terça-feira, fevereiro 03, 2009

ZP090203

ZENIT

O mundo visto de Roma

Serviço diario - 03 de fevereiro de 2009



SANTA SÉ
Bento XVI propõe jejum como ajuda para saciar fome de Deus
Papa pede que pais possam escolher escola para seus filhos
Papa reconhece e condena holocausto
Programa Mundial de Alimentos junto à Igreja contra fome

MUNDO
Cardeal Bertone proporá na Espanha fundamento dos direitos humanos
Brasil: selo em homenagem de Dom Helder Camara

EM FOCO
Arcebispo enumera seis perigos

FLASH
Procuram-se pessoas que salvaram judeus na 2ª Guerra Mundial
Vinte anos após visita de Bento XVI ao Chile

ENTREVISTAS
Meditando a Palavra de Deus com santos, escritores e literatos

DOCUMENTAÇÃO
Mensagem de Bento XVI para a Quaresma 2009

Santa Sé

Bento XVI propõe jejum como ajuda para saciar fome de Deus

Na mensagem para a Quaresma de 2009, publicada nesta terça-feira

CIDADE DO VATICANO, terça-feira, 3 de fevereiro de 2009 (ZENIT.org).- O valor e o sentido do jejum como «uma arma espiritual» é a proposta que Bento XVI apresenta em sua mensagem para esta Quaresma. O documento foi apresentado nesta terça-feira, em uma coletiva de imprensa na Santa Sé.

«Podemos perguntar-nos que valor e que sentido tem para nós, os cristãos, privar-nos de algo que em si mesmo seria bom e útil para nosso sustento», pergunta-se o Santo Padre em sua mensagem. 

Deste modo, em sua proposta para a Quaresma, que começará no dia 25 de fevereiro – Quarta-Feira de Cinzas – e se estenderá até 5 de abril – Domingo de Ramos –, ele se detém a analisar o sentido que esta prática teve tanto no Antigo como no Novo Testamento. 

A visão cristã

O pontífice mostra como Jesus fala do verdadeiro jejum, que consiste «em cumprir a vontade do Pai Celestial», exemplo que também dá ao responder a Satanás, que durante 40 dias no deserto diz que «não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus». 

O Papa declara desta maneira que o verdadeiro jejum «tem como finalidade comer do alimento verdadeiro, que é fazer a vontade do Pai». 

«Com o jejum, o crente deseja submeter-se humildemente a Deus, confiando em sua bondade e misericórdia», sublinha. 

A desvalorização do jejum

O jejum hoje «perdeu um pouco do seu valor espiritual», declara depois a mensagem, pois muitas vezes se reduz a uma «medida terapêutica para o cuidado do próprio corpo». 

Bento XVI assinala que a prática do jejum contribui para «dar unidade à pessoa, corpo e alma, ajudando-a a evitar o pecado e a crescer na intimidade com o Senhor». 

«Privar-se do alimento material que nutre o corpo facilita uma disposição interior a escutar Cristo e a nutrir-se de sua palavra de salvação» e assegura que com esta prática, junto com a da oração, nós «lhe permitimos que venha saciar a fome mais profunda que experimentamos no íntimo de nosso coração». 

O Santo Padre ressalta também o significado social do jejum, dizendo que este «nos ajuda a tomar consciência da situação na qual vivem muitos de nossos irmãos». 

Por isso, exorta as paróquias «a intensificar durante a Quaresma a prática do jejum pessoal e comunitário, cuidando desta forma da escuta da Palavra de Deus, da oração e da esmola». 

O Papa assegura que esta prática é «uma arma espiritual para lutar contra qualquer possível apego desordenado a nós mesmos». 

Desta forma, ajuda «o discípulo de Cristo a controlar os apetites da natureza debilitada pelo pecado original, cujos efeitos negativos afetam toda a personalidade humana». 

Em definitivo, graças ao jejum, para o pontífice a Quaresma é o tempo ideal «para afastar tudo o que distrai o espírito e para intensificar o que alimenta a alma e a abre ao amor de Deus e do próximo». 

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Papa pede que pais possam escolher escola para seus filhos

Em seu discurso ao novo embaixador da Hungria

Por Inma Álvarez

CIDADE DO VATICANO, terça-feira, 3 de fevereiro de 2009 (ZENIT.org).- Bento XVI pediu aos governos que permitam aos pais escolher o tipo de escola na qual querem educar seus filhos. Assim manifestou nesta segunda-feira em seu discurso ao novo embaixador da Hungria na Santa Sé, Janos Balassa, durante a cerimônia de apresentação das cartas credenciais.

Em particular, pediu ao governo desse país que «permita aos pais exercer seu direito fundamental como primeiros educadores de seus filhos, o que inclui a opção de enviar seus filhos a escolas religiosas, se assim o desejarem». 

O bispo de Roma recordou sua mensagem na Jornada Mundial da Paz do ano passado, na qual ressaltou «a primordial importância da família para construir comunidades pacíficas a todos os níveis». 

«Em grande parte da moderna Europa – afirmou –, o papel unificador vital que a família deve desempenhar nos assuntos humanos foi questionado ou inclusive está em risco devido a equivocadas formas de pensamento, que às vezes encontram sua expressão em políticas agressivas de tipo social e político.»

