ZENIT
O mundo visto de Roma
Serviço diario - 04 de fevereiro de 2009
SANTA SÉ
Papa apresenta São Paulo como modelo de pensamento e vida
Bento XVI apresenta exemplo de São Paulo aos consagrados
Papa desconhecia opiniões do bispo Williamson e exige sua retratação
Bento XVI pede respeito ao Direito Humanitário no Sri Lanka
Santa Sé procura ajuda para comunidades perseguidas na Índia
MUNDO
Novo patriarca russo espera maior diálogo com católicos
Bispos no Brasil refletem sobre Sínodo da Palavra
Seis dias de jejum para pedir fim da ofensiva no Sri Lanka
Neste início de ano pastoral, cardeal pede coragem
ENTREVISTAS
Bispo de Lugano fala sobre volta dos lefebvristas «à casa»
AUDIÊNCIA DE QUARTA-FEIRA
Bento XVI recolhe herança espiritual de São Paulo
DOCUMENTAÇÃO
Santa Sé: bispos «lefebvristas» ainda não estão em «plena comunhão»
Papa apresenta São Paulo como modelo de pensamento e vida
Conclui o ciclo de catequeses paulinas falando sobre a herança espiritual do ApóstoloPor Inma Álvarez
CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009 (ZENIT.org).- Depois de sua morte, a figura do apóstolo dos gentios foi se engrandecendo com o passar do tempo, e sua doutrina continua sendo fundamental hoje para a Igreja, e um exemplo para os cristãos. Assim afirmou Bento XVI nesta quarta-feira, durante a audiência geral aos 4.500 peregrinos reunidos na Sala Paulo VI.
Com esta catequese, o Papa concluiu seu longo ciclo dedicado a São Paulo, que começou no verão, com a abertura do ano jubilar em comemoração do bimilênio do nascimento do apóstolo. Nela, explicou como seu pensamento influenciou a teologia posterior, especialmente nos séculos XIX e XX.
A figura do apóstolo, afirmou, «foi se engrandecendo a partir de sua morte», evento do qual se tem notícia através dos documentos eclesiais dos primeiros séculos, que o colocam ao lado de São Pedro como fundador da Igreja de Roma.
Paulo, segundo os dados que se tem, foi decapitado durante a primeira perseguição decretada por Nero entre os anos 64 e 68. Seu túmulo, na Via Ostiense, onde se erige atualmente a basílica de São Paulo Fora dos Muros, foi venerado desde o começo do cristianismo.
Muito além dos dados relativos ao seu martírio, Paulo «deixou de fato uma extraordinária herança espiritual», explicou o Papa. Desde o começo, suas cartas entram na liturgia, «de forma que seu pensamento se converte imediatamente em nutrição espiritual para os fiéis de todos os tempos».
O Papa explicou como desde os primeiros Padres da Igreja, começando por Orígenes, até os próprios Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, beberam dos escritos e da espiritualidade de São Paulo.
Contudo, ele se deteve sobretudo a explicar sua influência na Reforma e no pensamento cristão, protestante e católico, dos últimos séculos, temas sobre os quais foi falando ao longo de suas catequeses dos últimos meses.
Precisamente, explica, foi a interpretação da doutrina da justificação de São Paulo por parte de Lutero, e sua concepção da liberdade evangélica (momento conhecido como Turmerlebnis), que levaram à Reforma.
«O Concílio de Trento, de 1545 a 1563, interpretou de modo profundo a questão da justificação e encontrou na linha de toda tradição católica a síntese entre lei e Evangelho, em conformidade com a mensagem da Sagrada Escritura em sua totalidade e unidade», explicou.
A exegese moderna
A pesquisa sobre o apóstolo cobrou nova força nos séculos XIX e XX, dessa vez do ponto de vista científico, através do método histórico-crítico, explicou o Papa.
«Aí foi sublinhado, sobretudo, como central no pensamento paulino, o conceito de liberdade: nele foi visto o coração do pensamento paulino, como já havia intuído Lutero. Agora, porém, o conceito de liberdade era reinterpretado no contexto do liberalismo moderno.»
Outra das consequências é a dissociação que se produziu entre o anúncio de São Paulo e o anúncio de Jesus, de maneira que São Paulo «aparece quase como um novo fundador do cristianismo».
Precisamente, o objeto das catequeses do Papa foi mostrar como, no pensamento cristológico paulino, «na nova centralidade da cristologia e do mistério pascal se realiza o Reino de Deus, torna-se concreto, presente e operante o anúncio autêntico de Jesus».
«Vimos nas catequeses precedentes que justamente esta novidade paulina é a fidelidade mais profunda ao anúncio de Jesus», declarou.
Por outro lado, o Papa assinalou como o progresso da exegese moderna, que conduziu a um maior conhecimento sobre São Paulo, permitiu que crescessem «as convergências entre exegese católica e exegese protestante, realizando assim um notável consenso justamente no ponto que foi a origem do máximo dissenso histórico».
Isso supõe, confirmou, «uma grande esperança para a causa do ecumenismo, tão central para o Concílio Vaticano II».
Em resumo, concluiu o Papa, «torna-se luminosa diante de nós a figura de um apóstolo e de um pensador cristão extremamente fecundo e profundo, de cuja combinação cada um pode extrair rejuvenescimento».
«Alcançá-lo, tanto em seu exemplo apostólico como em sua doutrina, será, portanto, um estímulo, senão uma garantia, para a consolidação da identidade cristã de cada um de nós e para o rejuvenescimento de toda Igreja», acrescentou.
Bento XVI apresenta exemplo de São Paulo aos consagrados
Na vivência da pobreza, da castidade e da obediênciaCIDADE DO VATICANO, terça-feira, 3 de fevereiro de 2009 (ZENIT.org).- Bento XVI apresentou na noite desta segunda-feira o apóstolo Paulo como exemplo para os consagrados a Deus, no dia em que se celebrava o dia que a Igreja dedicou a eles.
As palavras do Papa ressoaram na Basílica Vaticana, lotada de religiosas, religiosos e membros de institutos de vida consagrada e sociedades de vida apostólica, após a celebração eucarística presidida pelo cardeal Franc Rodé, prefeito da congregação vaticana dedicada a eles.
