segunda-feira, fevereiro 02, 2009

ZP090202

ZENIT

O mundo visto de Roma

Serviço diario - 02 de fevereiro de 2009



SANTA SÉ
Bento XVI pede que Turquia reconheça Igreja juridicamente
Papa pede ao patriarca russo que continue trabalhando pela união dos cristãos
Papa: necessidade de «nova síntese entre capital e trabalho»
Cardeal Bertone visitará Igreja e expoentes políticos na Espanha

MUNDO
Santa Sé inicia informe sobre freiras nos Estados Unidos

EM FOCO
Bispo que negou Holocausto pede desculpas
Conversão é orientar decisivamente ao bem a própria vida

ENTREVISTAS
A figura do Santo Condestável em «Os Lusíadas»

Santa Sé

Bento XVI pede que Turquia reconheça Igreja juridicamente

Ao receber os bispos do país em visita ad limina apostolorum

CIDADE DO VATICANO, segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009 (ZENIT.org).- Em nome da laicidade que inspira a constituição da Turquia, Bento XVI pediu nesta segunda-feira a esse país que reconheça juridicamente a Igreja Católica. 

O Papa aproveitou seu encontro com os bispos da Conferência Episcopal turca, que visitaram Roma por ocasião de sua quinquenal visita ad limina apostolorum, para repassar a situação da pequena comunidade católica que vive nesse país de maioria muçulmana (98%). 

Recordando que a Igreja está vivendo o ano do bi-milênio do nascimento de São Paulo, que aconteceu na atual Turquia, o pontífice começou pedindo às autoridades que facilitem o acesso dos peregrinos «a esses lugares tão significativos para a fé cristã, assim como às celebrações de culto». 

A Turquia foi berço de algumas das primeiras comunidades cristãs mais florescentes, acolheu durante um tempo São João e Maria Santíssima, segundo a tradição, e deu à luz numerosos Padres da Igreja. 

Nos lugares ou inclusive templos que custodiam estas memórias, às vezes não é permitido que a comunidade cristã celebre o culto. 

Repassando depois os desafios enfrentados pela comunidade cristã na Turquia moderna, o Papa constatou que aquela «vive em uma nação regida por uma constituição que afirma a laicidade do Estado, mas na qual a maioria dos habitantes é muçulmana». 

«Portanto, é muito importante que cristãos e muçulmanos possam comprometer-se juntos a favor do homem, da vida, assim como da paz e da justiça.»

De fato, declarou, «a distinção entre a esfera civil e a esfera religiosa é certamente um valor que deve ser protegido». 

«E nesse âmbito, corresponde ao Estado garantir com eficácia a todos os cidadãos e a todas as comunidades religiosas a liberdade de culto e a liberdade religiosa, sendo inaceitável toda violência contra os crentes, qualquer que seja sua religião.»

Nesse contexto, assegurou o Papa, «sou consciente do vosso desejo e vossa disponibilidade para estabelecer um diálogo sincero com as autoridades e encontrar uma solução para os diversos problemas propostos a vossas comunidades, assim como do reconhecimento da personalidade jurídica da Igreja Católica e de seus bens». 

«Esse reconhecimento terá necessariamente consequências positivas para todos», afirmou. 

Neste contexto, propôs que «se estabeleçam contatos permanentes, por exemplo, através de uma comissão bilateral para estudar as questões que ainda restam por resolver».

top


Papa pede ao patriarca russo que continue trabalhando pela união dos cristãos

Enviou uma mensagem através do cardeal Kasper por ocasião de sua entronização

Por Inma Álvarez

CIDADE DO VATICANO, segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009 (ZENIT.org).- O Papa Bento XVI voltou a enviar uma mensagem ao novo patriarca ortodoxo russo, Sua Santidade Kirill, desta vez por ocasião de sua entronização, insistindo na importância de continuar trabalhando pela comunhão entre os cristãos. 