No caso concreto da Hungria, o Santo Padre alertou sobre o risco de que a «experiência da recém conquistada liberdade», após décadas de comunismo, provoque «a suplantação dos valores humanos e cristãos», por outros «baseados em visões pouco sólidas do homem e de sua dignidade, e perigosas para o desenvolvimento de uma sociedade realmente próspera». 

«Espero seriamente que encontrem formas de salvaguardar este elemento essencial de nossa sociedade, que é o coração de toda cultura e nação», explicou o Papa, esclarecendo que um dos modos específicos com que um governo pode ajudar a família é defendendo seu direito de escolher a educação de seus filhos. 

Por outro lado, o pontífice aludiu aos 20 anos de democracia da Hungria, e assegurou que este país «fez grandes processos para estabelecer as estruturas de uma sociedade livre e democrática, capaz e desejosa de desempenhar seu papel em uma comunidade mundial cada vez mais globalizada». 

Neste sentido, pediu ao país que não se esqueça «de sua forte herança cristã, que se remonta a mais de mil anos», e que ajude a promover «estes ideais humanos na comunidade européia e na mais ampla comunidade mundial». 

Por outro lado, recordou a importância que a Igreja Católica teve na história recente da Hungria, especialmente durante a ditadura comunista. 

«Após décadas de opressão, apoiada no heróico testemunho de muitos cristãos, emergiu para ocupar seu lugar em uma sociedade transformada, capaz mais uma vez de proclamar o Evangelho livremente», afirmou. 

O Papa recordou que a Igreja «não busca privilégios para si mesma, mas sua oportunidade de fazer sua parte na vida da nação, fiel à sua natureza e missão». 

Referiu-se aos acordos bilaterais que este país mantém com a Santa Sé e que estão desenvolvendo-se atualmente em acordos setoriais, e mostrou sua confiança «em que todas as questões pendentes que afetam a vida da Igreja em seu país sejam resolvidas com o espírito de boa vontade e diálogo frutífero que caracterizou nossas relações diplomáticas, desde que foram tão felizmente restauradas». 

A Hungria tem atualmente quase 10 milhões de habitantes, dos quais 51,9% são católicos. 

Segundo os recentes dados publicados ao respeito pelo Comitê Europeu de Ensino Católico (CEEC), no país há cerca de 200 centros educativos, das primeiras idades até as escolas superiores, nas quais se atende cerca de 5% dos estudantes húngaros. 

Contudo, apesar dos acordos assinados em 1997 com a Santa Sé ao respeito, o governo deste país foi progressivamente reduzindo os fundos destinados ao sustento da escola em geral e da religiosa em particular. 

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Papa reconhece e condena holocausto

Declaração vaticana à chanceler alemã Angela Merkel

CIDADE DO VATICANO, terça-feira, 3 de fevereiro de 2009 (ZENIT.org).- Bento XVI reconhece e condena o holocausto do povo judeu na época do nazismo, esclareceu o porta-voz da Santa Sé em resposta a declarações da chanceler alemã. 

O Pe. Federico Lombardi S.J., diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, respondeu aos novos pedidos de esclarecimento sobre a posição do Papa e da Igreja Católica, apresentados por Angela Merkel, citando as condenações públicas da Shoá que o Papa pronunciou neste pontificado. 

A chanceler havia pedido «clareza» ao Papa e à Santa Sé sobre a controvérsia surgida ao levantar-se a excomunhão de quatro bispos tradicionalistas, entre os quais se encontra o bispo Dom Richard Williamson. 

«Se uma decisão do Vaticano dá a impressão de que se pode negar o holocausto – afirmou nesta terça-feira a chefe do governo de Berlim em um encontro com os jornalistas –, esta deve ser esclarecida. Por parte do Vaticano e do Papa, é preciso afirmar muito claramente que não se pode dar nenhuma negação.»

O Pe. Lombardi explicou que «o pensamento do Papa sobre o holocausto foi exposto com muita clareza na Sinagoga de Colônia, em 19 de agosto de 2005, no campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, em 28 de maio de 2006, na sucessiva audiência geral de 31 de agosto de 2006, e mais recentemente no final da audiência geral de 28 de janeiro passado, com palavras que não dão lugar a equívocos». 

Em particular, o porta-voz repete as palavras pronunciadas nessa última ocasião pelo Papa: «Enquanto renovo com afeto a expressão de minha total e indiscutível solidariedade com nossos irmãos destinatários da Primeira Aliança, desejo que a memória da Shoá induza a humanidade a refletir sobre o imprevisível poder do mal quando conquista o coração do homem. Que a Shoá seja para todos advertência contra o esquecimento, contra a negação ou o reducionismo». 

Segundo o Pe. Lombardi, «a condenação das declarações negacionistas do holocausto não podia ser mais clara, e pelo contexto é evidente que se referia também às posições de Dom Williamson e a todas as posições análogas». 

«Nessa mesma ocasião, o Papa explicou claramente também que a revogação da excomunhão não tem a ver com uma legitimação de posições negacionistas do holocausto, que, como se pode ver, ele condenou claramente», conclui. 

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Programa Mundial de Alimentos junto à Igreja contra fome

Josette Sheeran exorta ao compromisso com os mais necessitados

Por Carmen Elena Villa

CIDADE DO VATICANO, terça-feira, 3 de fevereiro de 2009 (ZENIT.org).- O problema da fome no mundo não consiste na falta de disponibilidade de alimentos; «o problema tem a ver com a distribuição, mas também com a cobiça, a discriminação, as guerras e outras tragédias», explicou nesta terça-feira, em uma coletiva de imprensa na Santa Sé, Josette Sheeran, diretora executiva do Programa Mundial de Alimentos (PAM). 