Apresentando o exemplo oferecido por São Paulo, nascido há dois mil anos – motivo pelo qual o Papa proclamou o ano paulino –, sublinhou como o apóstolo inspirou sua vida missionária nos conselhos evangélicos da pobreza, da castidade e da obediência.
Trata-se dos três votos que os religiosos pronunciam no momento no qual consagram publicamente sua vida a Deus.
«Na vida de pobreza, ele viu a garantia de um anúncio do Evangelho realizado de modo totalmente gratuito, que expressa ao mesmo tempo a solidariedade concreta com os irmãos necessitados», afirmou o bispo de Roma.
«Acolhendo o chamado de Deus à castidade, o Apóstolo dos Povos doou todo seu coração ao Senhor para poder servir com maior liberdade e dedicação os seus irmãos; também, em um mundo no qual os valores da castidade cristã tinham escassa cidadania, oferece uma referência de conduta segura.»
No que se refere ao terceiro conselho evangélico, a obediência, Bento XVI manifestou que «o cumprimento da vontade de Deus e a responsabilidade diária, o desvelo por todas as Igrejas animaram, plasmaram e consumiram sua existência, oferecida como sacrifício agradável a Deus».
O Papa também apresentou aos consagrados a figura de São Paulo como missionário.
«Nele, tão intimamente unido à pessoa de Cristo, reconhecemos uma profunda capacidade de conjugar vida espiritual e ação missionária; nele, as duas dimensões se exigem reciprocamente.»
Bento XVI se despediu dos consagrados deixando-lhes um conselho: meditar «cada dia a Palavra de Deus com a prática fiel da lectio divina», a leitura orante da Bíblia.
Papa desconhecia opiniões do bispo Williamson e exige sua retratação
A Secretaria de Estado emite uma nota esclarecendo a situação dos bispos lefebvristasPor Inma Álvarez
CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009 (ZENIT.org).- O Papa Bento XVI «desconhecia a postura do bispo Richard Williamson sobre a Shoá no momento de levantar a excomunhão», e portanto este «deverá tomar de modo absolutamente inequívoco e público distância» delas antes de «ser admitido às funções episcopais na Igreja».
Assim expressa uma Nota da Secretaria de Estado vaticana, divulgada nesta quarta-feira, na qual explica que o levantamento da excomunhão aos quatro bispos ordenados por Dom Marcel Lefebvre em 1988 não supõe sua reabilitação no ministério.
A Secretaria, órgão que colabora mais de perto com o sumo pontífice, considerou oportuno emitir esta nota «a partir das reações suscitadas» pelo levantamento da excomunhão aos quatro prelados da Fraternidade São Pio X, «e em relação às declarações negacionistas ou reducionistas da Shoá por parte do bispo Williamson».
O documento consta de três partes, nas quais se declaram os motivos da remissão desta grave pena, assim como a situação dos quatro prelados na Igreja e a questão concreta das declarações do bispo Williamson sobre o Holocausto.
Quanto à primeira questão, a nota explica que o Papa com este gesto de «benignidade» «quis tirar um impedimento que prejudicava a abertura de uma porta ao diálogo» após o cisma.
Agora, o bispo de Roma «espera que a mesma disponibilidade seja expressada pelos quatro bispos, em total adesão à doutrina e à disciplina da Igreja».
Com relação à segunda questão, a situação dos prelados, a Secretaria de Estado declara que o levantamento da excomunhão «liberou os quatro bispos de uma pena canônica gravíssima, mas não mudou a situação jurídica da Fraternidade São Pio X».
Esta, «por enquanto, não goza de reconhecimento algum na Igreja Católica», declara.
«Tampouco os quatro bispos, ainda que liberados da excomunhão, têm uma função canônica na Igreja e não exercem licitamente um ministério nela.»
Para que este reconhecimento se dê, é «condição indispensável», afirma a nota, «o reconhecimento pleno do Concílio Vaticano II e do Magistério dos Papas João XXIII, Paulo VI, João Paulo I, João Paulo II e do próprio Bento XVI».
Negação da Shoá
Com relação às declarações que geraram a polêmica, «absolutamente inaceitáveis e firmemente rejeitadas pelo Santo Padre», a nota declara que estas eram «desconhecidas pelo Papa no momento da remissão da excomunhão».
«O bispo Williamson, para ser admitido às funções episcopais na Igreja, deverá também tomar de modo absolutamente inequívoco e público distância de suas posturas sobre a Shoá», acrescenta a Nota.
Por outro lado, declara, o Papa já esclareceu sua postura sobre o Holocausto em 28 de janeiro passado, «quando, referindo-se àquele selvagem genocídio, reafirmou sua plena e indiscutível solidariedade com nossos irmãos destinatários da Primeira Aliança».
Por último, o Papa «pede o acompanhamento na oração de todos os fiéis, para que o Senhor ilumine o caminho da Igreja», e pede o apoio de pastores e fiéis para a «delicada e pesada missão do sucessor do apóstolo Pedro como guardião da unidade da Igreja».
Bento XVI pede respeito ao Direito Humanitário no Sri Lanka
Milhares de civis presos nas áreas de conflitoCIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009 (ZENIT.org).- Bento XVI fez nesta quarta-feira um pedido «importante» diante da situação no Sri Lanka, durante as saudações aos peregrinos reunidos na Sala Paulo VI para a audiência geral das quartas-feiras.
Antes de concluir a audiência, o Papa quis mostrar sua «preocupação» pela situação do Sri Lanka, especialmente frente às notícias dos últimos dias sobre o alto número de vítimas civis devido ao fogo cruzado entre as forças do governo e as da Frente Tâmil (LTTE), na região de Vanni, ao norte do país.
Segundo os últimos dados, difundidos pelas agências humanitárias e pela diocese de Jaffna, milhares de civis se encontram presos na área de conflito, sem possibilidade de fugir nem de receber ajuda humanitária.
«As notícias de um recrudescimento do conflito e do crescente número de vítimas inocentes me induzem a dirigir um importante chamado aos combatentes para que respeitem o direito humanitário», afirmou o Papa.
Ele pede especialmente às duas partes que garantam «a liberdade de movimento da população», e que «façam o possível por garantir a assistência aos feridos e a segurança dos civis, além de consentir a satisfação de suas urgentes necessidades alimentares e médicas».
Por último, o Papa pede a intercessão de Nossa Senhora de Madhu, invocação «muito venerada pelos católicos e também pelos pertencentes a outras religiões, para que apresse o dia da paz e da reconciliação nesse querido país».