A mensagem foi entregue ao patriarca pelo cardeal Walter Kasper, presidente do Conselho Pontifício para a Unidade dos Cristãos, junto com um cálice, ontem, 1º de fevereiro, durante a celebração de sua entronização como cabeça da Igreja Ortodoxa Russa, na catedral de Cristo Salvador de Moscou. 

O cardeal Kasper encabeçava a delegação da Igreja Católica convidada para a cerimônia, estava composta pelo secretário do dicastério, Dom Brian Farrel, L.C., pelo arcebispo Antonio Mennini, representante da Santa Sé na Federação Russa, por Dom Paolo Pezzi, arcebispo da «Mãe de Deus em Moscou», e pelo sacerdote Milan Zust. 

Em sua carta, o Papa recorda os encontros tidos com o novo patriarca quando este era presidente do Departamento de Relações Eclesiais Exteriores, e os define como «cheios de boa vontade». 

Bento XVI lhe recordou o papel que ele mesmo desempenhou «ao forjar uma nova relação entre nossas Igrejas, uma relação baseada na amizade, na aceitação mútua e no diálogo sincero». 

«Tenho sérias esperanças de que continuaremos cooperando para encontrar formas de fomentar e reforçar a comunhão no Corpo de Cristo», afirma o Papa. 

Por outro lado, o pontífice falou também  do trabalho realizado pelo patriarca anterior, Alexis II, tanto para a renovação da própria Igreja Ortodoxa Russa como para a cooperação com as demais confissões cristãs. 

O falecido pontífice, acrescentou o Papa, «deixou para o seu povo uma profunda e respeitosa herança de renovação e desenvolvimento eclesial, ao guiar a Igreja Ortodoxa Russa fora do longo e difícil período de sofrimento sob um sistema totalitário e ateu, a uma nova e ativa presença e serviço à sociedade de hoje». 

Alexis II «trabalhou assiduamente pela unidade da Igreja Ortodoxa Russa e pela comunhão com as demais igrejas ortodoxas. Ao mesmo tempo, manteve um espírito de abertura e cooperação com os demais cristãos, particularmente com a Igreja Católica, para a defesa dos valores cristãos na Europa e no mundo», assegura. 

«Estou certo de que Sua Santidade continuará construindo sobre este sólido fundamento, pelo bem de seu povo e para benefício dos cristãos de todos os lugares», acrescenta o Papa. 

«Por ocasião de sua entronização, desejo portanto renovar-lhe minha estima e minha proximidade espiritual. Rezo para que o Pai celestial lhe conceda a abundância dos dons do Espírito Santo em seu ministério, que lhe capacitem para guiar a Igreja na paz e no amor de Cristo», conclui a mensagem.

top


Papa: necessidade de «nova síntese entre capital e trabalho»

A atual crise econômica e social é «uma oportunidade que a Igreja deve aproveitar»

Por Inma Álvarez

CIDADE DO VATICANO, segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009 (ZENIT.org).- A crise econômica exige encontrar uma nova relação entre capital e trabalho, considera Bento XVI, que afirma também que a conjuntura interpela também à Igreja.

«O grande desafio e oportunidade, que a preocupante crise econômica do momento convida a saber aproveitar, consiste em encontrar uma nova síntese entre bem comum e mercado, entre capital e trabalho», afirmou o Papa ao receber no sábado passado os membros da Confederação Italiana Sindical dos Trabalhadores (Confederazione Italiana Sindicati Lavoratori, CISL). 

O pontífice recebeu os dirigentes do sindicato por ocasião do 60º aniversário de sua fundação. A CISL surgiu em 1948 como uma excisão da Confederazione Italiana dei Lavoratori (CIL, fundado em 1918 como resposta à Rerum Novarum de Leão XIII). 

Em seu discurso, Bento XVI afirmou que o mundo do trabalho é «a chave essencial» de toda a questão social, «porque condiciona o desenvolvimento, não só econômico, mas também cultural e moral, das pessoas, das famílias, das comunidades e da humanidade inteira».  