A responsável deste organismo das Nações Unidas apresentou aos jornalistas a mensagem de Bento XVI para a Quaresma de 2009, convidando a harmonizar jejum e caridade como instrumentos para lutar contra a fome. 

Por um lado, assegurou que as palavras de Bento XVI para esta quaresma «nos ajudam também a recordar que a fome está crescendo em todos os lugares». 

Assegurou que com 3 bilhões de dólares ao ano seria possível eliminar a fome das crianças que estão em idade escolar. Segundo explicou, 115 milhões de pessoas em todo o mundo carecem das necessidades básicas de comida e quase um bilhão de pessoas não tem suficientes alimentos, o que representa 1/6 da população mundial. Também indicou que a cada 6 segundos uma criança morre de fome no mundo. 

Reiterou que «no mundo há comida suficiente para que cada ser humano tenha um acesso adequado a uma dieta nutritiva». 

«É um objetivo alcançável. Podemos eliminar a fome entre as crianças que vão à escola se houvesse pessoas dispostas a ajudar», assegurou. 

Sheeran assinalou que, neste tempo de tantos desafios econômicos no âmbito mundial, «não devemos esquecer que a crise alimentar e financeira toca de modo particularmente duro os mais vulneráveis do planeta», diz. 

Referiu-se também à crise econômica, dizendo que «se para muitas famílias isso comporta alguns sacrifícios, para os mais pobres dos pobres, isso significa não poder comer em um dia, em dois ou em três». 

A funcionária da ONU apresentou alguns programas de alimentação escolar que demonstram como com um pouco de solidariedade se pode fazer uma grande diferença. 

Em primeiro lugar, ela se referiu a um programa de alimentação no Afeganistão, onde os índices de escolaridade aumentaram graças ao programa alimentar que o PAM adotou. 

«Sabemos que as famílias são mais propensas a enviar os próprios filhos à escola se nela recebem uma refeição durante o dia», esclareceu. 

Citou também o exemplo de Gaza, onde o PAM lançou um chamado pedindo ajuda ao setor privado para encontrar alimentos altamente nutritivos para as crianças, graças a uma cooperação com a Fazenda alimentar do Egito e Holanda. 

O PAM colabora com instituições caritativas e ONGs em todo o mundo. «As instituições católicas são companheiras-chave para o PAM – assinalou. Trabalhamos também com o Catholic Relief Services – A Cáritas dos Estados Unidos – colaborando em 15 países», disse. 

Josette Sheeran destacou o compromisso e a compaixão de Bento XVI por quem passa fome no mundo. «O Papa pediu aos governos que prestassem atenção aos pobres», disse. E fez alusão à intervenção de Sua Santidade sobre a atual crise econômica em seus discursos e homilias. 

Disse também que a assistência humanitária não é possível sem a intervenção do bom samaritano, que ajuda as pessoas em necessidade. «Seja com generosas doações dos governos nacionais ou de coletas feitas em igrejas, mesquitas e escolas, as doações às agências de socorro como o PAM e as Cáritas são essenciais para continuar socorrendo os famintos no mundo», disse. 

Também aproveitou para dar a conhecer a campanha Fill the Cup, que consiste em oferecer um almoço nutritivo a crianças em idade escolar com o custo de 1 euro por semana. «A tradição do jejum voluntário durante a Quaresma, combinado com a caridade, pode de verdade mudar a vida de uma criança», disse. 

«Cada um de nós tem duas opções: passar sem deter-se ao lado de quem tem necessidade ou atuar para ajudá-lo. Nesta Quaresma, escolhamos um mundo livre da fome», concluiu. 

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Mundo

Cardeal Bertone proporá na Espanha fundamento dos direitos humanos

Declaração do secretário de Estado de Bento XVI

CIDADE DO VATICANO, terça-feira, 3 de fevereiro de 2009 (ZENIT.org).- Antes de chegar à Espanha, o cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado de Bento XVI, esclareceu que o principal objetivo de sua viagem consiste em apresentar a seus interlocutores o fundamento dos direitos humanos.

O purpurado italiano chegou ao anoitecer desta terça-feira ao aeroporto de Barajas, onde recebeu as boas-vindas dos representantes da Igreja no país, em particular do cardeal Antonio María Rouco Varela. 

Em declarações concedidas ao jornal italiano «Avvenire», o cardeal explica que foi «convidado pela Conferência Episcopal a pronunciar uma conferência sobre os 60 anos da Declaração dos Direitos do Homem; ao mesmo tempo, terei um encontro também com o rei da Espanha, com o primeiro-ministro e com outros expoentes políticos. Procurarei explicar que os direitos são algo sério, que se baseiam na lei natural e não podem confundir-se com os desejos...». 

Diante da pergunta do jornalista Gianni Cardinale sobre as dificuldades nas relações entre a Igreja Católica e o governo de Madri, o cardeal responde que «a vontade de dialogar é um sinal positivo». 

«Os católicos tradicionalmente respeitam o poder político legitimamente constituído. E a Igreja sempre está disposta a uma fecunda colaboração com as autoridades, no contexto de uma sã laicidade. Obviamente, não se pode calar se vemos que de alguma maneira se afetam os princípios da lei natural ou da liberdade da Igreja», acrescenta. 