Santa Sé procura ajuda para comunidades perseguidas na Índia
O cardeal Sandri viajou ao paísCIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009 (ZENIT.org).- A reunião das obras de ajuda às Igrejas Orientais terminou com uma intervenção do prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais, cardeal Leonardo Sandri.
A assembléia geral da Reunião de Obras de Ajuda às Igrejas Orientais (ROACO), celebrada em Roma de 26 a 30 de janeiro, dedicou uma atenção especial a estudar a situação das comunidades eclesiais na Índia e na Ucrânia.
Referindo-se à sua recente visita à Índia, o purpurado se centrou nas urgências e necessidades pastorais. Fez-se uma reflexão sobre as necessidades de ajuda das Igrejas Católicas Orientais na Índia: as Igrejas Malabar e Malankar.
São duas realidades em constante crescimento, até o ponto de advertir a necessidade de criar novas dioceses em diversas partes do país. Portanto, aumentam as necessidades também financeiras, necessidades das quais as agências da ROACO pretendem se encarregar segundo suas possibilidades. Deve-se levar em conta também as necessidades dos fiéis, em favor dos quais se examinaram nestes dias projetos e iniciativas caritativas, a serem realizadas em um território vastíssimo, como no caso do indiano.
Após a apresentação do balanço do que se fez já nestes territórios, procurou-se captar a fundo aquilo de que mais se precisa hoje, para falar disso depois com os prelados indianos.
O cardeal Sandri levou à assembléia o fruto das reflexões, amadurecidas durante o que não hesitou em definir como «uma peregrinação da paz à Índia seguindo os passos dos santos e beatos das Igrejas Sírio-Malabar e Sírio-Malankar».
Foi uma presença significativa, à luz dos fatos de violência contra os cristãos que se deram pouco antes em Orissa. «Trágicos acontecimentos, aos que fiz constante referência em minhas intervenções – disse o cardeal em sua intervenção, referida neste 3 de fevereiro por L'Osservatore Romano –, assegurando sempre a atenção, o afeto e a oração do Papa e de toda a Igreja».
O prefeito disse também que encontrou uma comunidade eclesial, apesar de tudo, viva e «projetada para o futuro, com boas esperanças pelo considerável desenvolvimento que estão experimentando, ainda entre dificuldades e problemas novos e antigos».
A Igreja, acrescentou, continua oferecendo seu apoio em muitos setores sociais, com uma obra valorizada pela população. Um empenho especial da Igreja na Índia é a assistência aos fiéis indianos migrantes em tantos países, além de oferecer uma consistente ajuda missionária à Igreja universal.
Daí que «me sinto no dever – acrescentou o cardeal – de recomendar-vos um constante apoio à Igreja que está na Índia, um verdadeiro ponto de referência no território».
A atenção à Índia não diminuiu na reunião da ROACO para as outras igrejas católicas orientais, em especial no Iraque. Não caiu no vazio o grito desesperado de ajuda dos cristãos iraquianos, relançado nestes dias por seus bispos em Roma para a visitaad limina apostolorum.
Na inauguração deste encontro, interveio o arcebispo Fernando Filoni, substituto da Secretaria de Estado, antigo núncio no Iraque, que quis manifestar a preocupação do Papa pela situação na qual os cristãos no Oriente Médio se vêem obrigados a viver, preocupações sobretudo por quem sofre e pelas perspectivas de futuro, que não são as melhores.
Muitos procuram deixar o país, dada a situação, tanto do ponto de vista social como religioso. A influência do Islã, a falta de postos de trabalho e do reconhecimento aos cristãos de uma liberdade plena e de um absoluto respeito, impulsionam muitas famílias cristãs a deixarem o país. E esta é uma grande fonte de preocupação para todos, principalmente para o Papa, conclui o jornal vaticano.
A ROACO é um comitê vinculado à Congregação para as Igrejas Orientais. Sua missão é a de canalizar a distribuição das ajudas materiais procedentes de outras partes do mundo.
Fazem parte da ROACO a Catholic Near East Welfare Association e a Pontifícia Missão para a Palestina (ambas dos Estados Unidos), assim como agências da Alemanha, França, Suíça, Países Baixos e Áustria.
Novo patriarca russo espera maior diálogo com católicos
Não se prevê a curto prazo um encontro com o PapaMOSCOU, quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009 (ZENIT.org).- O novo patriarca de Moscou e de Todas as Rússias, Sua Santidade Kiril, sucessor de Alexis II, espera que se dê um maior diálogo entre a Igreja Ortodoxa Russa e a Católica Romana durante seu patriarcado.
Na segunda-feira passada, o novo patriarca recebeu a delegação católica oficial que havia participado da cerimônia de entronização em 1º de fevereiro.
No encontro, o patriarca expressou sua esperança «de que as relações entre ambas as Igrejas se desenvolvam ulteriormente em uma atmosfera de confiança e cooperação recíproca, em primeiro lugar para defender e afirmar os valores cristãos tradicionais e no mundo», assinala o site do patriarcado de Moscou, segundo informa a agência russa Interfax.
Segundo o patriarca, o fato de que as posturas de católicos e ortodoxos coincidam em muitos aspectos da vida da sociedade atual poderia representar uma ótima base para esta interação.
A delegação católica estava composta pelo cardeal Walter Kasper, presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos, pelo secretário, Dom Brian Farrell L.C., pelo arcebispo Antonio Mennini, representante da Santa Sé na Federação Russa, por Dom Paolo Pezzi, arcebispo da Mãe de Deus de Moscou, e pelo sacerdote jesuíta Milan Zust.
O cardeal Kasper entregou ao novo patriarca uma mensagem de Bento XVI na qual o Papa sublinhava o papel de Kiril – durante muitos anos presidente do Departamento para as Relações Eclesiais Externas do Patriarcado – na hora de «forjar uma nova relação entre nossas igrejas».
«Uma relação baseada na amizade, na mútua aceitação e no diálogo sincero», acrescentava o Papa, confessando que nutre «grandes esperanças» em que ambas as Igrejas continuarão «cooperando para encontrar formas de fomentar e reforçar a comunhão no Corpo de Cristo».
O purpurado também ofereceu ao patriarca um presente do Papa, um cálice como símbolo do desejo de chegar à plena comunhão.
