roberto Fernández Retamar contando o que sentia: “Deixei os dias passarem como num pesadelo, comprando um jornal atrás do outro, sem querer me convencer, olhando essas fotos que todos nós olhamos, lendo as mesmas palavras e entrando, uma hora atrás da outra, no mais duro conformismo... A verdade é que escrever hoje, e diante disso, me parece a mais banal das artes, uma espécie de refúgio, de quase dissimulação, a substituição do insubstituível. O Che morreu, e não me resta mais do que o silêncio”.

Mas escreveu:
Yo tuve un hermano
que iba por los montes
mientras yo dormía.
Lo quise a mi modo,
le tomé su voz
libre como el agua,
caminé de a ratos
cerca de su sombra.
No nos vimos nunca
pero no importaba,
mi hermano despierto
mientras yo dormía,
mi hermano mostrándome
detrás de la noche
su estrella elegida.


A ansiedade de Cortázar, a angústia de saber que não havia outra saída a não ser aceitar a verdade, a neblina do pesadelo do qual ninguém conseguia despertar e sair, tudo isso se repetiu, naquele 9 de outubro de 1967, por gente espalhada pelo mundo afora – gente que, como ele, nunca havia conhecido o Che.
Passados exatos 44 anos da tarde em que o Che foi morto, o que me vem à memória são as palavras de Cortázar, o poema que recordo em sua voz grave e definitiva: “Eu tive um irmão, não nos encontramos nunca mas não importava, meu irmão desperto enquanto eu dormia, meu irmão me mostrando atrás da noite sua estrela escolhida”.
No dia anterior, 8 de outubro de 1967, um Ernesto Guevara magro, maltratado, isolado do mundo e da vida, com uma perna ferida por uma bala e carregando uma arma travada, se rendeu. Parecia um mendigo, um peregrino dos próprios sonhos, estava magro, a magreza estranha dos místicos e dos desamparados. Foi levado para um casebre onde funcionava a escola rural de La Higuera. No dia seguinte foi interrogado. Primeiro, por um tenente boliviano chamado Andrés Selich. Depois, por um coronel, também boliviano, chamado Joaquín Zenteno Anaya, e por um cubano chamado Félix Rodríguez, agente da CIA. Veio, então, a ordem final: o general René Barrientos, presidente da Bolívia, mandou liquidar o assunto.
O escolhido para executá-la foi um soldadinho chamado Mario Terán. A instrução final: não atirar no rosto. Só do pescoço para baixo. Primeiro o soldadinho acertou braços e pernas do Che. Depois, o peito. O último dos onze disparos foi dado à uma e dez da tarde daquela segunda-feira, 9 de outubro de 1967. Quatro meses e 16 dias antes, o Che havia cumprido 39 anos de idade. Sua última imagem: o corpo magro, estendido no tanque de lavar roupa de um casebre miserável de uma aldeola miserável de um país miserável da América Latina. Seu rosto definitivo, seus olhos abertos – olhando para um futuro que ele sonhou, mas não veria, olhando para cada um de nós. Seus olhos abertos para sempre.
Quarenta e quatro anos depois daquela segunda-feira, o homem novo sonhado por ele não aconteceu. Suas idéias teriam cabida no mundo de hoje? Como ele veria o que aconteceu e acontece? O que teria sido dele ao saber que se transformou numa espécie de ícone de sonhos românticos que perderam seu lugar? Haveria lugar para o Che Guevara nesse mundo que parece se esfarelar, mas ainda assim persiste, insiste em acreditar num futuro de justiça e harmonia? Um lugar para ele nesses tempos de avareza, cobiça, egoísmo?
Deveria haver. Deve haver. O Che virou um ícone banalizado, um rosto belo estampado em camisetas. Mas ele saberia, ele sabe, que foi muito mais do que isso. O que havia, o que há por trás desse rosto? Essa, a pergunta que prevalece.
O Che viveu uma vida breve. Passaram-se mais anos da sua morte do que os anos da vida que coube a ele viver. E a pergunta continua, persistente e teimosa como ele soube ser. Como seria o Che Guevara nesses nossos dias de espanto? Pois teria sabido mudar algumas idéias sem mudar um milímetro de seus princípios.
Diz Eduardo Galeano, que conheceu o Che Guevara: ele foi um homem que disse exatamente o que pensava, e que viveu exatamente o que dizia.
Assim seria ele hoje.
Já não há tantos homens talhados nessa madeira. Aliás, já não há tanto dessa madeira no mundo. Mas há os mortos que nunca morrem. Como o Che.
E, dos mortos que nunca morrem, é preciso honrar a memória, merecer seu legado, saber entendê-lo. Não nas camisetas: nos sonhos, nas esperanças, nas certezas. Para que eles não morram jamais. Como o Che.

Eric Nepomuceno | Carta Maior

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