Segundo revelou a Sala de imprensa da Conferência Episcopal Espanhola, o cardeal Bertone, na manhã desta quarta-feira, às 10h, se reunirá com o ministro de Assuntos Exteriores, Miguel Ángel Moratinos; às 10h30, com a vice-presidente do governo, Maria Teresa Fernández de la Vega; às 12h, com Sua Majestade o Rei Juan Carlos I; e às 13h, com o presidente do governo, José Luis Rodríguez Zapatero. 

Às 14h15, terá um almoço com Sua Majestade o Rei, Sua Alteza o Príncipe de Astúrias, o presidente do governo e o ministro de Assuntos Exteriores. 

À tarde, às 18h se encontrará com o presidente do Partido Popular, Mariano Rajoy. Na quinta-feira, dia 5, o secretário de Estado de Sua Santidade chegará à Conferência Episcopal Espanhola (CEE) às 11h15, onde será recebido pelo cardeal Rouco Varela, presidente da CEE, e pelo secretário-geral, Dom Martínez Camino. 

A seguir se dirigirão à capela para ter alguns minutos de oração diante do Santíssimo. Às 11h30 aproximadamente, o cardeal Bertone se encontrará com o cardeal Rouco e posteriormente saudará os demais cardeais espanhóis assistentes ao ato e o bispo de Bilbao e vice-presidente da CEE, Dom Ricardo Blázquez Pérez, assim como a algumas autoridades que estarão presentes no evento. 

O ato público começará às 12h, na Sala da Plenária, com uma saudação do cardeal Rouco Varela, que dará as boas-vindas ao secretário de Estado de Sua Santidade e pronunciará algumas palavras sobre o sentido do ato. 

Depois, o cardeal Bertone dissertará sobre os «Direitos Humanos no magistério de Bento XVI». Na Sala estarão presentes 260 pessoas. 

Ele será acompanhado na Sala por personalidades civis, especialmente do âmbito político, jurídico, empresarial, cultural e jornalístico. Ao ato, que será transmitido pela página da CEE (www.conferenciaepiscopal.es), assistirão na Casa da Igreja outras 300 pessoas que acompanharão a conferência através de telões localizados na Sala Multiuso e a Sala de Imprensa. 

Ao finalizar, o cardeal Bertone, junto com os bispos assistentes ao ato, se dirigirá à sede da Nunciatura, onde o senhor núncio e o presidente da CEE lhes oferecerão um almoço. 

À tarde, às 18h, o secretário de Estado da Santa Sé regressará a Roma.

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Brasil: selo em homenagem de Dom Helder Camara

No centenário de nascimento do antigo arcebispo de Olinda e Recife

BRASÍLIA, terça-feira, 3 de fevereiro de 2009 (ZENIT.org).- Os Correios do Brasil lançam no dia 7 de fevereiro um selo comemorativo do centenário de nascimento de Dom Helder Camara.

De acordo com os Correios, o lançamento ocorre em duas cidades significativas na vida do homenageado: Fortaleza (CE), local de nascimento de Dom Helder, e Recife (PE), onde atuou como arcebispo por mais de duas décadas.

O selo traz a imagem de Dom Helder Camara soltando uma pomba branca, símbolo universal da paz. Ao lado, em tamanho menor, a imagem de agricultores representa alguns dos importantes movimentos sociais dos quais participou, como a Pastoral da Terra, Pastoral do Negro e Pastoral do Índio.

Ao fundo, a imagem rebaixada e em silhueta da Igreja das Fronteiras, local em que viveu até sua morte. Complementando o selo, um fundo azul e alaranjado, simbolizando o alvorecer de um novo tempo.

O design ficou a cargo da artista Silvania Branco, que utilizou técnicas de ilustração vetorial e computação gráfica na elaboração da imagem. A tiragem é de 1.020.000 unidades.

Vida

Dom Helder Camara nasceu em 7 de fevereiro de 1909, no Ceará, e faleceu em Pernambuco, em 27 de agosto de 1999.

Em artigo divulgado ontem pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), Dom José Alberto Moura, arcebispo de Montes Claros, destaca que a presença de Dom Helder na história do Brasil «foi marcante».

«A CNBB e o Celam (Conselho Episcopal Latino-Americano) puderam ver o exemplo e a atuação desse homem nem sempre compreendido.»

Segundo Dom Alberto Moura, como assessor do arcebispo do Rio de Janeiro, depois como bispo auxiliar na mesma arquidiocese e, mais ainda, como arcebispo de Olinda e Recife, «foi um profeta da esperança de um mundo novo possível».

«Para ele, a quase utopia do amor de Cristo se torna possível quando a pessoa se abre ao outro para ajudá-lo a ser gente com todas as letras.»

«Taxado de comunista pelo regime militar (1964-1984), quiseram abafar sua voz de denúncia ao desrespeito à dignidade humana. Já que então era censurado no Brasil, no exterior pôde ser voz de quem não tinha voz aqui», recorda.

Em geral –prossegue o arcebispo–, «é perseguido quem é temido pelo seu poder. Helder tinha o poder do amor e a arma do serviço à causa dos simples e humildes».

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Em foco

Arcebispo enumera seis perigos

Rotina, mediocridade, omissão, apego, preocupação e idolatria

LONDRINA, terça-feira, 3 de fevereiro de 2009 (ZENIT.org).- O arcebispo de Londrina (Brasil), Dom Orlando Brandes, dedicou uma mensagem aos fiéis nesta terça-feira em que ele alerta sobre seis perigos.