Não haverá encontro em 2009
Segundo o Patriarcado de Moscou, é improvável que o esperado encontro entre Bento XVI e Kiril aconteça em 2009.
«É possível chegar a um acordo [entre a Igreja Ortodoxa Russa e a Igreja Católica Romana], mas é necessário tempo», afirmou ao respeito o arcipreste Vsevolod Chaplin, vice-responsável do Departamento para as Relações Externas, à emissora de rádio russa Finam.
O arcipreste afirmou que «nunca se excluiu este encontro», já que não há «obstáculos de princípio», mas confessou que os fiéis ortodoxos sentem «dor e preocupação» pela atividade missionária da Igreja Católica.
«O patriarca, como o Papa, põe em primeiro lugar, não os sentimentos humanos, mas a preservação do credo, da unidade e da paz em sua Igreja», acrescentou.
Por isso, precisou, o poder de Kiril, «apesar de sua projeção externa, está restringido por uma série de fatores, em primeiro lugar a opinião dos fiéis, do clero e dos bispos».
Três encontros anteriores
Kiril e o Papa Bento XVI se encontraram em três ocasiões, quando o primeiro era metropolita de Smolensko e Kaliningrado. A primeira, em 25 de abril de 2005, o dia depois da Missa de entronização do pontífice; naquela ocasião, Kiril sublinhou a necessidade de cooperação por parte de ambas as igrejas para defender os valores cristãos da Europa atual.
Em 18 de maio de 2006, Kiril viajou a Roma para abençoar a nova igreja do Patriarcado de Moscou, que está situada perto da Basílica de São Pedro. Após seu encontro com Bento XVI, afirmou ter tido com ele «uma conversa muito importante sobre as perspectivas de desenvolvimento de nossas relações», e que chegou «o momento de que nossas Igrejas trabalhem juntas para preservar o cristianismo na Europa».
O último encontro aconteceu em 7 de dezembro de 2007, quando Kirill visitou novamente o Vaticano.
Bispos no Brasil refletem sobre Sínodo da Palavra
Na XVIII edição do Curso dos Bispos, promovido pela arquidiocese de Rio de JaneiroRIO DE JANEIRO, quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009 (ZENIT.org).- Cerca de 100 bispos no Brasil reúnem-se esta semana no Rio de Janeiro para refletir sobre o recente Sínodo da Palavra de Deus, no XVIII Curso dos Bispos.
Segundo o cardeal Eusébio Scheid explicou na abertura do curso, nessa segunda-feira, o evento é destinado aos prelados querem se aprofundar em um tema específico, «mas de uma forma diferente, leve».
O tema deste ano é «A palavra de Deus na vida e na missão da Igreja», que foi debatido no Sínodo dos Bispos, em Roma, em outubro do ano passado.
O bispo de Petrópolis, Dom Filippo Santoro, um dos delegados nomeados pelo Papa para a assembleia do Sínodo, falou sobre sua participação na grande reunião eclesial.
«A experiência do Sínodo é algo extraordinário, porque temos a presença do Santo Padre conosco todos os dias», afirmou o bispo, segundo refere o site da arquidiocese do Rio.
«Logo no primeiro dia, o Papa comentou os Salmos e falou das leituras daquele dia. Sua colocação foi de improviso o que me impressionou, pela profundidade de suas palavras. Como dizemos aqui, ele foi estava com a unção», disse Dom Filippo.
Segundo o bispo, Bento XVI também explicou que quem constrói a vida sobre a Palavra de Deus nunca se perde. «Somente a Palavra de Deus nos é garantia de firmeza, é um fundamento que permanece».
Dom Filippo explicou ainda que a assembleia sinodal enfatizou que a Palavra não é uma sucessão de textos. «A Palavra de Deus é uma pessoa. Por isso é muito importante a Palavra lida dentro da vida da Igreja, experimentada na liturgia».
«O principal objetivo do Sínodo foi descobrir a grande riqueza da Palavra. A partir desta descoberta, o povo de Deus é chamado a contagiar os outros», afirmou.
O bispo de Petrópolis destacou o vínculo entre as conclusões da Conferência de Aparecida e as proposições do Sínodo.
«A Conferência falava de três grandes temas: discípulos, missionários e vida. O Sínodo fala da Palavra de Deus que é vida. Foi um encontro profundissímo entre a intenção profunda de Aparecida e a intenção profunda do Sínodo.»
«A Palavra é algo que contagia, transforma a vida em vista da missão, assim a missão será um feito natural que nasce do entusiasmo do ardor que o encontro com o Cristo nos oferece», disse.
Para Dom Filippo, um dos pontos marcantes do Sínodo da Palavra foi o testemunho daqueles que são perseguidos por causa da Palavra de Deus.
«Um bispo da Letônia, no Leste Europeu, contou que na época do comunismo um padre de sua diocese foi preso por guardar uma Bíblia em sua casa. Na prisão jogaram a Bíblia no chão e mandaram-no pisar na Palavra de Deus.»
«Ele se ajoelhou e beijou a Sagrada Escritura. Ficou dez anos preso, depois voltou à sua comunidade e diante da mesma Bíblia, ele exclamou: “esta é a Palavra de Deus pela qual eu me juntei aos sofrimentos de Cristo”», contou Dom Filippo.
O Curso dos Bispos for criado pelo cardeal Eugenio Sales, arcebispo emérito do Rio de Janeiro, em 1991. É considerado a segunda maior reunião do episcopado brasileiro, depois da assembleia geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). A edição de 2009 encerra nesta sexta-feira.
Seis dias de jejum para pedir fim da ofensiva no Sri Lanka
Organizado pelo bispo de Jaffna, dele participaram cristãos e hindusPor Inma Álvarez
COLOMBO, quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009 (ZENIT.org).- O bispo de Jaffna, Dom Thomas Savundaranayagam, deu por concluído o jejum geral que sua diocese estava realizando nos últimos dias para pedir ao governo que detenha a ofensiva contra a Frente Tâmil para poder salvar a população civil afetada, segundo informa hoje a organização Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).
O prelado havia convocado vigílias de oração e jejum geral na diocese, desde o dia 28 de janeiro passado, para pedir ao governo que freasse as incursões aéreas e os bombardeios na região de Vanni, território da diocese de Jaffna, onde haviam ficado presos milhares de civis sem possibilidade de fugir.