Citando João Paulo II, o Papa sublinhou que a Igreja «nunca deixou de considerar o problema do trabalho dentro de uma questão social que foi assumindo progressivamente dimensões mundiais». 

A crise econômica e social atual «está afetando especialmente o mundo do trabalho» e requer «um esforço livre e responsável por parte de todos; ou seja, é necessário superar os interesses particulares e de setor, para enfrentar as dificuldades juntos e unidos». 

«Nunca como hoje se advertiu uma urgência semelhante», constatou. 

Diante da atual crise, acrescentou o Papa, é necessário realizar um «apelo à solidariedade e à responsabilidade de todos», assim como trabalhar juntos. «As dificuldades que o mundo do trabalho atravessa impulsionam a uma organização específica e mais compacta entre todos os componentes da sociedade», acrescentou. 

Neste sentido, insistiu no importante papel que devem desempenhar os sindicatos na hora de encontrar esta nova relação entre capital e trabalho, até o ponto de considerá-los «um elemento indispensável da vida social, especialmente nas modernas sociedades industrializadas». 

«Desejo, portanto, que da atual crise mundial brote a vontade comum de dar vida a uma nova cultural da solidariedade e da participação responsável, condições indispensáveis para construirmos juntos o futuro do nosso planeta», acrescentou. 

Sindicato para o trabalhador

O repassar a história da CISL, o Papa destacou o empenho histórico deste sindicato em «fundar sua atuação nos princípios da doutrina social da Igreja e na prática de um sindicalismo livre e autônomo de facções políticas e de partidos». 

«No pleno respeito da legítima autonomia de toda instituição, a Igreja, especialista em humanidade, não se cansa de oferecer a contribuição de seu ensinamento e de sua experiência àqueles que pretendem servir a causa do homem, do trabalho e do progresso, da justiça social e da paz», acrescentou. 

O Papa convidou os sindicalistas a renovarem «o entusiasmo do início e redescobrir ainda mais vosso carisma original». 

«O mundo precisa de pessoas que se dediquem com desinteresse à causa do trabalho no respeito pleno à dignidade humana e do bem comum. A Igreja, que valoriza o papel fundamental dos sindicatos, está próxima de vós hoje como ontem, e está disposta a ajudar-vos, para que possais cumprir da melhor forma possível vosso dever na sociedade», afirmou.

top


Cardeal Bertone visitará Igreja e expoentes políticos na Espanha

Entre a quarta e a quinta-feira desta semana

CIDADE DO VATICANO, segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009 (ZENIT.org).- Encontros com os representantes políticos da Espanha, em particular com o primeiro ministro, José Luis Rodríguez Zapatero, e o aprofundamento nos direitos humanos caracterizam a visita que realizará o cardeal Tarcisio Bertone à Espanha.

O secretário de Estado de Bento XVI visitará Madri entre quarta-feira e quinta-feira, em sua 11ª viagem internacional neste cargo, a segunda de 2009, após a visita ao México. 

Segundo confirma L'Osservatore Romano, o purpurado programou vários encontros na manhã de 4 de fevereiro com o ministro de Assuntos Exteriores e Cooperação, Miguel Angel Moratinos; com a vice-presidente do governo, Maria Teresa de la Vega; e com o presidente do governo, Rodríguez Zapatero. 

Às 13h está previsto um almoço com o rei Juan Carlos, em presença do príncipe herdeiro, Felipe, do presidente do governo e do ministro de Assuntos Exteriores. 

À tarde, o cardeal Bertone terá um encontro com Mariano Rajoy, presidente do Partido Popular e líder da oposição. 

Dedicará a jornada da quinta-feira à Igreja na Espanha, que o convidou a dar uma conferência por ocasião do 60º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Ele dará a palestra ao meio-dia, na sede da Conferência Episcopal, com o título «Os direitos humanos no magistério de Bento XVI». 