O primeiro deles é «a rotina». «É o pecado capital da preguiça. A rotina torna a vida sem graça, monótona, sem expectativa de melhora e de transformação. A rotina é a morte do cotidiano, o desprezo dos valores e das maravilhas. É um caminho destrutivo», destaca.

Em segundo lugar, o arcebispo alerta quanto à «mediocridade». «A pessoa medíocre não quer saber de estudo, da participação, de transformação. Vive na alienação, contenta-se com o menos, não quer compromisso.»

«Faz um ‘pacto com mediocridade’, isto é, com uma vida sem sacrifício, sem lutas, sem responsabilidade com muita indiferença e desinteresse. A pessoa medíocre é inimiga da disciplina e do sacrifício, gosta de gabar-se de seus pecados e de criticar e diminuir os outros. Desposa a superficialidade», afirma.

De acordo com Dom Orlando, a mediocridade pode ser curada com a força de vontade, buscando convicções e conversão.

Em terceiro lugar, o arcebispo cita «as omissões». «Omissão é deixar de fazer o que devemos e podemos, como também, fazer mal o que podemos fazer de um modo bem melhor», explica.

«A omissão é escape, fuga, desinteresse, irresponsabilidade. O mundo seria outro, se não fôssemos omissos e acomodados».

Dom Orlando considera que as omissões podem ser vencidas «adquirindo o senso de justiça, a sensibilidade pelos outros, a compaixão pelo irmão e principalmente a autenticidade».

O arcebispo de Londrina cita também entre os perigos «o apego», «raiz do sofrimento moral». «Nossas brigas, ciúmes, discórdias, divisões são frutos do apego. Quem é apegado vive numa prisão. É escravo da dependência. Não tem liberdade interior. Não é capaz de discernimento».

«O apego nos impele à posse dos outros, das coisas e de nós mesmos. Isso gera muito sofrimento porque precisamos defender nossos apegos. Quando perdemos o objeto do apego ficamos raivosos, tristes, decepcionados, porque somos escravos, dependentes, condicionados pelo apego.»

Dom Orlando afirma que o único caminho de libertar-se do apego «é abandonar o objeto de apego, cuja recompensa é a liberdade interior, que significa sermos livres do mal, para nos tornamos livres para a prática do bem. Vencemos o apego pela consciência do seu negativismo».

Em quinto lugar, o arcebispo cita o perigo da preocupação. «A preocupação antecipa problemas, aumenta as dificuldades, desgasta as pessoas e não resolve nenhum problema».

«O que resolve é a ocupação. Além de prejudicar a saúde, a preocupação dificulta a convivência, alimenta o negativismo, o stress e agressividade. Resolvemos o problema da preocupação com a fé na Providencia Divina, com a previsão das soluções, com o bom senso e o discernimento. Mais solução, menos preocupação», afirma.

Por último, Dom Orlando Brandes cita o perigo da «idolatria». «É tudo o que colocamos no lugar de Deus e endeusamos. Os grandes ídolos hoje são o poder, o prazer, o ter desordenados», explica.

«Quem adora o Deus vivo e verdadeiro obedece o mandamento do amor a Deus, busca crescer na fé, livra-se dos ídolos. Adorar em espírito e verdade é o ensinamento de Jesus», afirma o arcebispo.

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Flash

Procuram-se pessoas que salvaram judeus na 2ª Guerra Mundial

Por iniciativa da Fundação Internacional Raoul Wallenberg

ROMA, terça-feira, 3 de fevereiro de 2009 (ZENIT.org).- A Fundação Internacional Raoul Wallenberg (IRWF), uma ONG com base em Nova York que se dedica a honrar, preservar e difundir a herança daqueles que prestaram auxílio às vítimas do Holocausto, está recolhendo informação sobre os cidadãos italianos que ajudaram a salvar os judeus perseguidos durante a 2ª Guerra Mundial. 

Entre os muitos heróis italianos, é possível mencionar Giovanni Palatucci, um policial que salvou a vida de cerca de 5 mil judeus; Giorgio Perlasca, que se apresentou como embaixador espanhol em Budapeste e conseguiu colocar sob custódia milhares de refugiados condenados à morte nos campos de concentração; Beniamino Schivo, um sacerdote católico que proporcionou alojamento, roupas e alimento a uma família inteira; Angelo Giuseppe Roncalli, futuro Papa João XXIII, que durante seu cargo como delegado apostólico em Istambul, em 1944, ajudou a salvar milhares de judeus e não-judeus perseguidos. 

Em 4 de novembro passado, Baruj Tenembaum, fundador da IRWF, propôs que se outorgasse a Roncalli o título de «Justo entre as nações» por parte do Yad Vashem, a autoridade para a recordação dos mártires e dos heróis do Holocausto. 

A Fundação Wallenberg lançou uma campanha entre os líderes das comunidades leigas e religiosas para que proponham aos pais jovens que coloquem em seus filhos os nomes daqueles italianos que cuidaram de judeus perseguidos, com frequência arriscando sua vida. 

