sexta-feira, novembro 21, 2008

'Igualar Barack Obama a Bush é tática da Al-Qaeda' - Esses ataques mostram a necessidade do grupo de preservar um inimigo concreto

'Igualar Obama a Bush é tática da Al-Qaeda'

AP
Al-Qaeda tenta preservar inimigo concreto ao igualar Barack Obama a George Bush (foto), diz professora
Al-Qaeda tenta preservar inimigo concreto ao igualar Barack Obama a George Bush (foto), diz professora

Marcela Rocha
Especial para Terra Magazine

Para a professora da Universidade de São Paulo (USP) Leila Leite Hernandez, os ataques do "número 2" da Al-Qaeda, Ayman Zawahiri, ao presidente eleito dos EUA, Barack Obama, mostram a necessidade do grupo de preservar um inimigo concreto. Se por um lado o democrata desagrada a organização, por outro, ainda segundo a professora, "o presidente ideal (para o grupo) jamais existirá".

Em vídeo divulgado pela internet na quarta-feira, 19, o líder Ayman Zawahiri, provocou o presidente norte-americano: "Saiba que os cães do Afeganistão acham a carne dos seus soldados deliciosa". Foi uma resposta às declarações de Obama de que ele manterá tropas no país onde supostamente se encontra Osama bin Laden.

Durante a campanha eleitoral, Obama fez uma visita a Israel e prometeu que, se eleito, seguiria apoiando o país. Por conta dessa visita, a organização se pronunciou: "(Obama) nasceu de um pai muçulmano, mas optou por se unir aos inimigos dos muçulmanos".

Veja a entrevista na íntegra:

Terra Magazine - Por que Al-Qaeda demorou tanto para se pronunciar?
Leila Leite Hernandez - Os pronunciamentos do atual presidente, ainda que careçam de maior clareza, acenam para uma política externa dos EUA que se propõe a rever a política externa e a buscar reconciliações e paz. Isto confere muita importância à soberania externa dos países e redefine a relação entre Casa Branca, o chamado eixo do mal e os países do Oriente Médio. Não é de se admirar que Obama tenha prometido manter estreita a relação entre a Casa Branca e Israel. Mesmo que não tenha cobrado concessões de paz, fez questão de salientar que elas poderiam ser feitas sem comprometer a segurança de Israel. Essa declaração (de Obama) vale para os demais países também e mostra o quanto soberania externa é importante ao novo presidente dos EUA. Esta idéia surpreendeu a Al-Qaeda porque era mais fácil eles se manterem organizados contra os EUA governado por Bush. Com o Obama fica difícil manter esse maniqueísmo entre bem e mal. Terão que buscar um novo significado para seu discurso.

Qual seria o presidente ideal?
Para o discurso ideológico da Al-Qaeda, o Ocidente, ao longo da história, é responsabilizado pela situação de carência social e econômica, porque, para eles, lhes foi imposta uma dependência. Por isso, o presidente ideal jamais existirá, pois ele deveria reestabelecer esses países de uma forma integralista sem interferir na política do país. Isto não existe, seria negar a história.

A senhora acredita que, para a Al-Qaeda, Obama e Bush são o mesmo?
Não, mas é interessante mantê-los semelhantes para preservar o maniqueísmo.

A Al-Qaeda continuará a ser uma ameaça aos EUA?
Sim. Mas não temos como estimar quanto, com qual intensidade e de que forma. Como a política anunciada pelo Obama é por etapas, o conflito ainda vai se estender. Não há outra razão pela qual ele aumente os contingentes no Afeganistão. Construir a paz é também desmontar a indústria da guerra, o que excede a meros acordos de paz.

Terra Magazine

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