Desde então, os fiéis católicos, entre eles sacerdotes e freiras, uniram-se para jejuar na frente das portas da catedral de St. Mary, em grupos de cerca de 600 pessoas, para pedir ao governo que acabasse «com esta insuportável tragédia humana».
Nestas concentrações participavam também, desde o primeiro momento, segundo revela a agência Asianews, representantes de outras confissões cristãs e hindus, assim como membros de associações civis do país.
Dom Savundaranayagam deu por concluído o jejum ao receber nesta segunda-feira o presidente do Sri Lanka, Mahinda Rajapaksa, e o núncio apostólico, arcebispo Mario Zenari, que levava uma mensagem do bispo de Jaffna pedindo o cessar-fogo.
O prelado crê que desta vez o presidente Rajapaksa «escutou nossas preocupações e está disposto a atuar». «Até agora, ninguém queria escutar-nos. Decidimos começar a rezar e a jejuar com a esperança de que amolecessem os corações destes responsáveis», explica a AIS.
Também a Cáritas Internacional difunde o apelo pelo cessar das hostilidades. Segundo a Cáritas Sri Lanka, cerca de 250 mil pessoas ficaram presas na região de Vanni, em meio ao fogo cruzado entre as forças governamentais e a Frente Tâmil (LTTE), sem poder escapar nem receber ajuda humanitária.
Precisamente nos últimos dias, segundo dados locais recolhidos por Asianews, 400 civis teriam morrido e mais de 1.400 teriam ficado feridos nos confrontos armados.
Um dos ataques teria destruído o hospital de Puthukkudiyiruppu, matando mais de 12 pessoas. Também a Cáritas Sri Lanka informou sobre a destruição de uma de suas sedes em Vanni.
O próprio bispo de Jaffna, Dom Savundaranayagam, havia visitado o local no mês de dezembro passado e havia alertado contra a «tragédia humanitária» que sobreviria se não se criasse uma região de segurança para os civis.
Além dos jejuns dos últimos dias, os bispos católicos e anglicanos de todo o país haviam realizado contínuos pedidos de cessar-fogo. A comissão «Justiça e Paz» de Jaffna (HUDOC) havia enviado ao secretário da ONU, Ban Ki-Moon, e às embaixadas com sede em Colombo, um memorando sobre a situação, com o título Stop the Human Tragedy in the Vanni!, em 28 de janeiro passado.
Esta comissão, em 31 de janeiro, enviou uma carta tanto ao governo como ao líder dos Tamis, Vellupillai Prabhakaran, com cópia às Nações Unidas, para que estabelecessem um corredor humanitário que permitisse resgatar os civis presos.
Neste início de ano pastoral, cardeal pede coragem
«Não se deixem cair no desânimo», afirma Dom Odilo SchererSÃO PAULO, quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009 (ZENIT.org).- Nestas primeiras semanas do Tempo Comum, quando se lê durante as missas a Carta aos Hebreus, o cardeal Odilo Scherer, no âmbito do texto sagrado, pede que os fiéis tenham coragem e não se deixem cair no desânimo.
«Naqueles inícios do cristianismo, a liturgia cristã ainda estava pouco desenvolvida; os cristãos não tinham igrejas grandes, que fizessem recordar minimamente o templo de Jerusalém; voltava a lembrança das prescrições rituais de Moisés, sobretudo no que se referia ao sacerdócio e aos ritos do templo», explica o cardeal, em mensagem divulgada nessa terça-feira por sua arquidiocese.
Segundo Dom Odilo, a comunidade dos «“Hebreus” começou a sentir saudades das antigas tradições, das festas e dos sacrifícios de animais oferecidos a Deus, do sacerdócio e de toda a ritualidade no cumprimento da religião. Havia quem desistia da fé cristã e voltava atrás».
«Diante dessas dificuldades, o autor da Carta aos Hebreus escreveu este “discurso de exortação”, como ele mesmo diz (cf 13,22), desenvolvendo uma reflexão grandiosa sobre
Jesus Cristo, autor de nossa salvação; e mostra que as promessas de Deus, feitas ao seu povo por meio dos patriarcas e dos profetas, realizaram-se plenamente em Cristo, “grande sacerdote” da nova e eterna Aliança.»
O cardeal Scherer explica que «não mais é preciso pensar no templo de Jerusalém, pois na pessoa de Cristo temos agora o “lugar” do encontro com Deus e o acesso direto ao perdão e à fonte de toda bênção e consolação».
«O sacerdócio de Cristo não faz olhar simplesmente para o passado, pois Ele é o “sacerdote dos bens futuros” (9,11) e nos leva à plenitude daquilo que ainda esperamos, ou seja, o encontro definitivo com Deus no “santuário do céu”.»
«Agora todos nós, não apenas o sacerdote, podemos entrar no “santuário” com Ele, pelo “caminho novo” que inaugurou para nós” (10,19). Por isso, o autor da Carta aos Hebreus convida à confiança e à coragem, para enfrentar as tribulações do tempo presente, sem desanimar nem abandonar as assembléias, desistindo do caminho da fé», afirma.
«Portanto, coragem, meus irmãos, e não se deixem cair no desânimo (12,12). “Corramos com perseverança no certame que nos é proposto, com os olhos fixos em Jesus, que vai à frente da nossa fé e a leva à perfeição” (cf 12, 1-2)», cita o arcebispo.
Dom Odilo pede que os fiéis «não deixem de escutar a voz do Senhor, progridam na prática do bem e da partilha e no caminho da santidade, perseverem no amor fraterno, não se desviem da reta doutrina e orem com insistência».
«Deus é fiel e ajudará a realizar o que lhe é agradável». «Este texto da Palavra de Deus nos é dirigido no início do nosso ano pastoral. Portanto, coragem, meus irmãos, como discípulos e missionários na grande cidade de São Paulo, continuemos firmes, com os olhos fixos em Jesus Cristo», afirma o arcebispo.
Bispo de Lugano fala sobre volta dos lefebvristas «à casa»
Fala dom Pier Giacomo GrampaLUGANO, quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009 (ZENIT.org).- O Concílio Vaticano II é uma bússola imprescindível, mas devemos nos alegrar por que os lefebvristas voltam a casa, explica nesta entrevista concedida à Zenit o bispo Pier Giacomo Grampa, de Lugano (Suíça).