Depois, o cardeal almoçará com os bispos espanhóis na sede da nunciatura apostólica.

top


Mundo

Santa Sé inicia informe sobre freiras nos Estados Unidos

«O objetivo é reforçar e animar as comunidades», afirma a visitadora encarregada

CIDADE DO VATICANO, segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009 (ZENIT.org).- A congregação vaticana para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica deu início a uma visita apostólica para estudar os institutos religiosos femininos nos Estados Unidos. 

A visita foi promovida pelo prefeito deste dicastério, o cardeal esloveno Franc Rodé, C.M. O decreto, emitido em 22 de dezembro passado, sublinha que o objetivo desta iniciativa é observar a qualidade da vida dos membros destes institutos religiosos. 

A visita estará sob a direção da Madre Mary Clare Millea, A.S.C.J., nomeada visitadora apostólica pelo cardeal Rodé. A Madre Millea, nascida em Connecticut, é a superiora das Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus, um instituto religioso internacional com base em Roma que tem cerca de 1.250 irmãs professas no mundo, das quais 135 estão nos Estados Unidos. A Madre Millea entrou na vida religiosa em 1965 e professou os votos perpétuos em 1973. 

A visita, que recolherá e analisará dados e observações sobre a vida religiosa, se limitará aos institutos apostólicos, que trabalham de forma ativa no serviço à Igreja e à sociedade. As religiosas contemplativas, que têm um estilo de vida diferente, não estão envolvidas no estudo. No final da visita, a Madre Millea emitirá um informe privado ao cardeal Rodé. Ainda que não haja data limite, espera-se que a iniciativa conclua antes de 2011. 

As religiosas católicas se dedicaram nos Estados Unidos a apostolados como o ensino, a assistência à saúde e uma série de serviços pastorais e sociais, já antes de que a nação se fundasse. Segundo o Centro para a Pesquisa Aplicada ao Apostolado (CARA), com base em Washington, nos últimos 40 anos, o número de religiosas norte-americanas diminuiu, enquanto que sua idade não deixa de aumentar. 

«Aceitei muito humildemente e me sinto superada – afirmou a Madre Millea comentando sua nomeação. Eu, que visitei cada comunidade e missão de minha congregação, fico impressionada pelo pensamento de recolher fatos e dados de quase 400 institutos dos Estados Unidos.»

«Rezo por todas as irmãs que estarão envolvidas nesta visita, e confio em suas orações, tanto pelo êxito da iniciativa como pelo meu papel nela – acrescentou. Peço também as orações do clero e dos fiéis americanos.»

«Sei que o objetivo desta visita é animar e reforçar as comunidades apostólicas de religiosas, pela simples razão que estas comunidades são parte integrante da vida da Igreja Católica, nos Estados Unidos e no resto do mundo.»

A Madre Millea afirmou não sentir como uma obrigação a visita a todas as comunidades de religiosas, mas manifestou sua vontade de conhecer melhor as muitas dimensões da vida religiosa feminina, assim como sua belíssima contribuição à Igreja e à sociedade. 

Por ocasião da iniciativa, lançou-se o site www.apostolicvisitation.org, para oferecer informação sobre o projeto. 

top


Em foco

Bispo que negou Holocausto pede desculpas

Carta de Dom Richard Williamson

ROMA, segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009 (ZENIT.org).- Dom Richard Williamson, o bispo tradicionalista que em declarações à televisão negou a verdade histórica da Shoá judaica, pediu perdão a Bento XVI em uma carta. 

Na carta, enviada ao cardeal Darío Castrillón Hoyos em 30 de janeiro, o prelado afirma que «em meio a esta tempestade levantada por comentários imprudentes de minha parte na televisão sueca, rogo-lhe que aceite, com o devido respeito, meus sinceros arrependimentos por ter causado ao senhor mesmo e ao Santo Padre tantos sofrimentos e penas inúteis». 