Pede-se a quem tiver notícias ou depoimentos ao respeito, que contate com os escritórios da Fundação: 

- Em Nova York: Svetlana c/o 34 E 67 Street, New York, NY 10065, USA; telefone: +1 212 7373275;

- Em Jerusalém: Danny c/o 3 Antebi Street, Jerusalém, Israel; telefone: + 972 2 6257996

 

Para mais informações: www.raoulwallenberg.net

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Vinte anos após visita de Bento XVI ao Chile

SANTIAGO, terça-feira, 3 de fevereiro de 2009 (ZENIT.org).- Acaba de aparecer o Cuaderno Humanitas nº 20 – que circula com o número de janeiro da revista Humanitas –, cujas 66 páginas recolhem os mais importantes discursos e declarações que o então cardeal Joseph Ratzinger pronunciou em Santiago do Chile há 20 anos. 

Estes textos – que podem ser lidos e baixados na íntegra do site da revista Humanitas – são apresentados em um prólogo introdutório do diretor da Revista como uma homenagem da Pontifícia Universidade Católica do Chile e desta publicação à cátedra de Pedro, na pessoa de seu sucessor, Bento XVI. 

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Entrevistas

Meditando a Palavra de Deus com santos, escritores e literatos

Entrevista com o autor David Amado

Por Miriam Díez i Bosch

BARCELONA, terça-feira, 3 de fevereiro de 2009 (ZENIT.org).- A grandeza das Escrituras consiste em «que nos abrem o coração de Deus porque Deus quer relacionar-se conosco. Sem Jesus se cairia em uma simples ética ou em uma gnose». 

Com esta premissa, o sacerdote David Amado, da arquidiocese de Barcelona, apresenta a Palavra de Deus servindo-se de comentários de santos, papas, padres da Igreja, escritores... E o resultado é «Palavra de Deus para os domingos e festas», editado por San Pablo

As páginas desta novidade editorial, sempre baseadas na leitura da Palavra de Deus que a Igreja oferece cada domingo, são estímulo e convite para a reflexão, a oração e a posta em prática do Evangelho. 

David Amado Fernández é sacerdote da arquidiocese de Barcelona, em cujo Instituto de Teologia Espiritual é professor. É diretor da revista sonora Aura, para deficientes visuais, e colabora na revista mensal Magnificat e na Universidade Abat Oliba CEU

– Santos, escritores, literatos... Os comentários sobre a Palavra de Deus são inesgotáveis. No que você se fixou para buscar estes comentários?

– Amado: A Palavra de Deus é inesgotável em seu conteúdo e, apesar dos múltiplos comentários que existem e da tradição viva da Igreja, não deixamos de estar surpresos pelas riquezas que podem ser descobertas. 

Os escritos dos Santos Padres me inspiram muito, não só em suas reflexões concretas sobre textos determinados da Escritura, mas em geral, pela  sua forma de ler a Bíblia. Também me parece que estou influenciado pela leitura que João Paulo II fez de algumas passagens bíblicas. Mas continuamente descubro, não só em autores espirituais, mas também em clássicos da literatura ou em estudos exegéticos, interpretações muito sugestivas. 

Nos comentários que eu escrevi, o contexto influenciou muito. Estavam destinados à edição espanhola da revista Magnificat e pensados como uma ajuda para a compreensão orante das leituras dominicais. 

– O Sínodo da Palavra foi exigente com o nível das homilias, que às vezes não têm nada a ver com a Palavra de Deus. O que uma boa homilia deve ter?

– Amado: Gosto que estejam centradas nos textos bíblicos que se proclamaram na celebração ou que aludam à festa concreta. Às vezes, as homilias respondem a outras finalidades concretas e é mais difícil aludir aos textos. 

Parece-me que, como norma geral, devem ajudar a compreender a Palavra que se proclamou para que possa ser interiorizada pelos fiéis. Creio também que se deve evitar cair no moralismo e procurar transmitir a fé da Igreja em toda a sua riqueza. 

– A Palavra de Deus é Jesus Cristo. Muita gente pensa que o cristianismo é uma «religião do livro», identificando-a com a Bíblia. Como superar este obstáculo?

– Amado: Santo Agostinho diz que «não temos a possibilidade de palpá-lo, mas sim de ler». E também é muito conhecida a frase de São Jerônimo sobre quem desconhece as Escrituras como aquele que desconhece Jesus Cristo. Bento XVI assinalou que o cristianismo consiste no acontecimento do encontro com uma pessoa. Isso é assim. 

A Bíblia nos serve para conhecer o que Deus disse de si mesmo e, portanto, leva-nos a saber d’Ele para conhecer como nos ama e poder corresponder-lhe. A grandeza das Escrituras é que nos abrem o coração de Deus, porque Deus quer relacionar-se conosco. Sem Jesus se cairia em uma simples ética ou em uma gnose. 

– Caridade e palavra de Deus estão vinculadas. Por que muitas pessoas ficam com a letra, esquecendo do espírito desta e do convite à ação?

– Amado: Quando acolhemos com humildade e fé a Palavra de Deus, ela vai nos transformando interiormente. 

Santo Agostinho assinalava que a Sagrada Escritura se compreende através da vida dos santos. 

O próprio Espírito Santo, que inspirou a Bíblia, é o autor da nossa santificação. A Palavra de Deus é viva e eficaz e, por isso, transforma-nos interiormente e nos dispõe a viver segundo o que nos é dito nela. 

Igualmente, a vida segundo o Evangelho dispõe para uma melhor compreensão das Escrituras. Se nossa vida não muda, certamente é por falta de docilidade e por pretender dominar as Escrituras ao invés de permitir que elas nos configurem. 