– O decreto de revogação da excomunhão dos bispos lefebvristas levantou um grande alvoroço. Em sua opinião, como o gesto do Papa deve ser entendido?
– Dom Grampa: Convidei os fiéis a lerem o decreto de revogação da excomunhão com espírito positivo, a compreendê-lo em seu justo significado, a vivê-lo com o fundo da parábola do Pai misericordioso. Este gesto de benevolência do Santo Padre não significa ainda – como já foi esclarecido – a completa reconciliação e a plena comunhão com quem não reconhece a doutrina do Concílio Vaticano II, mas é uma etapa importante do caminho, na qual se deve avançar por etapas, e desejamos que isso aconteça logo, para a completa reconciliação e a plena comunhão de toda a Fraternidade de São Pio X.
O Papa espera que não poupem esforços em aprofundar, mediante os necessários colóquios com as autoridades da Santa Sé, sobre as questões ainda abertas, de maneira que se possa chegar a uma plena e satisfatória solução do problema.
– O maior obstáculo parece ser precisamente a aceitação do Concílio Vaticano II. Que possibilidades ou alternativas o senhor vê neste sentido?
– Dom Grampa: A doutrina do Concílio não é certamente algo opcional, mas uma «bússola» para orientar-nos no caminho do século XXI que acaba de começar. Se quisermos evitar perigosos integrismos, fundamentalismos ou anacrônicos retornos ao passado, para realizar o necessário discernimento dos tempos que mudam, não podemos deixar de ouvir a orientação profética que o Concílio Vaticano II, sob a guia do Espírito Santo, com a aprovação do Papa, soube assinalar para a difusão do Evangelho hoje, segundo a vontade do Senhor.
– O que o senhor diria àqueles católicos que parecem não ver com bons olhos esta magnanimidade do Papa?
– Dom Grampa: Eu convidaria quem sempre permaneceu fiel à casa paterna comum a compartilhar a benevolência do Pai misericordioso da parábola evangélica do Filho Pródigo, e não a atitude do irmão mais velho, que recrimina, critica, não quer perdoar e não se alegra pela volta do seu irmão, fica bravo e não quer participar da festa.
As palavras que a parábola dedica ao irmão mais velho se dirigem a nós: «Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. Convinha, porém, fazermos festa, pois este teu irmão estava morto, e reviveu; tinha se perdido, e foi achado» (Lucas 15, 31-32).
Bento XVI recolhe herança espiritual de São Paulo
Intervenção durante a audiência geralCIDADE DO VATICANO, quarta-feira 4 de fevereiro de 2009 (ZENIT.org).- Oferecemos a seguir o texto da catequese que Bento XVI pronunciou hoje, por ocasião da audiência geral, na Sala Paulo VI, e com a qual ele conclui seu ciclo sobre São Paulo.
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Caros irmãos e irmãs,
A série de nossas catequeses sobre a figura de São Paulo chegou à sua conclusão: queremos falar hoje do término de sua vida terrena. A antiga tradição cristã testemunha unanimemente que a morte de Paulo se dá em consequência do martírio acontecido aqui em Roma. Os escritos do Novo Testamento não nos reportam o fato. Os Atos dos Apóstolos terminam seu relato referindo-se à condição de prisão do Apóstolo, que podia ainda atingir a todos aqueles que andavam com ele (cf. At 28, 30-31). Só na segunda Carta a Timóteo encontramos estas suas palavras proféticas: «Quanto a mim, meu sangue está para ser derramado em libação e é chegado o momento de recolher as velas» (2 Tm 4,6; cf. Fil 2, 17). Usam-se aqui duas imagens, a cultual do sacrifício, que tinha já usado na Carta aos Filipenses, interpretando o martírio como parte do sacrifício de Cristo, e a náutica do soltar as amarras: duas imagens que juntas aludem discretamente ao evento da morte e de uma morte cruenta.
O primeiro testemunho explícito sobre o fim de São Paulo nos vem de meados dos anos 90 do século I, portanto, pouco mais de três décadas depois de sua morte efetiva. Trata-se precisamente da Carta que a Igreja de Roma, com seu bispo Clemente I, escreve à Igreja de Corinto. Naquele texto epistolar se convida a ter diante dos olhos o exemplo dos Apóstolos, e, justamente após ter mencionado o martírio de Pedro, lê-se assim: «Pelo ciúme e a discórdia, Paulo foi obrigado a nos mostrar como se alcança o prêmio da paciência. Preso sete vezes, exilado, lapidado, foi o arauto de Cristo no Oriente e no Ocidente, e pela sua fé adquiriu uma glória pura. Depois de ter pregado a justiça a todo o mundo, e depois de chegar à extremidade do Ocidente, carrega o martírio diante dos governantes; assim partiu desse mundo e encontra-se no lugar santo, tornando-se com isso o maior modelo de paciência» (1 Clem 5, 2). A paciência da qual fala é expressão de sua comunhão com a paixão de Cristo, da generosidade e constância com a que aceitou um longo caminho de sofrimento, para assim poder dizer: «Trago em meu corpo as marcas de Jesus» (Gál. 6, 17). Sentimos no texto de São Clemente que Paulo teria chegado até «a extremidade do Ocidente». Discute-se se isso é uma referência a uma viagem à Espanha que São Paulo teria feito. Não existe certeza sobre isso, mas é verdade que São Paulo em sua Carta aos Romanos exprime sua intenção de ir à Espanha (cf. Rm 15, 24).
Muito interessante na carta de Clemente é, além disso, o suceder-se dos dois nomes, de Pedro e de Paulo, ainda que eles venham invertidos no testemunho de Eusébio de Cesaréia, do século IV, que, falando do imperador Nero, escreveu: «Durante seu reinado Paulo foi decapitado justamente em Roma e Pedro foi crucificado. O relato é confirmado pelo nome de Pedro e de Paulo, que está ainda hoje conservado sobre seus sepulcros naquela cidade» (Hist. eccl. 2, 25, 5). Eusébio depois continua relatando a declaração antecedente de um presbítero romano de nome Gaio, datada do início do século II: «Eu posso vos mostrar os troféus dos apóstolos: se fores ao Vaticano ou sobre a Via Ostiense, encontrareis os troféus dos fundadores da Igreja» (ibid. 2, 25, 6-7). Os «troféus» são os monumentos sepulcrais, e se trata das próprias sepulturas de Pedro e de Paulo, que ainda hoje nós veneramos, depois de dois milênios, nos mesmos lugares: seja aqui no Vaticano, no que diz respeito a Pedro, seja na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, na Via Ostiense, no que diz respeito ao Apóstolo dos Povos.