«Para mim, o que realmente tem importância é a Verdade Encarnada e os interesses de sua única verdadeira Igreja, através da qual, e somente dela, é possível salvar nossas almas e dar glória eterna, em nosso modesto modo, ao Deus Todo-Poderoso», acrescenta. 

Citando uma frase do profeta Jonas (1, 12), afirma: «Tomai-me e lançai-me ao mar e o mar se acalmará em torno de vós, porque eu sei que é por minha causa que esta grande tempestade se levantou contra vós».

O bispo conclui sua carta pedindo ao cardeal que «transmita ao Santo Padre meu sincero agradecimento pessoal pelo documento assinado na quarta-feira passada e divulgado no sábado», com o qual retirou a excomunhão dos quatro bispos. 

Segundo explicou a Santa Sé, retirar a excomunhão não significa estabelecer os bispos nas funções de governo da Igreja. A Conferência Episcopal da Suíça declarou que continuam suspensos de suas funções como bispos (suspensão ad divinis).

top


Conversão é orientar decisivamente ao bem a própria vida

«Não significa aderir a ideias superiores», afirma cardeal Geraldo Agnelo

SALVADOR, segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009 (ZENIT.org).- O arcebispo de Salvador (Brasil), cardeal Geraldo Agnelo, explica que o convite à conversão, a mudar de vida, «se deve à vizinhança do Reino», «em vista da transitoriedade do mundo atual».

«Converter-se não significa aderir a ideias superiores, aceitar sublimes verdades. Significa somente orientar decisivamente ao bem a própria vida», afirma o arcebispo, em artigo enviado hoje a Zenit.

Converter-se significa «fazer que a existência não seja guiada pelo egoísmo, pela paixão, pelo desejo de sobrepor-se e explorar o outro, como acontece normalmente se nos examinamos um pouco a fundo».

«Não se trata somente de mentalidade, de atitude interior, de fazer isso ou aquilo, mas de novo estilo de vida, de novo modo de pôr-se diante de Deus pela fé.»

O cardeal explica que o chamado à conversão se faz porque o Reino está próximo.

«Com a manifestação de Deus em Cristo, a salvação não está mais longe: está revelada, está inserida como princípio de vida na mesma história do homem.»

«Porque o Reino de Deus está próximo, o homem pode converter-se. A conversão é um dom do Reino de Deus tornado vizinho», afirma.

De acordo com o arcebispo, antes do empenho pessoal, «há uma palavra que prende, uma convicção (uma graça) que renova. Deixar-se capturar plenamente por essa palavra significa converter-se».

«A palavra que convida à conversão é sempre uma palavra encarnada, vivida, experimentada por aquele que anuncia», destaca.

O cardeal Agnelo explica que a Igreja tem sentido e tem um futuro, «na medida em que se avizinha ao Cristo, profeta de Deus, na medida em que continua a sua missão».

Uma missão de «anúncio da verdade; de denúncia do mal, isto é de tudo que oprime o homem; de verdadeiro empenho a serviço da libertação e da promoção humana e cristã». 

«Sem preocupações pelas coisas do mundo, mas totalmente com as coisas do Senhor, isso é sem interesses mundanos de poder ou de prestígio, mas completamente comprometida com a palavra - empenho que liberta e salva», afirma o arcebispo.

top


Entrevistas

A figura do Santo Condestável em «Os Lusíadas»

Professor de literatura fala sobre Nuno Álvares Pereira na obra de Camões

Por Alexandre Ribeiro

SÃO PAULO, segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009 (ZENIT.org).- No dia 3 de julho do ano passado, Bento XVI autorizou a Congregação para as Causas dos Santos a promulgar os decretos que reconhecem um milagre e as virtudes heróicas do beato português Nuno Álvares Pereira.

Com isso, abriram-se as portas à canonização do leigo, general e depois professo na Ordem do Carmo, que viveu de 1360 a 1431, e foi beatificado pelo Papa Bento XV em 1918.