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Documentação

Mensagem de Bento XVI para a Quaresma 2009

CIDADE DO VATICANO, terça-feira, 3 de fevereiro de 2009 (ZENIT.org).- Publicamos a mensagem que Bento XVI escreveu para a Quaresma 2009, com o lema  «Jejuou durante quarenta dias e quarenta noites e, por fim, teve fome» (Mt 4, 2).

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Queridos irmãos e irmãs!

No início da Quaresma, que constitui um caminho de treino espiritual mais intenso, a Liturgia propõe-nos três práticas penitenciais muito queridas à tradição bíblica e cristã – a oração, a esmola, o jejum – a fim de nos predispormos para celebrar melhor a Páscoa e deste modo fazer experiência do poder de Deus que, como ouviremos na Vigília pascal, «derrota o mal, lava as culpas, restitui a inocência aos pecadores, a alegria aos aflitos. Dissipa o ódio, domina a insensibilidade dos poderosos, promove a concórdia e a paz» (Hino pascal). Na habitual Mensagem quaresmal, gostaria de reflectir este ano em particular sobre o valor e o sentido do jejum. De facto a Quaresma traz à mente os quarenta dias de jejum vividos pelo Senhor no deserto antes de empreender a sua missão pública. Lemos no Evangelho: «O Espírito conduziu Jesus ao deserto a fim de ser tentado pelo demónio. Jejuou durante quarenta dias e quarenta noites e, por fim, teve fome» (Mt 4, 1-2). Como Moisés antes de receber as Tábuas da Lei (cf. Êx 34, 28), como Elias antes de encontrar o Senhor no monte Oreb (cf. 1 Rs 19, 8), assim Jesus rezando e jejuando se preparou para a sua missão, cujo início foi um duro confronto com o tentador.

Podemos perguntar que valor e que sentido tem para nós, cristãos, privar-nos de algo que seria em si bom e útil para o nosso sustento. As Sagradas Escrituras e toda a tradição cristã ensinam que o jejum é de grande ajuda para evitar o pecado e tudo o que a ele induz. Por isto, na história da salvação é frequente o convite a jejuar. Já nas primeiras páginas da Sagrada Escritura o Senhor comanda que o homem se abstenha de comer o fruto proibido: «Podes comer o fruto de todas as árvores do jardim; mas não comas o da árvore da ciência do bem e do mal, porque, no dia em que o comeres, certamente morrerás» (Gn 2, 16-17). Comentando a ordem divina, São Basílio observa que «o jejum foi ordenado no Paraíso», e «o primeiro mandamento neste sentido foi dado a Adão». Portanto, ele conclui: «O "não comas" e, portanto, a lei do jejum e da abstinência» (cf. Sermo de jejunio: PG 31, 163, 98). Dado que todos estamos estorpecidos pelo pecado e pelas suas consequências, o jejum é-nos oferecido como um meio para restabelecer a amizade com o Senhor. Assim fez Esdras antes da viagem de regresso do exílio à Terra Prometida, convidando o povo reunido a jejuar «para nos humilhar – diz – diante do nosso Deus» (8, 21). O Omnipotente ouviu a sua prece e garantiu os seus favores e a sua protecção. O mesmo fizeram os habitantes de Ninive que, sensíveis ao apelo de Jonas ao arrependimento, proclamaram, como testemunho da sua sinceridade, um jejum dizendo: «Quem sabe se Deus não Se arrependerá, e acalmará o ardor da Sua ira, de modo que não pereçamos?» (3, 9). Também então Deus viu as suas obras e os poupou.

No Novo Testamento, Jesus ressalta a razão profunda do jejum, condenando a atitude dos fariseus, os quais observaram escrupulosamente as prescrições impostas pela lei, mas o seu coração estava distante de Deus. O verdadeiro jejum, repete também noutras partes o Mestre divino, é antes cumprir a vontade do Pai celeste, o qual «vê no oculto, recompensar-te-á» (Mt 6, 18). Ele próprio dá o exemplo respondendo a satanás, no final dos 40 dias transcorridos no deserto, que «nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus» (Mt 4, 4). O verdadeiro jejum finaliza-se portanto a comer o «verdadeiro alimento», que é fazer a vontade do Pai (cf. Jo 4, 34). Portanto, se Adão desobedeceu ao mandamento do Senhor «de não comer o fruto da árvore da ciência do bem e do mal», com o jejum o crente deseja submeter-se humildemente a Deus, confiando na sua bondade e misericórdia.

Encontramos a prática do jejum muito presente na primeira comunidade cristã (cf. Act 13, 3; 14, 22; 27, 21; 2 Cor 6, 5). Também os Padres da Igreja falam da força do jejum, capaz de impedir o pecado, de reprimir os desejos do «velho Adão», e de abrir no coração do crente o caminho para Deus. O jejum é também uma prática frequente e recomendada pelos santos de todas as épocas. Escreve São Pedro Crisólogo: «O jejum é a alma da oração e a misericórdia é a vida do jejum, portanto quem reza jejue. Quem jejua tenha misericórdia. Quem, ao pedir, deseja ser atendido, atenda quem a ele se dirige. Quem quer encontrar aberto em seu benefício o coração de Deus não feche o seu a quem o suplica» (Sermo 43; PL 52, 320.332).