É interessante ressaltar que os dois grandes Apóstolos são mencionados juntos. Ainda que nenhuma fonte antiga fale de um ministério contemporâneo dos dois em Roma, a sucessiva consciência cristã, sobre a base de seu comum sepultamento na capital do império, associam-nos também como fundadores da Igreja de Roma. Assim, de fato, lê-se em Irineu de Lion, no fim do século II, a propósito da sucessão apostólica nas várias Igrejas: «Já que seria extenso demais enumerar as sucessões de todas as Igrejas, ficaremos com a Igreja grandíssima e antiguíssima e a todos conhecida, a Igreja fundada e estabelecida em Roma pelos dois gloriosíssimos apóstolos Pedro e Paulo» (Adv. haer. 3,3,2).
Deixemos, porém, de lado a figura de Pedro e concentremo-nos em Paulo. Seu martírio é relatado pela primeira vez pelos Atos de Paulo, escritos no final do século II. Eles relatam que Nero o condenou à morte por decapitação, acontecida logo depois (cf. 9, 5). A data da morte já varia nas fontes antigas, que a colocam entre a perseguição desencadeada pelo próprio Nero depois do incêndio de Roma, em julho de 64, e último ano de seu reinado, isto é, 68 (cf. Gerolamo, De viris ill. 5, 8). O cálculo depende muito da cronologia da chegada de Paulo a Roma, uma discussão na qual não podemos entrar aqui. Tradições sucessivas precisam dois outros elementos. O primeiro, o mais legendário, é que o martírio acontece em Acquae Salviae, na Via Laurentina, com um tríplice bater da cabeça, cada um dos quais causando o surgimento de um fio de água, pelo qual o local foi logo chamado e até hoje «Tre Fontani» – Três Fontes, N. do T. – (Atos de Pedro e Paulo por Pseudo Marcello, do século V). O outro, em consonância com o antigo testemunho, já mencionado, do presbítero Gaio, é que sua sepultura está não só «fora da cidade… na segunda milha sobre a Via Ostiense», mas mais precisamente «em poder de Lucina», que era uma matriarca cristã (Paixão de Paulo pelo Pseudo Abdias, do século VI). Lá, no século IV, o imperador Constantino constrói uma primeira igreja, depois enormemente ampliada entre os séculos IV e V pelos imperadores Valentiniano II, Teodósio e Arcádio. Depois do incêndio de 1800, foi construída lá a atual basílica de São Paulo fora dos Muros.
Em todo caso, a figura de São Paulo vai além de sua vida terrena e de sua morte; ele, de fato, deixou uma extraordinária herança espiritual. Também ele, como verdadeiro discípulo de Jesus, torna-se sinal de contradição. Enquanto entre os considerados «hebionistas» – uma corrente judaico-cristã – era considerado como apóstata da lei mosaica, já no livro dos Atos dos Apóstolos aparece uma grande veneração sobre o Apóstolo Paulo. Gostaria de prescindir agora da literatura apócrifa, como dos Atos de Paulo e Tecla e um epistolário apócrifo entre o Apóstolo Paulo e o filósofo Sêneca. Importante é constatar, sobretudo, que bem rapidamente as Cartas de São Paulo entram na liturgia da Palavra. Assim, graças a esta «presença» na liturgia da Igreja, o pensamento do Apóstolo se torna rapidamente alimento espiritual dos fiéis de todos os tempos.
É óbvio que os Padres da Igreja e, depois, todos os teólogos foram nutridos pelas Cartas de São Paulo e por sua espiritualidade. Ele permanece assim nos séculos, até hoje, o verdadeiro mestre e apóstolo das gentes. O primeiro comentário patrístico que nos chegou sobre um escrito do Novo Testamento é aquele do grande teólogo alexandrino Orígenes, que comenta a Carta de Paulo aos Romanos. Tal comentário, infelizmente, está conservado só em parte. São João Crisóstomo, outro a comentar suas Cartas, escreveu sobre ele sete Panegíricos memoráveis. Santo Agostinho deve a ele o passo decisivo da própria conversão, e a Paulo ele retornará durante toda a sua vida.
Deste diálogo permanente com o Apóstolo deriva sua grande teologia católica e também a protestante de todos os tempos. São Tomás de Aquino nos deixou um belo comentário às Cartas paulinas, que representa o fruto mais maduro da exegese medieval. Uma verdadeira volta se verifica no século XVI com a Reforma protestante. O momento decisivo na vida de Lutero foi o chamado «Turmerlebnis», (1517) no qual em um momento ele encontrou uma nova interpretação da doutrina paulina sobre a justificação. Uma interpretação que o livrou dos escrúpulos e das ânsias de sua vida precedente e lhe deu uma nova e radical confiança na bondade de Deus, que perdoa tudo sem condições. Daquele momento em diante, Lutero identificou o legalismo judaico-cristão, condenado pelo Apóstolo, com a ordem da vida da Igreja Católica. E a Igreja lhe parece, portanto, como expressão da escravidão da lei à qual se opõe a liberdade do Evangelho. O Concílio de Trento, de 1545 a 1563, interpretou de modo profundo a questão da justificação e encontrou na linha de toda tradição católica a síntese entre lei e Evangelho, em conformidade com a mensagem da Sagrada Escritura em sua totalidade e unidade.