Nuno Álvares Pereira, também conhecido como Santo Condestável ou Beato Nuno de Santa Maria, foi o general da célebre Batalha de Aljubarrota, retratada por Camões em Os Lusíadas

Sobre a figura do Condestável em Os Lusíadas, Zenit conversou com o Prof. Dr. Márcio Ricardo Coelho Muniz, Professor Adjunto de Literatura Portuguesa da Universidade Federal da Bahia - UFBA.

–Como D. Nuno Álvares Pereira é retratado em Os Lusíadas?

–Prof. Márcio Muniz: Nuno Álvares Pereira recebe por parte de Camões a consideração dada aos grandes heróis da pátria. Na condição de artífice da vitória na Batalha de Aljubarrota, que impediu a dominação castelhana durante a crise de 1383-1385, o Condestável terá um espaço, em termos de quantidade de estâncias ou oitavas do poema, que poucas personagens terão. Além disso, o poeta concede-lhe a voz narrativa num discurso feito durante a reunião do Conselho Real, em Abrantes, para decidir sobre a batalha, cuja força retórica só se assemelha à fala de outras importantes personagens do poema, como o Velho do Restelo, Inês de Castro e o Gigante Adamastor.

Os adjetivos com que o poeta qualificará a pessoa e as ações do herói também são representativos da deferência que lhe tem Camões. Nuno Álvares Pereira é forte, feroz, leal, verdadeiro, grande, valoroso, entre outros adjetivos que lhes ressaltam as qualidades físicas, morais e éticas. Ou seja, toda a descrição busca qualificá-lo como figura central e responsável não só pela vitória na Batalha de Aljubarrota, mas também pela construção e afirmação da liberdade do reino, governado por um novo rei, alçado ao trono por uma nova dinastia, a de Avis.

–Qual é o papel do Condestável na Batalha de Aljubarrota?

–Prof. Márcio Muniz: O Condestável é o General da Batalha. É ele, inclusive, que força o enfrentamento das hostes castelhanas, infinitamente superiores às portuguesas. Isto fica claríssimo no relato que o poema faz da reunião do Conselho de Abrantes, em sua grande parte, apoiado na Crônica de D. João I, de Fernão Lopes. Neste Conselho, D. João I buscou ouvir as diversas opiniões dos maiores do reino para decidir se enfrentava ou não o enorme exército castelhano.

Devido à superioridade das forças de Castela, a maioria dos conselheiros do monarca português sugeria uma intervenção militar pelo sul, entrando por Badajoz, de modo a obrigar as forças castelhanas a deslocarem-se para o sul, e, do mesmo modo, criando tempo para a negociação diplomática pela paz. Camões descreve esses conselheiros como "covardes", "desleais", e opõe às suas opiniões o longo e forte discurso de Nuno Álvares Pereira pelo enfrentamento imediato.

Decida a batalha, é o Condestável que organiza o combate, a estratégia da guerra, o posicionamento das diversas colunas de ataque e defesa, e é ele também, junto com seus homens, que toma a frente da batalha, enquanto D. João I permanece na retaguarda. Como se vê, a papel do Condestável na Batalha de Aljubarrota é central, tanto em Os Lusíadas, como nas crônicas que tratarão da batalha.

top



ZENIT é uma agência internacional de informação.

Visite nossa página: http://www.zenit.org

Para assinatura / cancelar assinatura visite: http://www.zenit.org/portuguese/subscribe.html

Para presentear ZENIT, sem nenhum custo: http://www.zenit.org/portuguese/presente.html

Para qualquer informação: http://www.zenit.org/portuguese/mensagens.html

* * * * * * * * * * * * * * * *

A reprodução dos serviço de ZENIT necessitam da permissão expressa do editor:
http://www.zenit.org/portuguese/permissao.html

(c) Innovative Media Inc.


Sem comentários:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Postes populares