Nos nossos dias, a prática do jejum parece ter perdido um pouco do seu valor espiritual e ter adquirido antes, numa cultura marcada pela busca da satisfação material, o valor de uma medida terapêutica para a cura do próprio corpo. Jejuar sem dúvida é bom para o bem-estar, mas para os crentes é em primeiro lugar uma «terapia» para curar tudo o que os impede de se conformarem com a vontade de Deus. Na Constituição apostólica Paenitemini de 1966, o Servo de Deus Paulo VI reconhecia a necessidade de colocar o jejum no contexto da chamada de cada cristão a «não viver mais para si mesmo, mas para aquele que o amou e se entregou a si por ele, e... também a viver pelos irmãos» (Cf. Cap. I). A Quaresma poderia ser uma ocasião oportuna para retomar as normas contidas na citada Constituição apostólica, valorizando o significado autêntico e perene desta antiga prática penitencial, que pode ajudar-nos a mortificar o nosso egoísmo e a abrir o coração ao amor de Deus e do próximo, primeiro e máximo mandamento da nova Lei e compêndio de todo o Evangelho (cf. Mt 22, 34-40).

A prática fiel do jejum contribui ainda para conferir unidade à pessoa, corpo e alma, ajudando-a a evitar o pecado e a crescer na intimidade com o Senhor. Santo Agostinho, que conhecia bem as próprias inclinações negativas e as definia «nó complicado e emaranhado» (Confissões, II, 10.18), no seu tratado A utilidade do jejum,escrevia: «Certamente é um suplício que me inflijo, mas para que Ele me perdoe; castigo-me por mim mesmo para que Ele me ajude, para aprazer aos seus olhos, para alcançar o agrado da sua doçura» (Sermo 400, 3, 3: L 40, 708). Privar-se do sustento material que alimenta o corpo facilita uma ulterior disposição para ouvir Cristo e para se alimentar da sua palavra de salvação. Com o jejum e com a oração permitimos que Ele venha saciar a fome mais profunda que vivemos no nosso íntimo: a fome e a sede de Deus.

Ao mesmo tempo, o jejum ajuda-nos a tomar consciência da situação na qual vivem tantos irmãos nossos. Na sua Primeira Carta São João admoesta: «Aquele que tiver bens deste mundo e vir o seu irmão sofrer necessidade, mas lhe fechar o seu coração, como estará nele o amor de Deus?» (3, 17). Jejuar voluntariamente ajuda-nos a cultivar o estilo do Bom Samaritano, que se inclina e socorre o irmão que sofre (cf. Enc. Deus caritas est, 15). Escolhendo livremente privar-nos de algo para ajudar os outros, mostramos concretamente que o próximo em dificuldade não nos é indiferente. Precisamente para manter viva esta atitude de acolhimento e de atenção para com os irmãos, encorajo as paróquias e todas as outras comunidades a intensificar na Quaresma a prática do jejum pessoal e comunitário, cultivando de igual modo a escuta da Palavra de Deus, a oração e a esmola. Foi este, desde o início o estilo da comunidade cristã, na qual eram feitas colectas especiais (cf. 2 Cor 8-9; Rm 15, 25-27), e os irmãos eram convidados a dar aos pobres quanto, graças ao jejum, tinham poupado (cf. Didascalia Ap., V, 20, 18). Também hoje esta prática deve ser redescoberta e encorajada, sobretudo durante o tempo litúrgico quaresmal.

De quanto disse sobressai com grande clareza que o jejum representa uma prática ascética importante, uma arma espiritual para lutar contra qualquer eventual apego desordenado a nós mesmos. Privar-se voluntariamente do prazer dos alimentos e de outros bens materiais, ajuda o discípulo de Cristo a controlar os apetites da natureza fragilizada pela culpa da origem, cujos efeitos negativos atingem toda a personalidade humana. Exorta oportunamente um antigo hino litúrgico quaresmal: «Utamur ergo parcius, / verbis, cibis et potibus, / somno, iocis et arcitius / perstemus in custodia – Usemos de modo mais sóbrio palavras, alimentos, bebidas, sono e jogos, e permaneçamos mais atentamente vigilantes».

Queridos irmãos e irmãos, considerando bem, o jejum tem como sua finalidade última ajudar cada um de nós, como escrevia o Servo de Deus Papa João Paulo II, a fazer dom total de si a Deus (cf. Enc. Veritatis splendor, 21). A Quaresma seja portanto valorizada em cada família e em cada comunidade cristã para afastar tudo o que distrai o espírito e para intensificar o que alimenta a alma abrindo-a ao amor de Deus e do próximo. Penso em particular num maior compromisso na oração, na lectio divina, no recurso ao Sacramento da Reconciliação e na participação activa na Eucaristia, sobretudo na Santa Missa dominical. Com esta disposição interior entremos no clima penitencial da Quaresma. Acompanhe-nos a Bem-Aventurada Virgem Maria, Causa nostrae laetitiae, e ampare-nos no sforço de libertar o nosso coração da escravidão do pecado para o tornar cada vez mais «tabernáculo vivo de Deus». Com estes votos, ao garantir a minha oração para que cada crente e comunidade eclesial percorra um proveitoso itinerário quaresmal, concedo de coração a todos a Bênção Apostólica.

Vaticano, 11 de Dezembro de 2008.

BENEDICTUS PP. XVI

 [Tradução do original italiano distribuída pela Santa Sé

© Copyright 2009 - Libreria Editrice Vaticana]

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