O século XIX, recolhendo a melhor herança do Iluminismo, conhece uma nova vivência do paulinismo ainda sobre o trabalho científico desenvolvido pela interpretação histórico-crítica da Sagrada Escritura. Prescindamos aqui do fato de que também naquele século, como depois no século XX, emerge um verdadeiro e próprio denegrir de São Paulo. Penso, sobretudo, em Nietzsche que faz piada da teologia da humildade de São Paulo, opondo a essa sua teologia do homem forte e poderoso. Porém, prescindamos disso e vejamos a corrente essencial da nova interpretação científica da Sagrada Escritura e do novo paulinismo de tal século. Aí foi sublinhado, sobretudo, como central no pensamento paulino, o conceito de liberdade: nele foi visto o coração do pensamento paulino, como já havia intuído Lutero. Agora, porém, o conceito de liberdade era reinterpretado no contexto do liberalismo moderno. E, depois, é sublinhada fortemente a diferenciação entre o anúncio de São Paulo e o anúncio de Jesus. E São Paulo aparece quase como um novo fundador do cristianismo. A verdade é que, em São Paulo, a centralidade do Reino de Deus, determinante para o anúncio de Jesus, é transformada na centralidade da cristologia, cujo ponto determinante é o mistério pascal. E do mistério pascal surgem os sacramentos do Batismo e da Eucaristia, como presença permanente deste mistério, do qual cresce o Corpo de Cristo, constrói-se a Igreja. Mas direi, sem entrar ainda em detalhes, que justamente na nova centralidade da cristologia e do mistério pascal se realiza o Reino de Deus, torna-se concreto, presente, operante o anúncio autêntico de Jesus. Vimos nas catequeses precedentes que justamente esta novidade paulina é a fidelidade mais profunda ao anúncio de Jesus. No progresso da exegese, sobretudo nos últimos duzentos anos, crescem também as convergências entre exegese católica e exegese protestante, realizando assim um notável consenso justamente no ponto que foi a origem do máximo dissenso histórico. Portanto, uma grande esperança para a causa do ecumenismo, assim central para o Concílio Vaticano II.
Brevemente, quero enfim falar dos vários movimentos religiosos, surgidos na idade moderna no interior da Igreja Católica, que se referem ao nome de São Paulo. Assim aconteceu no século XVI com a «Congregação de São Paulo» chamada dos Barnabitas, no século XIX com os «Missionários de São Paulo», ou Paulistas, e no século XX com a poliédrica «Família Paulina», fundada pelo Beato Giacomo Alberione, por não mencionar o Instituto Secular da «Companhia de São Paulo». Em boa substância, torna-se luminosa diante de nós a figura de um apóstolo e de um pensador cristão extremamente fecundo e profundo, de cuja combinação cada um pode extrair rejuvenescimento. Em um de seus panegíricos, São João Crisóstomo instaurou uma original comparação entre Paulo e Noé, exprimindo-se assim: Paulo «não une madeiras para fabricar uma arca; por outro lado, ao invés de unir as tábuas de madeira, fez de cartas e assim tirou do meio das ondas, não dois, três ou cinco membros da própria família, mas toda ecumene que estava a ponto de morrer» (Paneg. 1,5). Justamente isso pode ainda e sempre fazer o apóstolo Paulo. Alcançá-lo, tanto em seu exemplo apostólico quanto em sua doutrina, será, portanto, um estímulo, senão uma garantia, para a consolidação da identidade cristã de cada um de nós e para o rejuvenescimento de toda Igreja.
[Tradução: José Caetano. Revisão: Aline Banchieri.
© Copyright 2009 - Libreria Editrice Vaticana]
Santa Sé: bispos «lefebvristas» ainda não estão em «plena comunhão»
A Secretaria de Estado publica uma Nota sobre o levantamento da excomunhãoCIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009 (ZENIT.org).- Oferecemos a seguir o texto do comunicado divulgado nesta quarta-feira pela Secretaria de Estado vaticana, a propósito da polêmica gerada pelo levantamento da excomunhão aos quatro bispos seguidores de Dom Marcel Lefebvre, que aconteceu em 24 de janeiro passado.
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1. Remissão da excomunhão
Como já foi publicado anteriormente, o Decreto da Congregação para os Bispos, dado em 21 de janeiro de 2009, foi um ato com o qual o Santo Padre vai benignamente ao encontro das reiteradas petições por parte do superior geral da Fraternidade São Pio X.
Sua Santidade quis tirar um impedimento que prejudicava a abertura de uma porta ao diálogo. Agora espera que a mesma disponibilidade seja expressa pelos quatro bispos, em total adesão à doutrina e à disciplina da Igreja.
A gravíssima pena da excomunhão latae sententiae, na qual tais bispos haviam incorrido em 30 de junho de 1988, declarada depois formalmente em 1º de julho do mesmo ano, era uma consequência de sua ordenação ilegítima por parte de Dom Marcel Lefebvre.
O levantamento da excomunhão libertou os quatro bispos de uma pena canônica gravíssima, mas não mudou a situação jurídica da Fraternidade São Pio X, que por enquanto não goza de reconhecimento algum na Igreja Católica. Tampouco os quatro bispos, ainda que liberados da excomunhão, têm uma função canônica na Igreja, e não exercem licitamente um ministério nela.
2. Tradição, doutrina e Concílio Vaticano II
Para um futuro reconhecimento da Fraternidade São Pio X, é condição indispensável o reconhecimento pleno do Concílio Vaticano II e do Magistério dos Papas João XXIII, Paulo VI, João Paulo I, João Paulo II e do próprio Bento XVI.
Como já se afirmou no Decreto de 21 de janeiro de 2009, a Santa Sé não deixará, da forma que julgar oportuna, de aprofundar com os interessados nas questões ainda abertas, de modo que se possa chegar a uma plena e satisfatória solução dos problemas que deram origem a esta dolorosa fratura.
3. Declarações sobre a Shoá
As posturas de Dom Williamson sobre a Shoá são absolutamente inaceitáveis e firmemente rejeitadas pelo Santo Padre, como ele mesmo recordou em 28 de janeiro passado, quando, referindo-se àquele selvagem genocídio, reafirmou sua plena e indiscutível solidariedade com nossos irmãos destinatários da Primeira Aliança, e afirmou que a memória daquele terrível genocídio deve induzir a «humanidade a refletir sobre o poder imprevisível do mal quando conquista o coração do homem», acrescentando que a Shoá permanece «para todos como advertência contra o esquecimento, contra a negação ou o reducionismo, porque a violência feita contra um só ser humano é violência contra todos».
O bispo Williamson, para ser admitido nas funções episcopais na Igreja, deverá também tomar, de modo absolutamente inequívoco e público, distância de suas posturas sobre a Shoá, desconhecidas pelo Santo Padre no momento da remissão da excomunhão.
O Santo Padre pede o acompanhamento, na oração, de todos os fiéis, para que o Senhor ilumine o caminho da Igreja. Que cresça o empenho dos pastores e de todos os fiéis em apoio à delicada e pesada missão do sucessor do apóstolo Pedro como «guardião da unidade» da Igreja.
No Vaticano, a 4 de fevereiro de 2009
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